"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de junho de 2014

CONTINUA A SAFRA DE MAUS INDICADORES ECONÔMICOS

Protecionismo, aposta cega no Mercosul e displicência com a infraestrutura e a produtividade em geral ajudam a explicar dificuldades na indústria

A safra de notícias econômicas está tão incômoda para o governo que a informação menos ruim é que a inflação mensal dá sinais de desaceleração. Mesmo assim, por um efeito estatístico, o índice anualizado se mantém em alta e ultrapassará o teto de 6,5%, estabelecido pela meta de 4,5%. O mais recente índice negativo é o 0,3% de retração da indústria em abril, comparado a março. Se a referência for abril de 2013, a queda atinge 5,8%, o pior resultado desde setembro de 2009, segundo o IBGE.

A maior preocupação do governo é com o setor automobilístico, pelo tamanho e enraizamento na economia. Em abril, sua produção subiu 0,6%, mas havia caído 4,2% em março. Houve, em maio, um crescimento de 1,9%, porém, comparado com maio de 2013, ocorreu uma queda de 18%. A diminuição das importações de máquinas e equipamentos (bens de capital) comprova que a retração contaminou os investimentos — outra má notícia.

Endividamento das famílias, crédito escasso, horizonte nebuloso para as empresas — há várias hipóteses de análise sobre a perda de dinamismo industrial. Só que, desta vez, ao contrário de 2009, o álibi da “crise externa" não pode ser acionado pelo governo. Pois, embora haja situações diversas no continente, existem sinais na Europa de que pelo menos a situação deixou de se degradar, enquanto os Estados Unidos aceleram a recuperação. Há estimativas de crescimento entre 3% e 4% este ano, bem mais que o Brasil, condenado a patinar em torno do 1%.

Se a economia brasileira for olhada pelo ângulo da balança comercial, é possível detectar más apostas do governo Dilma com reflexos no setor industrial.

Esgotado o ciclo de lépido crescimento mundial, China à frente, que levou o Brasil a saldar a dívida externa, fato histórico, vive-se o ciclo oposto — é sempre assim no mundo econômico. Commodities essenciais para as contas externas do Brasil caíram de cotação — soja e minério de ferro, bem mais este último. A Petrobras, mal administrada, passou a importar bastante combustível, e de consumo subsidiado. Outro erro. O resultado é a tendência a déficits no comércio exterior ou pequenos saldos positivos — de janeiro a maio, perdas de US$ 4,8 bilhões. Parte das perdas se deve à queda das exportações de veículos para a Argentina, devido à turbulência econômica do vizinho. Por trás do problema, a opção feita pelo governo de dar prioridade cega ao Mercosul.

Tendências protecionistas de Brasília também impedem que a indústria nacional se interconecte como poderia a cadeias produtivas globais. Isso faria aumentar as importações de componentes, mas também elevaria as vendas externas de manufaturados, de valor agregado mais alto.

Tudo isso, somado à displicência com que os investimentos em infraestrutura e outras iniciativas para o aumento da produtividade no país foram tratados, explica parte da safra de indicadores negativos.

 
10 de junho de 2014
Editorial O Globo

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