Depois de os metroviários terem resolvido manter na sexta-feira a greve no metrô de São Paulo, a empresa acusou o sindicato de "impor mais um dia de sofrimento covarde à população". Mas errou ao chamar a entidade de "irresponsável". Seria, se a paralisação tivesse sido uma decisão de momento, numa assembleia capturada por um punhado de cabeças quentes e vozes ameaçadoras, que acabaria revertida em pouco tempo pelas lideranças sensatas da categoria. A realidade é o oposto disso.
Em primeiro lugar, trata-se de um sindicato presidido por um membro fundador do ultrarradical Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o PSTU. Além disso, o operador de trens Altino de Melo Prazeres Júnior é ligado à CSP-Conlutas, o braço sindical da sigla. No primeiro ato do Movimento Passe Livre contra o aumento das tarifas de ônibus, no ano passado, foi detido sob suspeita de vandalismo. É o típico adepto do "quanto pior, melhor". Isso pode fazer dele o que se queira, menos um irresponsável. O termo tampouco se aplica aos seus lugar-tenentes.
Tanto que não escolheram ao acaso o período em que começaram a pressionar a Companhia do Metropolitano para que cumprisse as suas exigências. O seu movimento é um entre tantos que promovem "a chantagem da Copa", como destacou o Estado em editorial de ontem. O intento é prensar contra a parede o poder público nesses dias de tensão diante do que poderão aprontar os black blocs e congêneres quando a bola começar a rolar, na expectativa de dobrá-lo às suas demandas, sem reprimir os seus clamorosos abusos contra os direitos das maiorias que deles dependem. É uma aposta na impotência da autoridade.
Já não bastassem essas evidências de calculado - portanto, responsável - desafio, salta à vista o escândalo das próprias reivindicações. No país em que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ficou em 5,82% nos 12 meses encerrados em abril último (a data-base dos metroviários), eles começaram pedindo 16,5% de aumento. Não tendo sido a extravagância levada a sério, baixaram o pleito para 12,2%. E rejeitaram, como se fosse esmola, a oferta da companhia que engordaria os contracheques dos seus funcionários a um patamar entre 10,6% e 13,3%, conforme os benefícios incluídos.
Anunciada a greve, a desembargadora Rilma Hemetério, vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), ordenou ao sindicato que mantivesse o metrô funcionando 100% nos horários de pico, no início da manhã e nos fins de tarde, e 70% no resto do tempo. Ela se pautou pelo que estipula a Lei de Greve no caso da paralisação em serviços públicos essenciais. Como fascistas que são, violaram a ordem, sob a alegação de que cumpri-la equivaleria a não fazer greve. "No Brasil, é sabido o déficit de transporte público", argumentou a juíza, em resposta. "Qualquer coisa que diminua isso, no horário de pico, é penalizar a coletividade." Para os grevistas, a coletividade que se lixe.
Por fim, numa cínica tentativa de se mostrar solidários com as suas vítimas, propuseram à companhia, em troca da reabertura das estações, a desativação das catracas. Sabiam perfeitamente bem que nenhum dirigente de empresa, mesmo quando pública, poderia concordar em abrir mão de receita por serviços prestados - que dirá o seu acionista, o Estado. (No caso, a renúncia chegaria a R$ 5 milhões.) A ideia, portanto, era antagonizar o governo paulista com a população, neste ano de Copa e de eleições. Ou, como disse da greve o governador Geraldo Alckmin, é uma "nítida ação política para criar o caos". E para desviar a ira dos paulistanos dos causadores do transtorno para o alvo, afinal, de sua chantagem.
O fato de permanecerem abertas, ontem de manhã, apenas 31 das 61 estações das linhas operadas pelo metrô (ante 37 na quinta-feira) sujeitou a cidade a novo recorde matutino de engarrafamento: 252 km de lentidão. O governo quer a antecipação do julgamento sobre a manifesta ilegalidade da greve. Qualquer que seja a sentença e o desfecho do dissídio, a cidade que se prepare: a central do sindicalista Prazeres já anunciou uma passeata no dia da abertura da Copa, no Itaquerão. O "protesto" sairá da sede dos metroviários, no Tatuapé.
Em primeiro lugar, trata-se de um sindicato presidido por um membro fundador do ultrarradical Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o PSTU. Além disso, o operador de trens Altino de Melo Prazeres Júnior é ligado à CSP-Conlutas, o braço sindical da sigla. No primeiro ato do Movimento Passe Livre contra o aumento das tarifas de ônibus, no ano passado, foi detido sob suspeita de vandalismo. É o típico adepto do "quanto pior, melhor". Isso pode fazer dele o que se queira, menos um irresponsável. O termo tampouco se aplica aos seus lugar-tenentes.
Tanto que não escolheram ao acaso o período em que começaram a pressionar a Companhia do Metropolitano para que cumprisse as suas exigências. O seu movimento é um entre tantos que promovem "a chantagem da Copa", como destacou o Estado em editorial de ontem. O intento é prensar contra a parede o poder público nesses dias de tensão diante do que poderão aprontar os black blocs e congêneres quando a bola começar a rolar, na expectativa de dobrá-lo às suas demandas, sem reprimir os seus clamorosos abusos contra os direitos das maiorias que deles dependem. É uma aposta na impotência da autoridade.
Já não bastassem essas evidências de calculado - portanto, responsável - desafio, salta à vista o escândalo das próprias reivindicações. No país em que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ficou em 5,82% nos 12 meses encerrados em abril último (a data-base dos metroviários), eles começaram pedindo 16,5% de aumento. Não tendo sido a extravagância levada a sério, baixaram o pleito para 12,2%. E rejeitaram, como se fosse esmola, a oferta da companhia que engordaria os contracheques dos seus funcionários a um patamar entre 10,6% e 13,3%, conforme os benefícios incluídos.
Anunciada a greve, a desembargadora Rilma Hemetério, vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), ordenou ao sindicato que mantivesse o metrô funcionando 100% nos horários de pico, no início da manhã e nos fins de tarde, e 70% no resto do tempo. Ela se pautou pelo que estipula a Lei de Greve no caso da paralisação em serviços públicos essenciais. Como fascistas que são, violaram a ordem, sob a alegação de que cumpri-la equivaleria a não fazer greve. "No Brasil, é sabido o déficit de transporte público", argumentou a juíza, em resposta. "Qualquer coisa que diminua isso, no horário de pico, é penalizar a coletividade." Para os grevistas, a coletividade que se lixe.
Por fim, numa cínica tentativa de se mostrar solidários com as suas vítimas, propuseram à companhia, em troca da reabertura das estações, a desativação das catracas. Sabiam perfeitamente bem que nenhum dirigente de empresa, mesmo quando pública, poderia concordar em abrir mão de receita por serviços prestados - que dirá o seu acionista, o Estado. (No caso, a renúncia chegaria a R$ 5 milhões.) A ideia, portanto, era antagonizar o governo paulista com a população, neste ano de Copa e de eleições. Ou, como disse da greve o governador Geraldo Alckmin, é uma "nítida ação política para criar o caos". E para desviar a ira dos paulistanos dos causadores do transtorno para o alvo, afinal, de sua chantagem.
O fato de permanecerem abertas, ontem de manhã, apenas 31 das 61 estações das linhas operadas pelo metrô (ante 37 na quinta-feira) sujeitou a cidade a novo recorde matutino de engarrafamento: 252 km de lentidão. O governo quer a antecipação do julgamento sobre a manifesta ilegalidade da greve. Qualquer que seja a sentença e o desfecho do dissídio, a cidade que se prepare: a central do sindicalista Prazeres já anunciou uma passeata no dia da abertura da Copa, no Itaquerão. O "protesto" sairá da sede dos metroviários, no Tatuapé.
10 de junho de 2014
Editorial O Estadão
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