A coluna de hoje fala sobre política monetária em dois lados do Atlântico, aqui e na Europa.
Ontem, na Ata do Copom, o Banco Central do Brasil não chegou a explicar por que manteve os juros básicos (Selic) a 11,0% ao ano. No comunicado emitido logo após a reunião do dia 28 de abril, avisara que os juros permaneceram os mesmos "neste momento", deixando, assim, a porta aberta para mudanças, tanto em uma direção quanto em outra. A ata não sustenta essa mensagem. Passa o recado de que os juros ficarão por aí por um bom tempo, até que o aperto monetário decidido anteriormente produza pleno efeito, supondo-se que leva entre seis e nove meses para isso.
A queda da atividade econômica (avanço fraco do PIB no primeiro trimestre e perspectiva de queda no segundo) parece ter causado profunda impressão no Banco Central, a ponto de levá-lo a mostrar mais firmeza.
Alguém poderia estranhar que o Copom deixou de olhar só para a meta de inflação e passou a trabalhar também para reativar a economia. É uma leitura equivocada. A paradeira da economia é fator que, por si só, poderá desacelerar a remarcação dos preços e, portanto, segurar a inflação. Isso não significa que a inflação em 12 meses não vá mais saltar para acima dos 6,5% ao ano neste e nos próximos dois ou três meses, como se espera. Significa apenas que a alta pode ser contida em alguma proporção que ainda se vai ver.
No mais, o Banco Central avisa que apenas espera que os efeitos do ciclo de aperto monetário dos últimos 13 meses ainda serão transferidos para a economia. A conferir.
A novidade vem do cão de guarda do euro. Além de derrubar os juros básicos de 0,25% para 0,15% ao ano, o Banco Central Europeu (BCE), presidido pelo italiano Mario Draghi (foto), optou pela prática de juros negativos, inédita em grandes bancos centrais.
Na faixa correspondente aos depósitos que os bancos deixam no BCE, os juros serão de -0,10% (menos 0,10 por cento) ao ano. Ou seja, nesses depósitos, em vez de receber, o banco depositante pagará juros. E ainda terá de enfrentar a desvalorização causada pela inflação. A exigência funciona como a cobrança de um imposto.
O objetivo é levar os bancos a emprestar dinheiro ao mercado e, com isso, ajudar a reativar a economia que por lá está mais parando do que até mesmo andando devagar. As decisões de ontem equivalem a um despejo de 400 bilhões de euros na economia do bloco.
Este é o último passo antes da opção ainda mais radical, que é a de injetar centenas de bilhões de euros por meio da recompra de títulos, operação conhecida como afrouxamento monetário quantitativo, semelhante à que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) começa a reduzir.
Se vai ou não levar a economia europeia e o emprego a engatarem a segunda marcha é coisa que ainda vai se ver. Esse despejo de euros no mercado tende a aumentar as disponibilidades de recursos também para o Brasil.
Ontem, na Ata do Copom, o Banco Central do Brasil não chegou a explicar por que manteve os juros básicos (Selic) a 11,0% ao ano. No comunicado emitido logo após a reunião do dia 28 de abril, avisara que os juros permaneceram os mesmos "neste momento", deixando, assim, a porta aberta para mudanças, tanto em uma direção quanto em outra. A ata não sustenta essa mensagem. Passa o recado de que os juros ficarão por aí por um bom tempo, até que o aperto monetário decidido anteriormente produza pleno efeito, supondo-se que leva entre seis e nove meses para isso.
A queda da atividade econômica (avanço fraco do PIB no primeiro trimestre e perspectiva de queda no segundo) parece ter causado profunda impressão no Banco Central, a ponto de levá-lo a mostrar mais firmeza.
Alguém poderia estranhar que o Copom deixou de olhar só para a meta de inflação e passou a trabalhar também para reativar a economia. É uma leitura equivocada. A paradeira da economia é fator que, por si só, poderá desacelerar a remarcação dos preços e, portanto, segurar a inflação. Isso não significa que a inflação em 12 meses não vá mais saltar para acima dos 6,5% ao ano neste e nos próximos dois ou três meses, como se espera. Significa apenas que a alta pode ser contida em alguma proporção que ainda se vai ver.
No mais, o Banco Central avisa que apenas espera que os efeitos do ciclo de aperto monetário dos últimos 13 meses ainda serão transferidos para a economia. A conferir.
A novidade vem do cão de guarda do euro. Além de derrubar os juros básicos de 0,25% para 0,15% ao ano, o Banco Central Europeu (BCE), presidido pelo italiano Mario Draghi (foto), optou pela prática de juros negativos, inédita em grandes bancos centrais.
Na faixa correspondente aos depósitos que os bancos deixam no BCE, os juros serão de -0,10% (menos 0,10 por cento) ao ano. Ou seja, nesses depósitos, em vez de receber, o banco depositante pagará juros. E ainda terá de enfrentar a desvalorização causada pela inflação. A exigência funciona como a cobrança de um imposto.
O objetivo é levar os bancos a emprestar dinheiro ao mercado e, com isso, ajudar a reativar a economia que por lá está mais parando do que até mesmo andando devagar. As decisões de ontem equivalem a um despejo de 400 bilhões de euros na economia do bloco.
Este é o último passo antes da opção ainda mais radical, que é a de injetar centenas de bilhões de euros por meio da recompra de títulos, operação conhecida como afrouxamento monetário quantitativo, semelhante à que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) começa a reduzir.
Se vai ou não levar a economia europeia e o emprego a engatarem a segunda marcha é coisa que ainda vai se ver. Esse despejo de euros no mercado tende a aumentar as disponibilidades de recursos também para o Brasil.
10 de junho de 2014
Celso Ming, O Estadão
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