"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de junho de 2014

ESPELHO ELEITORAL

Atual estágio da campanha presidencial traz recordes de indiferença popular, como evidencia resultado de recente pesquisa Datafolha

Caem todos. Resume-se assim, com certa crueza, o resultado do último levantamento do Datafolha sobre os candidatos a presidente.

Verdade que, numa análise mais detida, a oscilação de Aécio Neves (PSDB), de 20% para 19%, pode não passar de desvio dentro da margem de erro estatística.

Não foi o principal candidato oposicionista, de todo modo, quem se beneficiou do declínio de seus rivais. Este foi significativo no caso de Eduardo Campos (PSB), que interrompe a tímida trajetória positiva que o levara a 11% em maio para aterrissar em 7% na pesquisa publicada nesta sexta-feira (6).

Quanto à presidente Dilma Rousseff (PT), com 34% das intenções de voto (eram 44% em fevereiro), reafirmam-se os prognósticos de que sua eventual reeleição terá de passar pela barreira do segundo turno.

A micrografia dessas variações importa menos, todavia, do que a constatação inicial. Todos caem.

Nunca foi tão alto o percentual dos que, nesse período de eleições anteriores, declaravam não ter candidato. No atual levantamento, 13% dos entrevistados estão indecisos, e 17% falam em anular o voto, ou deixá-lo em branco.

Talvez possa ser atribuído algum peso estatístico ao fato de que, pela primeira vez desde a redemocratização, nenhum político com base eleitoral no Estado de São Paulo dispute a Presidência.

Diminui, sem dúvida, o fenômeno que beneficiou, em outros tempos, os nomes de José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Lula no maior colégio de votantes do país --e que mantém, na sucessão estadual, invariável o favoritismo de Geraldo Alckmin (PSDB).

A importância do horário eleitoral gratuito se acentua, portanto, dado o relativo desconhecimento que ainda recobre os candidatos de oposição nesta disputa.

É mais sedutora, entretanto, a hipótese de que nenhum postulante à Presidência tem conseguido, pelo histórico pessoal ou pela intervenção no debate público, refletir as tensões, as esperanças, as demandas políticas da sociedade.

Raras vezes estas aparentaram ser tão divididas, ao menos nos grandes centros urbanos.

Movimentações sociais exacerbadas, à esquerda, contrastam com uma nem sempre silenciosa expectativa conservadora de repressão policial. Que não se limita, ressalte-se, à necessária contenção dos excessos em manifestações de rua, mas extravasa para velhos temas como pena de morte, diminuição da maioridade penal e defesa da truculência pública ou privada.

Enquanto as tensões sociais se acentuam, às vésperas da Copa do Mundo, os candidatos parecem transitar num mundo à parte, entre "selfies", platitudes, ufanismos e jatinhos. Sua aparente indiferença pelo mundo real encontra seu reflexo na pouca atenção que parcela do eleitorado lhes dedica.


10 de junho de 2014
Editorial Folha de SP

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