O que poderia fazer a presidente que não tenha conseguido operar em condições mais favoráveis?
Jornalistas estrangeiros perguntaram à presidente Dilma Rousseff por que a economia cresce tão pouco. Ela disse não saber. Foi sincera. Não sabe mesmo. Como não tem o diagnóstico, falta-lhe o prognóstico. Entre o passado, que ela ignora, e o futuro, que ela não antevê, há este enorme presente à espera de medidas corretivas e profiláticas. Ocorre que seu governo é como seu discurso: um caos de fragmentos de ideias nem sempre muito claras, (des)ordenadas por locuções fora do lugar "no que se refere" (sic) ao que tem de ser feito. Ninguém entende nada, a começar da própria Dilma.
Dia desses, o ex-presidente Lula julgou ter encontrado a razão do "malaise". Os empresários, de mau humor, teriam deixado de investir. É mesmo? É próprio das cabeças autoritárias --e esse é o caso do Babalorixá de Banânia-- transformar dificuldades que são objetivas, que são técnicas, que têm origem em decisões equivocadas, em mera indisposição subjetiva. Há quanto tempo estão dados os sinais de que o crescimento da economia, ancorado no consumo interno, havia esgotado o seu ciclo? Assim como teve início em razão de circunstâncias que não eram do nosso controle, expirou por motivos igualmente alheios à nossa vontade. E lá ficou Guido Mantega a fazer previsões de crescimento --coitado!--, inicialmente, com margem de erro de dois pontos. Como a situação se deteriorou, ela já está em três...
Dilma pleiteia mais quatro anos, e eu fico cá a me perguntar --e espero, sim, que esta dúvida se alastre: pra quê? Com que amanhãs sorridentes ela vai acenar, que não tenha podido oferecer nesse tempo em que esteve à frente do governo, liderando uma base parlamentar que, no Ocidente, só deve ser menor do que a de Cuba? Qualquer analista razoável sabe que as circunstâncias vindouras são ainda piores dos que as do passado recente. O que poderia fazer a presidente, num cenário ainda mais inóspito, que não tenha conseguido operar em condições mais favoráveis? A resposta é um conjunto vazio.
Mais do que a indignação estridente dos grupelhos de extrema esquerda que estão nas ruas --estes só contribuem para turvar a visão da presidente--, Dilma tem de temer é o silêncio meio melancólico, mas não menos indignado, do homem comum, daquele que não tem uma agenda ideológica e que não pretende reformar a humanidade desde o fim. Contentar-se-ia com uma escola melhor, com uma saúde melhor, com um emprego melhor, com um salário melhor, com uma vida mais previsível. Eu sei, Dilma sabe e sabem os economistas e especialistas que os "gastos com a Copa", se investidos em saúde e educação, seriam de uma danada irrelevância. A conta é falsa, mas o problema para o qual aponta essa não solução é verdadeiro.
De 2002 para cá, o cenário de agora é o mais adverso enfrentado pelos petistas. As migalhas compensatórias já não têm a mesma força de antes para sustentar um projeto de poder. Parece haver no país uma ambição um pouco maior do que a da pobreza agradecida, que reverencia o nhonhô. Está certo o tucano Aécio Neves quando propõe que os programas sociais, ditos de "transferência de renda", passem à condição de políticas de Estado. De resto, eles devem ser apenas o começo da conversa, não o fim. É preciso acabar com a prática nefasta de chantagear os pobres.
A campanha que o PT levou à TV indica que, sem diagnóstico nem prognóstico, restou apenas o terrorismo eleitoral. Dilma pretende que o medo desinformado vença não a esperança, mas as possibilidades de mudança. Pior: sem conseguir entusiasmar nem a sua própria grei, cede a apelos "esquerdopatas" como "controle social da mídia" e criação da sociedade civil por decreto, evidenciando que, sob pressão, pode, sim, voltar à sua natureza. Mais quatro anos pra quê?
Jornalistas estrangeiros perguntaram à presidente Dilma Rousseff por que a economia cresce tão pouco. Ela disse não saber. Foi sincera. Não sabe mesmo. Como não tem o diagnóstico, falta-lhe o prognóstico. Entre o passado, que ela ignora, e o futuro, que ela não antevê, há este enorme presente à espera de medidas corretivas e profiláticas. Ocorre que seu governo é como seu discurso: um caos de fragmentos de ideias nem sempre muito claras, (des)ordenadas por locuções fora do lugar "no que se refere" (sic) ao que tem de ser feito. Ninguém entende nada, a começar da própria Dilma.
Dia desses, o ex-presidente Lula julgou ter encontrado a razão do "malaise". Os empresários, de mau humor, teriam deixado de investir. É mesmo? É próprio das cabeças autoritárias --e esse é o caso do Babalorixá de Banânia-- transformar dificuldades que são objetivas, que são técnicas, que têm origem em decisões equivocadas, em mera indisposição subjetiva. Há quanto tempo estão dados os sinais de que o crescimento da economia, ancorado no consumo interno, havia esgotado o seu ciclo? Assim como teve início em razão de circunstâncias que não eram do nosso controle, expirou por motivos igualmente alheios à nossa vontade. E lá ficou Guido Mantega a fazer previsões de crescimento --coitado!--, inicialmente, com margem de erro de dois pontos. Como a situação se deteriorou, ela já está em três...
Dilma pleiteia mais quatro anos, e eu fico cá a me perguntar --e espero, sim, que esta dúvida se alastre: pra quê? Com que amanhãs sorridentes ela vai acenar, que não tenha podido oferecer nesse tempo em que esteve à frente do governo, liderando uma base parlamentar que, no Ocidente, só deve ser menor do que a de Cuba? Qualquer analista razoável sabe que as circunstâncias vindouras são ainda piores dos que as do passado recente. O que poderia fazer a presidente, num cenário ainda mais inóspito, que não tenha conseguido operar em condições mais favoráveis? A resposta é um conjunto vazio.
Mais do que a indignação estridente dos grupelhos de extrema esquerda que estão nas ruas --estes só contribuem para turvar a visão da presidente--, Dilma tem de temer é o silêncio meio melancólico, mas não menos indignado, do homem comum, daquele que não tem uma agenda ideológica e que não pretende reformar a humanidade desde o fim. Contentar-se-ia com uma escola melhor, com uma saúde melhor, com um emprego melhor, com um salário melhor, com uma vida mais previsível. Eu sei, Dilma sabe e sabem os economistas e especialistas que os "gastos com a Copa", se investidos em saúde e educação, seriam de uma danada irrelevância. A conta é falsa, mas o problema para o qual aponta essa não solução é verdadeiro.
De 2002 para cá, o cenário de agora é o mais adverso enfrentado pelos petistas. As migalhas compensatórias já não têm a mesma força de antes para sustentar um projeto de poder. Parece haver no país uma ambição um pouco maior do que a da pobreza agradecida, que reverencia o nhonhô. Está certo o tucano Aécio Neves quando propõe que os programas sociais, ditos de "transferência de renda", passem à condição de políticas de Estado. De resto, eles devem ser apenas o começo da conversa, não o fim. É preciso acabar com a prática nefasta de chantagear os pobres.
A campanha que o PT levou à TV indica que, sem diagnóstico nem prognóstico, restou apenas o terrorismo eleitoral. Dilma pretende que o medo desinformado vença não a esperança, mas as possibilidades de mudança. Pior: sem conseguir entusiasmar nem a sua própria grei, cede a apelos "esquerdopatas" como "controle social da mídia" e criação da sociedade civil por decreto, evidenciando que, sob pressão, pode, sim, voltar à sua natureza. Mais quatro anos pra quê?
10 de junho de 2014
Reinaldo Azevedo, Folha de SP
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