"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de junho de 2014

COM INFLAÇÃO NÃO SE BRINCA


Para quem pretende minimizar o impacto dos dados ruins produzidos pelos indicadores da conjuntura econômica, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve oferecer hoje um refresco. A inflação de maio, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve ter ficado em torno de 0,40%, conforme a maioria dos analistas. Não é pouco, mas é bem menos do que o índice de abril: 0,67%.
Mas ninguém deve se enganar, como fez o governo em boa parte do atual mandato presidencial. Não existe inflação boa. Mesmo sendo mais baixo do que o do mês anterior, o índice de maio vai empurrar o acumulado do ano para o teto de 6,5%, aumentando, portanto, a distância em relação ao centro da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%.

Esses números, acompanhados com lupa grossa pelos agentes do mercado financeiro, têm a sua versão popular nas bancas da feira e do supermercado. Qualquer um percebe logo que os preços da batata, do feijão e da carne, depois de terem subido por causa da entressafra, andam se recusando a voltar ao que eram no ano passado e, pior ainda, estão muito longe de dois ou três anos atrás. Esses são produtos de grande visibilidade popular, já que pesam no orçamento das famílias, mais ainda nas de menor renda.

Mas não são os únicos a incomodar. A soma de várias pequenas mordidas no poder de compra dos salários só não é pior do que a desconfiança de que o governo não está cuidando seriamente do problema. Nesse ponto, tudo fica mais difícil. Pois o que grassa por todos os cantos é a redução da disposição para o consumo e, na sequência, a retração dos investimentos na produção.

Depois das manifestações de rua de junho de 2013, o governo nem precisava de mais clareza quanto ao nível de insatisfação dos brasileiros nem quanto ao que anda causando tanta decepção com o cenário de maravilhas que vinha sendo vendido pelo marketing oficial. Mas a última pesquisa do respeitado Pew Research Center, dos Estados Unidos, realizada entre 10 e 30 de abril, revelou que o percentual de insatisfeitos com a situação do país passou de 49%, em 2010, para 72%, em 2014.

E, confirmando que com a inflação não se brinca, a corrida dos preços foi classificada como a principal preocupação por 85% dos entrevistados. Superou até mesmo a gravíssima situação da criminalidade e da saúde no Brasil. Nesse ambiente, é querer demais que os empresários coloquem capital para correr riscos, sem que percebam sinais seguros de mudanças à frente.

É certo que, desde abril do ano passado, o Banco Central retomou a política monetária menos frouxa, elevando a taxa básica de juros de 7,25% para os atuais 11% ao ano. Esse esforço começa a fazer efeito. Mas o preço pela demora em começar essa retomada é a lentidão com que a inflação vem cedendo e a capacidade de contaminação que isso tem sobre a atividade econômica em geral e - aí está perigo para os políticos - até mesmo sobre a avaliação que as pessoas fazem do governo. É uma lição para os próximos mandatários.

10 de junho de 2014
Editorial Correio Braziliense

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