Clima nas ruas fica mais divisivo e impolítico e há desânimo com alternativas políticas
"QUEREMOS TRABALHAR", gritavam pessoas que quebraram portões e invadiram a estação de trem e metrô Corinthians-Itaquera, fechada ontem pela greve dos metroviários de São Paulo.
O clima nas ruas fica mais e mais divisivo desde o fim do ano passado, se não mesmo mais sombrio, uma desagregação que é impolítica (sem política e incivil), embora tenha efeitos políticos, claro, e talvez até derivações abertamente partidárias. Paulo da Força Sindical, adepto de Aécio Neves (PSDB), prometia ontem parar São Paulo com um protesto sindical contra o governo de Dilma Rousseff (PT).
A irritação das pessoas sem trem não é lá grande novidade. Em cada greve nos transportes públicos, é notório que a massa das pessoas se vira como pode para chegar ao trabalho, quando não àquela consulta marcada faz meses num serviço público de saúde. A vida da massa das pessoas é muito precária, bidu. A perda do emprego ou mesmo da consulta chorada pode resultar em desastres pessoais.
Ainda assim, em muita entrevista de passageiros irados, a gente percebe alguma solidariedade com grevistas, que podem de resto ser parentes, amigos ou vizinhos de quem ficou sem ônibus ou trem. Algo na linha, "entendo o direito deles", mas isso "prejudica os pequenos, não os grandes".
Mas, segundo pesquisas, a tolerância caiu bem, dada a agressividade da greve mais recente de motoristas e cobradores de ônibus, sem aviso, que teve trancamentos de ruas e violências mais diretas.
A greve dos metroviários decidida na noite de quarta, surpreendeu gente que voltava para casa no começo da madrugada de quinta e quem acorda muito cedo e não passa a vida "conectado" a mídias.
Aparentemente, a julgar por pesquisas e pela adesão às manifestações, violências diversas aos poucos envolveram os protestos de rua num clima mais sinistro, ao menos desde as depredações que se seguiram ao refluxo da massa na rua no final de 2013.
A morte do cinegrafista Santiago Andrade, em fevereiro, saques e medo por ocasião da greve da polícia em Recife e os tumultos agressivos das greves de ônibus em dezenas de cidades contribuíram para degradar o clima e a boa vontade do cidadão médio com manifestações de rua.
Além do mais, faz quase dois meses o protesto é dominado por trabalhadores de serviços públicos em greve: professores municipais, estaduais e até federais, rodoviários, metroviários, partes minoritárias do serviço federal (no IBGE, por exemplo) etc. Como é óbvio, o efeito imediato da greve deixa a vida especialmente mais difícil para a maioria mais pobre.
Ainda resta saber o destino dos até agora minguados protestos "contra a Copa" e da tática de movimentos como os sem-teto. Mas há um clima propício a reivindicações de "ordem" e a disseminação de um desânimo que, não sendo de origem propriamente econômica, tem acelerado a baixa da atividade econômica.
Sim, já aconteceu no Brasil democrático de climas ruins em situações socioeconômicas piores se dissiparem em questão de semanas. No entanto, havia então alguma expectativa de mudança, política ou não. Agora, parece haver por ora apenas desencanto.
"QUEREMOS TRABALHAR", gritavam pessoas que quebraram portões e invadiram a estação de trem e metrô Corinthians-Itaquera, fechada ontem pela greve dos metroviários de São Paulo.
O clima nas ruas fica mais e mais divisivo desde o fim do ano passado, se não mesmo mais sombrio, uma desagregação que é impolítica (sem política e incivil), embora tenha efeitos políticos, claro, e talvez até derivações abertamente partidárias. Paulo da Força Sindical, adepto de Aécio Neves (PSDB), prometia ontem parar São Paulo com um protesto sindical contra o governo de Dilma Rousseff (PT).
A irritação das pessoas sem trem não é lá grande novidade. Em cada greve nos transportes públicos, é notório que a massa das pessoas se vira como pode para chegar ao trabalho, quando não àquela consulta marcada faz meses num serviço público de saúde. A vida da massa das pessoas é muito precária, bidu. A perda do emprego ou mesmo da consulta chorada pode resultar em desastres pessoais.
Ainda assim, em muita entrevista de passageiros irados, a gente percebe alguma solidariedade com grevistas, que podem de resto ser parentes, amigos ou vizinhos de quem ficou sem ônibus ou trem. Algo na linha, "entendo o direito deles", mas isso "prejudica os pequenos, não os grandes".
Mas, segundo pesquisas, a tolerância caiu bem, dada a agressividade da greve mais recente de motoristas e cobradores de ônibus, sem aviso, que teve trancamentos de ruas e violências mais diretas.
A greve dos metroviários decidida na noite de quarta, surpreendeu gente que voltava para casa no começo da madrugada de quinta e quem acorda muito cedo e não passa a vida "conectado" a mídias.
Aparentemente, a julgar por pesquisas e pela adesão às manifestações, violências diversas aos poucos envolveram os protestos de rua num clima mais sinistro, ao menos desde as depredações que se seguiram ao refluxo da massa na rua no final de 2013.
A morte do cinegrafista Santiago Andrade, em fevereiro, saques e medo por ocasião da greve da polícia em Recife e os tumultos agressivos das greves de ônibus em dezenas de cidades contribuíram para degradar o clima e a boa vontade do cidadão médio com manifestações de rua.
Além do mais, faz quase dois meses o protesto é dominado por trabalhadores de serviços públicos em greve: professores municipais, estaduais e até federais, rodoviários, metroviários, partes minoritárias do serviço federal (no IBGE, por exemplo) etc. Como é óbvio, o efeito imediato da greve deixa a vida especialmente mais difícil para a maioria mais pobre.
Ainda resta saber o destino dos até agora minguados protestos "contra a Copa" e da tática de movimentos como os sem-teto. Mas há um clima propício a reivindicações de "ordem" e a disseminação de um desânimo que, não sendo de origem propriamente econômica, tem acelerado a baixa da atividade econômica.
Sim, já aconteceu no Brasil democrático de climas ruins em situações socioeconômicas piores se dissiparem em questão de semanas. No entanto, havia então alguma expectativa de mudança, política ou não. Agora, parece haver por ora apenas desencanto.
10 de junho de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário