"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de junho de 2014

QUE FASE!

Não é a oposição que avança, é o governo que está derrotando a si mesmo

A cada nova pesquisa, ninguém mais tem dúvidas de que a grande maioria da população está insatisfeita com a vida no país e, na mesma proporção, descontente com a economia e preocupada com a inflação. Os números não mentem, a discussão possível é sobre as responsabilidades por esta situação e sobre o que deu errado. E o que fazer para corrigir os rumos e reduzir os danos.

Quando Lula aconselha Dilma a culpar a crise internacional pelos nossos números, a coisa está mesmo feia. Na América Latina, o Brasil só cresceu mais e teve menor inflação do que Argentina e Venezuela.

O sentido mais sensível do eleitor não é a visão, a audição, o tato ou o faro, mas o bolso. Em qualquer democracia, quando a grande maioria da população está insatisfeita — e há três anos a mesma maioria estava satisfeita —, dificilmente o governo consegue ser reeleito. Jimmy Carter e Bush pai foram derrotados pela economia.

Aqui, não é a oposição que avança, é o governo que está derrotando a si mesmo. Ao contrário de 2010, João Santana vai ter que remar contra a corrente, com vento de proa.

Vão dizer que faltaram comunicação e divulgação dos feitos do governo: as pessoas estão vivendo melhor, mas não sabem disso — é preciso informá-las e convencê-las. Apesar dos três anos de propaganda massiva do governo na televisão, incluindo as grandes estatais, que, como no governo Garrastazu Médici, vendem a crença do Brasil Grande.

Hoje, 20 milhões de famílias, 28% delas da classe C, têm TV por assinatura e estarão livres do horário eleitoral. As vantagens no tempo da propaganda partidária, que custaram o loteamento do governo, só valerão para a TV aberta.

Sim, as eleições são decididas mais pela emoção do que pela razão, mas como convencer um eleitor que a sua vida está melhorando se ele está sentindo piorar? Talvez o ameaçando com um novo governo que pode piorar ainda mais as coisas, na esperança que o medo vença a razão.

Mas a pior ameaça de volta ao passado é ter o PT na oposição, sabotando todas as ações de um eventual governo adversário, como fez com o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

 
10 de junho de 2014
Nelson Motta, O Estadão

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