Artigos - Globalismo
Há uma tendência, especialmente nos dias de hoje, em reduzir toda a análise política a uma fórmula ideológica e julgar tudo de acordo com essa mesma fórmula. Tal reducionismo é usualmente errôneo – e até mesmo perigoso – quando aplicado em um mundo complicado como este. Evidentemente é muito mais fácil simplificar tudo em nome da compreensibilidade, mas o mundo não se tornará mais simples se recorrermos ao reducionismo ideológico. Quem se tornará mais simples seremos nós – ao ponto de tornarmo-nos estúpidos.
Muitos recorrem ao reducionismo ideológico por estarem distraídos ou por não terem tempo para estudos políticos ou históricos, e então eles adotam um modelo ideológico pronto. Isso possibilita a eles categorizar imediatamente todos os fenômenos políticos em duas categorias:
(1) aqueles que concordam com aquele modelo ideológico pronto que se adotou;
(2) aqueles que discordam daquele modelo ideológico pronto que se adotou. Essa nefasta prática serve para dizer se um fenômeno discordante à ideologia adotada é errado ou mau; Se o fenômeno for concordante, ele é justo e apropriado. Em outras palavras, sob o manto da simplificação ideológica não podemos julgar nada honestamente, pois quando julgamos pela régua ideológica nós nos esquecemos que a ideologia não é a realidade.
Hoje em dia é incontestável que todos têm uma ideologia. Até mesmo a negação da ideologia é tomada como uma ideologia. As pessoas se concebem como pertencentes à Direita ou à Esquerda. A divisão em cada um dos lados é também fragmentada em facções ou grupos. Alguém recentemente me perguntou quais as minhas crenças políticas. A resposta será dada em alguns dos próximos parágrafos.
James Burnham disse que a política trata-se de três coisas: (1) poder; (2) poder; (3) poder. Em outras palavras, a política trata de quem possui o poder político e se esse poder é concentrado ou separado, legítimo ou ilegítimo. Evidentemente pode-se perguntar o que significa a palavra “poder”. O grande historiador cultural, Jacob Burckhardt, disse que “o poder é o mal”. Ao meu ver, essa verdade é a fundação de toda a sabedoria política. Já o lorde Acton é famoso pelo dito “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Ele também disse: “Grandes homens são quase sempre homens maus”.
Essa sombria verdade é engolida com grande dificuldade pelos entusiastas da política, pois os homens querem acreditar em heróis políticos e também querem acreditar em salvação política. Contudo, não há salvação como comumente se acredita, salvo no caso da limitação do poder.
Burckhardt estava certo em dizer que o poder é mau, e o lorde Acton estava certo em dizer que o poder tende a corromper. A lição que fica, portanto, é aquela dos Pais Fundadores da América (Founding Fathers): limitar o poder do Estado e a corrupção que flui no poder estatal.
Esse princípio de poder que foi aplicado ao Estado também se aplica ao indivíduo. Olhar para si e dizer “farei tudo aquilo que quiser” é entrar no caminho da autodestruição e da desmoralização. Esse dito, entretanto, é o que anima nossa era (tanto o governo quando o indivíduo). Imagina-se, de alguma forma, que a propriedade é uma forma de opressão a qual o indivíduo deve ser libertado; e assim, por todos os lados, deu-se início a um processo de libertação. Mas no final das contas isso é apenas um processo corruptor em que o indivíduo dito libertado se torna cada vez mais degradado – às vezes até mais brutalizado e decadente.
Governos que desfrutam de poder ilimitado sobre seu povo também se tornam degradados e brutais. Considere o exemplo de Hitler, cuja brutalidade pode ser vista quando ele culpa o povo alemão pelo fracasso das suas políticas militares agressivas; ou considere Mao Tsé-Tung, o ditador da China comunista, que dormiu com diferentes garotas em diferentes noites, desejando dar a elas quaisquer doenças venéreas que ele possuía à época.
Se a política trata-se de poder, como disse Burnham, e o poder é mau, como disse Burckhardt, então um sistema político relativamente bom deve ser baseado em freios e contrapesos. Já um sistema político pernicioso provavelmente idealizará a concentração de poder (i.e., como se dá na ideia comunista do “centralismo democrático” ou no “Führerprinzip” de Hitler).
Projetos utópicos também são perigosos: o socialismo igualitário porque seus partidários precisam de poder ilimitado para trazer a igualdade universal; o comunismo porque para se ter um controle absoluto sobre a economia é necessário um poderoso estado policial; o nacional-Socialismo porque todo poder está concentrado na mão de um homem, Adolf Hitler.
A concentração de poder no século XX nos trouxe guerras catastróficas, escravização generalizada em campos de concentração e perdas econômicas.
Aqueles que pedem poder total em nome de uma causa (seja ela qual for), ou são tolos perigosos ou criminosos. Não se deve confiar o poder a eles porque eles irão usá-lo para obter mais poder, e assim continuarão a acumulá-lo sem levar em conta os danos que possam causar ou as pessoas que possam vir a machucar. As únicas pessoas que se deve confiar o poder são aquelas que não o querem por saber que o poder é mau e aqueles que sentem que o poder é um fardo e não uma vantagem.
Há, todavia, uma ressalva nisso tudo que não pode ser facilmente conciliada. Quando uma comunidade é ameaçada pela guerra, o poder deve ser concentrado nas mãos do comandante-em-chefe. Isso não pode ser evitado, pois é necessário aplicar o princípio da unidade de comando.
Guerras não podem ser vencidas sem estratégia, e estratégia requer um comandante que dá a última palavra em todas as coisas. Aqui podemos vislumbrar porque um sistema bélico coincide com as aspirações totalitárias. A guerra ajuda a justificar o ditador, enquanto a paz o faz parecer supérfluo. Assim temos a base para duas formas de sociedade: sociedade livre e sociedade totalitária.
Aplicar esses preceitos delineados acima em uma dada situação política não é sempre tarefa fácil. Tomando o caso da Ucrânia como exemplo, podemos ver logo de cara que a Rússia já invadiu, infiltrou e rompeu partes da Ucrânia com o fim de anexá-las (e assim adicionar terra e poder para si). O Kremlin obviamente espera subjugar toda a Ucrânia por meio do processo de “dividir e governar”. A maioria do povo ucraniano quer de verdade que seu Estado seja inviolável e soberano.
Eles estão cansados de serem governados por criminosos de tipo soviético. A causa pela liberdade trouxe ganhos significantes, mesmo considerando que alguns dos novos líderes “democráticos” lá enxertados sejam criaturas secretas de Moscou. No momento, esses agentes não podem cumprir ordens de Moscou sem se traírem. A liberdade, portanto, tem uma chance, apesar de minúscula.
Além do mais, um grande protesto está sendo planejado para ocorrer na Rússia dia 18 de maio onde um número incontável de pessoas exigirá que o Presidente Putin renuncie. Vemos nisso um movimento espontâneo de cidadãos preocupados entrando em ação para limitar o poder de um governo que não reconhece qualquer freio à sua autoridade. O Kremlin revidará? Centenas morrerão? Milhares serão presos?
Para dar um exemplo à Rússia, a Ucrânia deve estabelecer um modelo de governo limitado. Além disso, a resposta de Kiev às provocações paramilitares russas deve ser cuidadosamente medida. O derramar de sangue deve ser reduzido a um mínimo e os infiltrados russos devem ser expulsos (e isso é melhor feito por meio de pequenas ações sequenciais em vez de tudo de uma vez).
Também seria imprudente nesse confronto fazer ameaças militares ou econômicas, pois a coisa certa seria o oferecimento de uma amizade com o povo russo em todas oportunidades que parecer apropriado. Deve-se sempre ser dito que os povos ucranianos e russos são irmãos.
Qualquer um que começar uma guerra entre esses dois povos, ou espalhar ódio entre eles, é um inimigo a ser combatido por ambos, pois o verdadeiro problema entre a Ucrânia e a Rússia é a concentração de poder no Kremlin e a corrupção que flui de lá. É esse poder e essa corrupção que agora ameaça a paz na Europa.
Tradução: Leonildo Trombela Junior
Um grande protesto está sendo planejado para ocorrer na Rússia dia 18 de maio onde um número incontável de pessoas exigirá que o Presidente Putin renuncie.
O verdadeiro problema entre a Ucrânia e a Rússia é a concentração de poder no Kremlin
e a corrupção que flui de lá.
O verdadeiro problema entre a Ucrânia e a Rússia é a concentração de poder no Kremlin
e a corrupção que flui de lá.
Há uma tendência, especialmente nos dias de hoje, em reduzir toda a análise política a uma fórmula ideológica e julgar tudo de acordo com essa mesma fórmula. Tal reducionismo é usualmente errôneo – e até mesmo perigoso – quando aplicado em um mundo complicado como este. Evidentemente é muito mais fácil simplificar tudo em nome da compreensibilidade, mas o mundo não se tornará mais simples se recorrermos ao reducionismo ideológico. Quem se tornará mais simples seremos nós – ao ponto de tornarmo-nos estúpidos.
Muitos recorrem ao reducionismo ideológico por estarem distraídos ou por não terem tempo para estudos políticos ou históricos, e então eles adotam um modelo ideológico pronto. Isso possibilita a eles categorizar imediatamente todos os fenômenos políticos em duas categorias:
(1) aqueles que concordam com aquele modelo ideológico pronto que se adotou;
(2) aqueles que discordam daquele modelo ideológico pronto que se adotou. Essa nefasta prática serve para dizer se um fenômeno discordante à ideologia adotada é errado ou mau; Se o fenômeno for concordante, ele é justo e apropriado. Em outras palavras, sob o manto da simplificação ideológica não podemos julgar nada honestamente, pois quando julgamos pela régua ideológica nós nos esquecemos que a ideologia não é a realidade.
Hoje em dia é incontestável que todos têm uma ideologia. Até mesmo a negação da ideologia é tomada como uma ideologia. As pessoas se concebem como pertencentes à Direita ou à Esquerda. A divisão em cada um dos lados é também fragmentada em facções ou grupos. Alguém recentemente me perguntou quais as minhas crenças políticas. A resposta será dada em alguns dos próximos parágrafos.
James Burnham disse que a política trata-se de três coisas: (1) poder; (2) poder; (3) poder. Em outras palavras, a política trata de quem possui o poder político e se esse poder é concentrado ou separado, legítimo ou ilegítimo. Evidentemente pode-se perguntar o que significa a palavra “poder”. O grande historiador cultural, Jacob Burckhardt, disse que “o poder é o mal”. Ao meu ver, essa verdade é a fundação de toda a sabedoria política. Já o lorde Acton é famoso pelo dito “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Ele também disse: “Grandes homens são quase sempre homens maus”.
Essa sombria verdade é engolida com grande dificuldade pelos entusiastas da política, pois os homens querem acreditar em heróis políticos e também querem acreditar em salvação política. Contudo, não há salvação como comumente se acredita, salvo no caso da limitação do poder.
Burckhardt estava certo em dizer que o poder é mau, e o lorde Acton estava certo em dizer que o poder tende a corromper. A lição que fica, portanto, é aquela dos Pais Fundadores da América (Founding Fathers): limitar o poder do Estado e a corrupção que flui no poder estatal.
Esse princípio de poder que foi aplicado ao Estado também se aplica ao indivíduo. Olhar para si e dizer “farei tudo aquilo que quiser” é entrar no caminho da autodestruição e da desmoralização. Esse dito, entretanto, é o que anima nossa era (tanto o governo quando o indivíduo). Imagina-se, de alguma forma, que a propriedade é uma forma de opressão a qual o indivíduo deve ser libertado; e assim, por todos os lados, deu-se início a um processo de libertação. Mas no final das contas isso é apenas um processo corruptor em que o indivíduo dito libertado se torna cada vez mais degradado – às vezes até mais brutalizado e decadente.
Governos que desfrutam de poder ilimitado sobre seu povo também se tornam degradados e brutais. Considere o exemplo de Hitler, cuja brutalidade pode ser vista quando ele culpa o povo alemão pelo fracasso das suas políticas militares agressivas; ou considere Mao Tsé-Tung, o ditador da China comunista, que dormiu com diferentes garotas em diferentes noites, desejando dar a elas quaisquer doenças venéreas que ele possuía à época.
Se a política trata-se de poder, como disse Burnham, e o poder é mau, como disse Burckhardt, então um sistema político relativamente bom deve ser baseado em freios e contrapesos. Já um sistema político pernicioso provavelmente idealizará a concentração de poder (i.e., como se dá na ideia comunista do “centralismo democrático” ou no “Führerprinzip” de Hitler).
Projetos utópicos também são perigosos: o socialismo igualitário porque seus partidários precisam de poder ilimitado para trazer a igualdade universal; o comunismo porque para se ter um controle absoluto sobre a economia é necessário um poderoso estado policial; o nacional-Socialismo porque todo poder está concentrado na mão de um homem, Adolf Hitler.
A concentração de poder no século XX nos trouxe guerras catastróficas, escravização generalizada em campos de concentração e perdas econômicas.
Aqueles que pedem poder total em nome de uma causa (seja ela qual for), ou são tolos perigosos ou criminosos. Não se deve confiar o poder a eles porque eles irão usá-lo para obter mais poder, e assim continuarão a acumulá-lo sem levar em conta os danos que possam causar ou as pessoas que possam vir a machucar. As únicas pessoas que se deve confiar o poder são aquelas que não o querem por saber que o poder é mau e aqueles que sentem que o poder é um fardo e não uma vantagem.
Há, todavia, uma ressalva nisso tudo que não pode ser facilmente conciliada. Quando uma comunidade é ameaçada pela guerra, o poder deve ser concentrado nas mãos do comandante-em-chefe. Isso não pode ser evitado, pois é necessário aplicar o princípio da unidade de comando.
Guerras não podem ser vencidas sem estratégia, e estratégia requer um comandante que dá a última palavra em todas as coisas. Aqui podemos vislumbrar porque um sistema bélico coincide com as aspirações totalitárias. A guerra ajuda a justificar o ditador, enquanto a paz o faz parecer supérfluo. Assim temos a base para duas formas de sociedade: sociedade livre e sociedade totalitária.
Aplicar esses preceitos delineados acima em uma dada situação política não é sempre tarefa fácil. Tomando o caso da Ucrânia como exemplo, podemos ver logo de cara que a Rússia já invadiu, infiltrou e rompeu partes da Ucrânia com o fim de anexá-las (e assim adicionar terra e poder para si). O Kremlin obviamente espera subjugar toda a Ucrânia por meio do processo de “dividir e governar”. A maioria do povo ucraniano quer de verdade que seu Estado seja inviolável e soberano.
Eles estão cansados de serem governados por criminosos de tipo soviético. A causa pela liberdade trouxe ganhos significantes, mesmo considerando que alguns dos novos líderes “democráticos” lá enxertados sejam criaturas secretas de Moscou. No momento, esses agentes não podem cumprir ordens de Moscou sem se traírem. A liberdade, portanto, tem uma chance, apesar de minúscula.
Além do mais, um grande protesto está sendo planejado para ocorrer na Rússia dia 18 de maio onde um número incontável de pessoas exigirá que o Presidente Putin renuncie. Vemos nisso um movimento espontâneo de cidadãos preocupados entrando em ação para limitar o poder de um governo que não reconhece qualquer freio à sua autoridade. O Kremlin revidará? Centenas morrerão? Milhares serão presos?
Para dar um exemplo à Rússia, a Ucrânia deve estabelecer um modelo de governo limitado. Além disso, a resposta de Kiev às provocações paramilitares russas deve ser cuidadosamente medida. O derramar de sangue deve ser reduzido a um mínimo e os infiltrados russos devem ser expulsos (e isso é melhor feito por meio de pequenas ações sequenciais em vez de tudo de uma vez).
Também seria imprudente nesse confronto fazer ameaças militares ou econômicas, pois a coisa certa seria o oferecimento de uma amizade com o povo russo em todas oportunidades que parecer apropriado. Deve-se sempre ser dito que os povos ucranianos e russos são irmãos.
Qualquer um que começar uma guerra entre esses dois povos, ou espalhar ódio entre eles, é um inimigo a ser combatido por ambos, pois o verdadeiro problema entre a Ucrânia e a Rússia é a concentração de poder no Kremlin e a corrupção que flui de lá. É esse poder e essa corrupção que agora ameaça a paz na Europa.
15 de maio de 2014
Jeffrey Nyquist
Tradução: Leonildo Trombela Junior
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