Publicado em diversos jornais nesta última semana, o assunto não poderia ser, infelizmente, mais redundante e trágico: o Brasil está no 38º lugar no ranking de Educação, dentre 40 países analisados pelo Instituto Pearson e pelo The Economist Intelligence Unit, conforme análise de dados dos dois últimos anos.
Redundância que não se encontra apenas neste resultado, mas no cotidiano do brasileiro. Apontar as causas desta medíocre posição mundial tornou-se repetitivo demais; todos os letrados e, minimamente leitores, as conhecem.
Não temos um governo omisso mas, neste caso, seria infinitamente melhor se assim o fosse.
A atuação dos órgãos políticos na Educação tem sido absurdamente desastrosa. São exames forjados, verbas desviadas, escolas em ruínas, merendas que não saciam, material e uniforme que não chegam ao aluno, transportes que não funcionam.
Omissão nesse caso poderia ser um ganho; quem sabe ao menos não haveria desvios…
Como mudar esse discurso e inverter a posição no ranking?
Estudando e trabalhando. Felizmente, por outro lado, tenho assistido conquistas de verdadeiros guerreiros. São professores fazendo verdadeiras “mágicas” para debater o conhecimento, transformar a informação em ações práticas e permanecerem próximos ao aluno. E como conseguem? Estudando, trabalhando e lutando a favor da aprendizagem.
Estes professores não se acomodam apenas na leitura de artigos e textos ou na participação de palestras, mas ousam no momento de questionar novas informações e só depois de enxergarem no sentido destas uma efetiva aprendizagem, desafiam o potencial de seus alunos, mexendo com a curiosidade e incentivando a busca de novos conhecimentos.
São professores que não se contentam em levar ao aluno uma nova tecnologia, mas desafiam-no a criar em cima da nova tecnologia. São professores que não se acomodam com a falta do caderno e do lápis, mas que, apesar disto, instrumentalizam o aluno por meio de rodas de conversas, dramatizações, exercícios em pequenos grupos, busca de soluções para problemas da comunidade, jogos da vida prática.
São professores que lutam para reverter o estrago causado pelos órgãos públicos. É o olhar sempre atento dos mestres que faz a diferença. Então, não podemos esperar que os órgãos responsáveis por mudar a realidade desastrosa da educação brasileira façam algo para reverter este ranking. Esperar por isso é permanecer no final da fila.
Vamos criar desafios para o cálculo mental, problemas que exijam soluções práticas, estratégias para compreensão de textos, dinâmicas de socialização com o que temos em mãos: olhares curiosos dos nossos alunos, vontade de aprender e compartilhar.
Vamos diminuir a fronteira entre as diferentes realidades, seguindo o exemplo de uma escola particular de São Paulo que levou os alunos para conhecerem escolas rurais do interior do estado.
O que antecedeu esta visita foram conversas entre a direção destas instituições para o alinhamento dos planejamentos.
Durante o encontro dos alunos de realidades tão diferentes, os professores trocaram informações e todos saíram ganhando. Criou-se um intercâmbio entre estas realidades que continuará por meio de cartas, um gênero textual estudado pelos alunos.
Zona rural e zona urbana juntas, parceiras pela aprendizagem, pela construção de um mundo melhor.
Em um próximo artigo contarei sobre esta proposta, certamente uma das muitas possibilidades de sairmos da contramão em que irresponsáveis colocaram a educação brasileira.
15 de maio de 2014
Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional
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