"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 6 de abril de 2014

SAÍDA À FRANCESA


São fascinantes as guinadas e os dilemas do governo do Partido Socialista francês.

Enquanto diversos países europeus adotaram políticas de austeridade depois da crise para recuperar capacidade de crescimento em bases mais estáveis, a França ficou no meio do caminho.

No ano de 2012, com a eleição do presidente socialista François Hollande, o governo francês adotou uma política pró-crescimento que, na prática, significou menor austeridade fiscal, tentando fazer um ajuste mais suave via, por exemplo, aumento de impostos dos mais ricos.

Não funcionou. A França não voltou a crescer nas taxas almejadas, e os socialistas perderam as eleições municipais no mês passado.

Agora que os países austeros crescem com mais vigor, Hollande, empurrado pela derrota nas urnas, anuncia guinada liberal. Promete austeridade e políticas de aumento da produtividade e do nível de eficiência da economia. No ato seguinte, ele nomeia um premiê defensor dessas políticas. Mas, para aplacar a ira da esquerda do partido, nomeia ministros da Economia e das Finanças com visões contrárias àquela orientação.

É fácil entender a relutância francesa.

Expansão de gasto público, num primeiro momento, traz grande aprovação entre os beneficiados. E não há dúvida de que a injeção de recurso público eleva o consumo e a atividade econômica.

Mas o aumento da despesa pública tem limitações importantes. Quando o consumo cresce mais do que a oferta (produção), esse gasto pressiona a inflação, como vemos no Brasil. E se a arrecadação não acompanha o crescimento das despesas, o endividamento do Estado aumenta, o que reduz o crescimento com o passar do tempo.

A partir de certos patamares, o custo da dívida pública cresce, o que faz o Estado sugar uma parcela cada vez maior da poupança do país para financiá-la. Isso compromete o consumo e os investimentos e ainda cria incerteza sobre a capacidade do Estado de se financiar e investir.

É por isso que outros países europeus, referendados pelos eleitores, preferiram a austeridade, como Alemanha, Espanha, Portugal e Irlanda.

Esses países conjugaram austeridade fiscal com o que de fato são políticas de crescimento, isto é, políticas que aumentem a produtividade, como redução da burocracia e da complexidade fiscal, incentivos ao investimento e reformas trabalhistas para baratear a produção.

A nação francesa, agora, parece buscar esse caminho, apesar da forte oposição ideológica de setores do Partido Socialista.

Para nós, no Brasil, a observação desse cenário europeu é de extrema utilidade.

06 de abril de 2014
Henrique Meirelles, Folha de SP

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