É comum em países imaturos que aqueles que estão no poder confundam os seus interesses com os interesses do Estado. Frequentemente confundem estas duas esferas, sendo uma absolutamente transitória e a outra perene. Os governos, seja de que partido ou grupo político for, assumem a condução do país por um tempo e num dado momento sai, o Estado permanece (pelo menos deveria conceitualmente ser assim)!
Um partido, ou grupo político, que assume a administração temporária de um país tem um Plano de Governo, apresentado ao longo da campanha eleitoral, que nem sempre leva em consideração os Objetivos Nacionais Permanentes (ONP) e alvos estratégicos. A noção de tempo entre atividades de Governo e de Estado é completamente diferente. Um governo tem 4 ou 8 anos para atingir seus objetivos, um Estado tem dezenas de anos, sendo que os objetivos de ambos nem sempre são convergentes. São perspectivas diferentes, mas que devem guardar alguma sintonia.
Um Estado soberano precisa ter uma visão de futuro, com metas e objetivos traduzidos num Planejamento Estratégico Nacional de médio e longo prazo. Em decorrência, se são planos a longo prazo, naturalmente precisam ser suportados por executores que tenham condições de fazê-los efetivos.
Assim, como pré-requisitos para sua execução são requeridos tempo, recursos apropriados por canais adequados, sigilo absoluto e estabilidade; além obviamente de capacidade profissional. Devem ser planos que, para sua execução, independam do governo da moda. Seus idealizadores e executores obrigatoriamente têm de conhecer as regras do jogo mundial; à fim de posicionar seu país adequadamente.
Países avançados têm planejamentos para 50 anos, e até mais, e construíram estruturas capazes de fazê-los executar “chova ou faça sol”. Por exemplo, o desenvolvimento de uma nova tecnologia estratégica leva décadas e precisa ser elaborada no mais alto grau de sigilo, por motivos óbvios. Seria razoável que, num dado momento da vida nacional, segredos estratégicos sejam apresentados a um cidadão eleito que passa transitoriamente pelo poder?
Seria razoável compartilhar projetos vitais a segurança nacional com alguém que não se conhece, que não foi avaliado do ponto de vista das capacidades específicas requeridas (capacidade de compreensão, de avaliação e de retenção de informação, etc....)? Uma pessoa que, quando acabar seu mandato, não se sabe sequer o que ele vai fazer da vida? Você dividiria seus segredos mais importantes com alguém assim?
As respostas a estas perguntas explicam como as questões estratégicas são tratadas em países de ponta.
A falta de projetos para o país, abordada no artigo “Como fabricar gelo no inferno – da Petrobras ou do Exército” escrito pelo editor-chefe do blog Jorge Serrão questiona com propriedade: “Seremos realmente capazes de mudar alguma coisa para melhor, na atual falta de definição política? O que queremos fazer? Aonde desejamos chegar? Que projeto se tem, claramente definido e publicamente anunciado, para o Brasil?”, e ele próprio responde “A resposta sincera é: Nenhum.”.
Neste questionamento está, e nas ponderações feitas anteriormente, um ponto relevante do “porque” o Brasil ser uma colônia subdesenvolvida e submissa. Ele não foi capaz de desenvolver as estruturas de poder permanente garantidoras da execução dos projetos estratégicos nacionais.
Não há um Planejamento Estratégico exequível, simplesmente porque não se criou ao longo do tempo uma estrutura e grupo de executores aptos, capazes de fazê-lo efetivo, de forma independente. A exceção a esta regra ocorreu no período militar (1964 – 1985) porque os executores estavam no governo e tinham o seu respaldo, época que se desenvolveram várias iniciativas estratégicas (programa nuclear, indústria bélica, programa espacial, etc...).
Mudou o time de plantão no governo, os executores saíram pela porta dos fundos (não tiveram competência para resguardar o poder necessário a manutenção dos planos vitais ao país), e acabou tudo. Pequenos rescaldos, como o Juca do subterrâneo do Rio talvez possa explicar, são anomalias do sul afundadas a 12 mil metros.
Sem possuir um núcleo estratégico, de caráter permanente, capaz de formular e fazer executar um planejamento estratégico com adequado nível de sigilo, independente do governo transitório, um país simplesmente fica acéfalo e incapaz de jogar com eficácia o jogo mundial. Fica ao sabor dos gostos do grupo que está no poder. Um faz, o outro desfaz, e assim vai...Um passo pra frente, dez para trás.
Estranhamente, a candidata Marina Silva no programa do PSB na TV em horário nobre, junto com Eduardo Campos, no dia 27/03/14 disse que o Brasil precisava de uma “agenda” acima dos partidos. Uma senha? Talvez não. Possivelmente ela não mirou no alvo certo.
Certamente o general José Elito Carvalho de Siqueira, atual chefe do GSI/PR (Gabinete de Segurança Institucional) aprendeu muito, e adquiriu uma nova perspectiva e conhecimentos, quando foi destacado para substituir o General Urano Teixeira da Matta Bacellar (58 anos) morto em 07/01/2006 num hotel no Haiti. Ficou lá pouco mais de um ano, e logo após, em 31/07/2007 foi promovido a General de Exército, sendo nomeado para o GSI/PR em 21/12/2010 pela Dilma.
A militarização de movimentos populares, em paralelo com o aparelhamento total do crime organizado e dos três poderes da República, tem dado um matiz sombrio ao futuro próximo. Fuzis em tangará, e uniformes e campos de treinamento em outras partes, há anos, completam o quadro dantesco.
Em 31 de março, ao invés de vermos manifestações explicitas na caserna de homenagem ao movimento de 1964, vimos sim foi a reafirmação da obediência militar servil que levou a instauração de 7 inquéritos militares para apurar crimes daquela época. As FFAA, a continuar como estão, caminham para a extinção no formato operacional como se encontram, e o embrião de um novo Exército, com uma nova filosofia, parece estar em gestação. Tudo como previsto.
Nos sete artigos que escrevi aqui, incluindo este, tenho procurado passar uma mensagem das razões e instrumentos que conduzem a este servilismo contumaz que aleija esta nação. Mais claro seria ultrapassar os limites geográficos. Infelizmente a perspectiva não tem se mostrado alvissareira.
Luiz Antonio Peixoto Valle é Administrador de Empresas
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