Já o Brasil entra em crise, pela segunda vez, com a possibilidade de falta de energia. Na primeira vez, em 2002, foi por deficiência de geração. Hoje, o risco de apagão se deve à demora na construção de linhas de transmissão e à falta de chuvas, dois problemas que poderiam ser razoavelmente previstos. Não é o que acontece.
O Brasil de hoje está com a sua economia pendurada no clima, como disse Miriam Leitão (“O Globo”, 22.2.2014). É o cúmulo da imprevidência, ainda mais em ano eleitoral. Porém, a eventual falta de energia está sendo considerada um evento inesperado. Só é inesperado pela incapacidade de as autoridades do setor estarem atentas à questão.
Dilma poderá ser afetada eleitoralmente caso ocorra apagão? Sim e não. Se houver um apagão de verdade, seu prestígio será abalado. Se as dificuldades não forem sistêmicas, serão assimiladas pela atmosfera de festa da Copa do Mundo.
O resultado econômico de 2013 – outra surpresa – terminou aliviando o ambiente na equipe econômica. Afinal, levando-se em conta as circunstâncias, um crescimento de 2,3% não é horrível. É evidente que os mal-humorados podem dizer que o apagão vai acontecer, o que não é garantido. Ou que a economia foi muito mal em 2013. Também não é preciso.
O INESPERADO
Conforme disse, o resultado de 2013 é bem mais fraco do que podíamos apresentar, mas melhor do que muitos esperavam: algo abaixo de 2%. No fim das contas, fica claro que o inesperado – ruim, como a ameaça de apagão; e bom, como o resultado econômico de 2013 – afeta, e muito, as expectativas.
Assim, a corrida eleitoral deste ano vive um cenário bastante complexo. A presidente Dilma Rousseff (PT) começa a disputa como favorita. Embora as pesquisas apontem a possibilidade de Dilma vencer ainda no primeiro turno, a batalha eleitoral promete ser acirrada. Em que pese a boa avaliação do governo (41% de aprovação, segundo a última pesquisa Datafolha), existe um sentimento difuso de mudança em parcela expressiva da sociedade brasileira.
Além disso, a presidente terá pela frente dois adversários fortes: o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE). Embora apareçam bem atrás nas pesquisas (Aécio tem 17% das intenções de voto e Eduardo aparece com 12%), o desconhecimento das duas candidaturas por parte dos eleitores é um fator que leva PSDB e PSB a acreditarem na possibilidade de um segundo turno contra Dilma Rousseff.
Aliás, sabendo das dificuldades que representa um segundo turno dentro desse ambiente de mudança existente, o Palácio do Planalto realizará todos os esforços possíveis para liquidar a fatura ainda em primeiro turno. Justamente por isso Dilma trabalha para montar uma ampla e competitiva coalizão. Vale destacar que o governo também teme uma eventual aliança entre Aécio Neves e Eduardo Campos, o que pode tornar as coisas ainda mais complicadas, principalmente se a economia estiver mal e a Copa do Mundo não for o sucesso que se espera.
Mesmo com todas essas variáveis no tabuleiro, a presidente Dilma Rousseff preserva uma importante vantagem. Além do controle da máquina administrativa, ela terá a presença do ex-presidente Lula ao seu lado. Vale destacar que Dilma é um produto do sucesso do lulismo.
Assim, o ex-presidente fará todos os esforços possíveis para que Dilma saia vitoriosa, assim como ocorreu em 2010.
(transcrito de O Tempo)
12 de março de 2014
Murillo de Aragão
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