É inaceitável que um jornalista seja tolhido ou ameaçado no exercício de sua função.
José Eduardo Cardozo, Ministro da Justiça
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O que há em comum entre Dilma Rousseff e Elisa Quadros, de apelido Sininho? Antes de responder à pergunta apresento-lhes Sininho. Gaúcha de 28 anos de idade, estudante de cinema, no momento desempregada, ela mora no Rio de Janeiro e é ligada aos black blocs – aqueles sujeitos mascarados que se metem em passeatas legítimas e pacíficas para destruir o que encontram pela frente. Por que agem assim?
Bem, uma coisa de cada vez. O alvo dos black blocs são os símbolos do capitalismo – agências de bancos, por exemplo, lanchonetes do tipo McDonald’s e vitrines de lojas. Sininho faz o meio de campo entre os black blocs e pessoas de extrema esquerda que pensam como os black blocs. Se não pensam igual, ao menos os querem como aliados. Na semana passada, Sininho atraiu todos os holofotes.
Um cinegrafista morreu no Rio atingido por um rojão. Quem disparou o rojão foi um black bloc. Sininho arranjou um advogado para defender o black bloc. E assim virou o objeto de desejo dos jornalistas.
Repito: o que há de comum entre Dilma Rousseff e Sininho? A política. As duas são políticas. E as duas admitem o uso da violência para alcançar objetivos políticos. (Devagar. Não tirem conclusões apressadas.)
Dilma precisou usar violência para ajudar a derrubar a ditadura militar de março de 1964, que durou 21 anos. Sininho usa a violência para derrubar... Nem ela mesma sabe direito o quê.
O ideal seria que as ditaduras caíssem sem o emprego da violência. Mas o emprego da violência justifica-se, sim, para derrubar uma ditadura. É o que penso. Vocês podem pensar diferente. Por sinal, essa é uma das vantagens da democracia.
De esquerda ou de direita, ditadura usa a violência contra o povo. Enquanto existe uma ditadura, você só dirá sem medo o que pensa se pensar como ela. Se pensar diferente poderá ser preso, torturado e morto. Dilma está aí vivinha, mas foi presa e torturada.
Suponho que Sininho e sua turma desejem ferir gravemente o regime democrático sob o qual vivemos. O regime democrático é imperfeito e sempre será. Mas é o melhor dos regimes. Na democracia posso dizer o que penso porque jamais serei preso e torturado por pensar assim ou assado.
É crime usar a violência para que o regime democrático ceda lugar a outro. Sininho sabe disso. Mas parece não se importar. Ganhou seus cinco minutos de fama. Quem não gostaria de virar celebridade? Pois é... Dilma não lutou contra a ditadura em troca de cinco minutos de fama. Não havia isso naquela época.
Há os que acham que Dilma lutou contra a ditadura para pôr no lugar outra ditadura de acordo com suas ideias, e não uma democracia de verdade. O que eu acho disso? Até pode ser que sim. Mas Dilma acabou chegando ao poder por meio do voto livre, que é a base da democracia. Converteu-se, digamos assim, à democracia.
O que quero mesmo dizer com essa história de Dilma e Sininho? Eu sei o que quero dizer. Mas prefiro que vocês tirem suas próprias conclusões. Vocês têm 30 segundos... Pronto! Acabou o prazo! Pensaram? Não? Então lá vai minha conclusão.
Se lutamos tão arduamente, arriscando nossas vidas, inclusive, para derrotar uma ditadura militar que silenciava as palavras, faz sentido agora permitir que a expressão da democracia seja a morte de um jornalista? Não, não faz sentido. Não faz o menor sentido.
17 de fevereiro de 2014
in Ricardo Noblat
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