O eleitorado diz que quer mudança, mas pretende reeleger Dilma. É puro chavismo
Parece mostrar que a população enfim percebeu como é governada, descobriu o engodo administrativo que avacalha as contas públicas brasileiras. E como o Brasil quer mudar esse estado de coisas? Elegendo Dilma Rousseff no primeiro turno. É o que dizem o Datafolha e todos os institutos de pesquisa.
Ou seja: o eleitorado brasileiro concorre ao troféu mulher de malandro 2014.
E esse eleitorado que quer mudanças no governo tem uma carta na manga. É um não candidato, mas que, se entrar no páreo, torna-se o único nome nacional capaz de derrotar Dilma: Lula. Como se vê, o Brasil quer mudar mesmo.
Esse fenômeno tem uma explicação muito simples, que os cientistas políticos negam desesperadamente, numa espécie de otimismo avestruz. O fenômeno se chama chavismo. É ele, e só ele, que explica o paradoxo da insatisfação com o governo versus apoio eleitoral ao governo.
A colossal propaganda populista do petismo conseguiu dissociar nome e pessoa, conseguiu inventar o binômio do crioulo doido — administração desastrosa e governantes bonzinhos. E a culpa não é dos parasitas do PT. Eles estão no papel deles. Fazem o que sabem fazer: parasitar. A culpa é do povo. Resta apenas escolher qual a parte pior do povo: a que não enxerga ou a que faz vista grossa.
Recentemente, Dilma declarou que o IBGE faria a revisão do PIB de 2012, para cima. Antecipou que o índice de crescimento daquele ano passaria de 0,9% para 1,5% — um aumento expressivo e surpreendente. A notícia repercutiu forte, apesar do mal-estar com o fato de a presidente da República ter vazado uma informação do IBGE, uma falta grave na política de sigilo dos dados do instituto.
Teoricamente, Dilma nem poderia saber daquele índice — justamente para que não haja tráfico político de estatísticas. Mas o mal-estar seria duplo.
Não bastasse o vazamento, o informante dela estava mal informado. A revisão do PIB foi de 0,9% para 1%, quase nula. Os chavistas venezuelanos e argentinos são mais eficazes na manipulação dos índices que seus governos destroem.
Esses 66% de brasileiros que sentem a inflação morder seus calcanhares não notam nada disso. Deveriam estar olhando para o outro lado quando o governo bateu cabeça em público, para o mundo inteiro ver, discutindo a melhor forma de abafar os preços dos combustíveis — para mascarar a inflação febril dos preços livres, encostando em 10% ao ano. É um imenso contingente de brasileiros divididos entre os que não veem e os que fingem que não veem a demagogia tarifária arrebentando a Petrobras e as elétricas. Assim é o chavismo: a realidade é o que o governo bonzinho diz.
Dizem que haverá nova série de manifestações durante a Copa do Mundo. Entre as pautas dos protestos estará, provavelmente, o reajuste das passagens de ônibus — porque a mentira bondosa da manutenção dos preços das passagens não poderá durar mais muito tempo.
E aí já se sabe, pelo nível de esclarecimento dessa geração de manifestantes e seus amigos black blocs, que teremos mais um capítulo da já famosa Primavera Burra brasileira: quebradeira geral e risco zero para os amigos de José Dirceu que comandam o carnaval no Planalto.
O Brasil não se importou de ver um ministro da Educação panfletário e negligente usando o cargo para virar prefeito de São Paulo. Não se importa de ver um ministro da Saúde em comício permanente para ganhar o governo do Estado de São Paulo — segundo Lula, seu mentor, para tirar “os conservadores” do poder.
Eles usarão para sempre a bandeira de revolucionários oprimidos, mesmo já sendo os donos quase absolutos do aparelho de Estado. Enquanto colar, está valendo — e o mensaleiro Delúbio poderá se autodenominar preso político, sem que isso seja uma piada. O Brasil não se importa que o ministro da Justiça, aquele que gritou contra o regime fechado para os mensaleiros, remeta ao Ministério Público um relatório pirata incriminando adversários políticos.
Quem acha que isso não é chavismo que vote em Dilma pela mudança. Basta de conservadorismo.
22 de janeiro de 2014
Guilherme Fiuza, Época online
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