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Em “Vai Trabalhar, Vagabundo”, Chico Buarque resume a idéia da esquerda sobre o trabalho numa sociedade de livre mercado.
Hoje somos liderados na política, na cultura e das universidades, por pessoas que foram educadas na juventude com essas idéias. O resultado está aí.
“Knock-out game” é um perigoso passatempo que está se espalhando rapidamente entre jovens das periferias americanas e que consiste em chegar de surpresa numa pessoa que caminha na rua e dar um soco tão forte que ela desmaie, caia apagada no chão. Em pelo menos três estados americanos, há registro de mortes causadas pelo tal jogo.
A polícia diz que até agora os agressores são em geral negros e as vítimas, brancas. Muitos dos alvos são judeus, o que levanta questões adicionais sobre a história de antissemitismo disseminado em comunidades negras nos EUA por ativistas como Louis Farrakhan há décadas. Judeus ortodoxos já estão sendo aconselhados a tomar precauções extras de segurança. Alguns jovens chamam o jogo de “Caçada ao Urso Polar” porque as vítimas preferenciais são brancas.
Há quem relacione o “knock-out game” ao produto de entretenimento mais lucrativo da história, o recém-lançado videogame Grand Theft Auto V, já que esse tipo de agressão é comum no jogo, mas é claro que é muito mais do que isso e reduzir a discussão ao GTA é fugir da raiz do problema. O “knock-out game” é um problema que, se você ignora, pode um dia se transformar literalmente num soco na cara.
A imprensa, para não variar, chama seus “especialistas” para culpar tudo que possa ser relacionado com distribuição de renda ou com uma demonstração de “macheza”, como se fosse natural aos homens sair agredindo qualquer pessoa aleatoriamente nas ruas. A covardia dos ataques, como a que atingiu uma mulher de 78 anos outro dia, é tudo menos demonstração de coragem ou força, é exatamente o contrário.
O que chama atenção também, neste caso, é o silêncio dos ativistas de sempre e do presidente Barack Obama, tão ávidos para enxergar racismo na morte de Trayvon Martin, tese desmontada pela justiça, mas que não se mostraram interessados até agora pelo “knock-out game” e suas vítimas. O silêncio deve durar até que haja uma morte do lado dos agressores, já que, evidentemente, um dia algum americano branco usará uma arma legal para se defender e a esquerda americana terá um novo Trayvon Martin para faturar politicamente em cima.
Outra característica do “knock-out game” é que os jovens não roubam depois que as vítimas caem no chão apagadas, eles apenas saem rindo, saltitando e comemorando cada ataque – o que também desmonta a tese de que estão perturbados, fora do juízo perfeito pela “opressão” da sociedade racista, quando para eles é claramente um jogo.
Há um fenômeno social muito mais sério e grave acontecendo e que, com raras exceções, não é dada a devida atenção: o número de homens adultos que estão fora da força de trabalho, muitos morando com os pais, e que simplesmente desistiram de buscar emprego ou entrar no mercado. Alguns vivem de bicos, outros dormem de dia e passam a noite jogando videogames, outros fazem serviços temporários apenas para juntar dinheiro extra para as drogas e algum lazer, mas há um grave e perverso componente no comportamento desses homens que não formam famílias, não criam filhos, não buscam realização profissional, nada além de prazer e diversão que o cheque da assistência social do estado ao menos em parte garante todo mês.
Nos EUA, segundo dados do próprio governo, 92 milhões de adultos, um em cada três, não estão trabalhando ou desistiram de procurar emprego. É o nível percentual de adultos trabalhando mais baixo desde 1978, quando outro radical de esquerda, Jimmy Carter, ocupava a Casa Branca. O número de empregos criados no país atualmente não é suficiente nem para dar conta do crescimento populacional, quanto mais incorporar desempregados ao mercado de trabalho. O número de americanos recebendo algum tipo de assistência do governo recentemente rompeu a barreira de 100 milhões.
Sem querer entrar numa discussão estereotipada ou superficial sobre o papel dos homens no século XXI, é preciso refletir sobre o que o jornalista econômico Charles Payne quis dizer com a idéia de que “o welfare state está criando o eunuco moderno, castrado na alma por ter perdido seu papel como formador de família, de tomador de riscos e de líder”. Esses jovens que batem em avós distraídas nas ruas e depois saem rindo não tem qualquer idéia do que até bem pouco tempo se entendia por ser um homem.
O welfare state dispensa a necessidade da família tradicional por motivações puramente ideológicas e está usando dinheiro público para isso. Onde se tinha historicamente dois adultos somando esforços para conseguir pagar o orçamento doméstico e educar os filhos, agora entra o estado substituindo um deles. Para quem acha que isso é consequência de crises recentes e não causa, quando o movimento progressista chegou ao poder nos EUA, há mais de um século, o presidente Woodrow Wilson já dizia que cada cidadão deveria “se casar” com o estado.
Ano passado, o caso de Angel Adams, 38 anos, moradora de Tampa, na Flórida, mãe de 15 crianças de três pais diferentes, ficou famoso nos EUA quando seus filhos foram encontrados em condições insalubres e ela, ao ser entrevistada, disse: “alguém tem que ser responsável pelas minhas crianças”. Ela recebeu do governo casa mobiliada, eletrodomésticos, além de comida e da ajuda dos vizinhos e, mesmo assim, seus filhos continuam mal cuidados enquanto ela acha que é tudo culpa dos outros, incluindo do governo, menos dela. Em 2013, nasceu o décimo sexto filho de Angel Adams, chamada por alguns analistas de “welfare mom”, já que ela simboliza de maneira dramática a idéia de que você não é responsável nem pelos filhos que coloca no mundo.
Enquanto Angel Adams tem novos filhos, o campeonato brasileiro de futebol foi vencido esse ano, com folga e por antecipação, pelo Cruzeiro Esporte Clube de Belo Horizonte. Um detalhe que passou despercebido por parte da imprensa: o Cruzeiro é o time com mais jogadores casados que disputou o título. Durante o ano, nenhuma orgia registrada, nenhum hotel quebrado, nenhum flagra com “modelo e manequim” fazendo barraco em casa noturna. Coincidência?
Para Payne, é preciso analisar as consequências de se ter milhões de adultos saudáveis, pagos pelo governo para não trabalhar e não cuidar de eventuais filhos nascidos em relações fortuitas, que passam o dia sentados na porta de casa ou parados nas esquinas esperando o tempo passar. Um dado perturbador que Payne também cita: há cinquenta anos, o problema de saúde que liderava as aposentadorias por invalidez nos EUA era “doença cardíaca” e hoje é “dor nas costas”. Payne afirma que hoje basta um jovem saudável e forte dizer ao governo que está com dor nas costas para passar a viver de mesada de programas assistenciais do governo.
O Brasil também conhece o fenômeno, ao qual deu o nome de geração “nem nem” (nem trabalha, nem estuda). Nos últimos dez anos, o número de brasileiros de 17 a 22 anos que nem estudam e nem trabalham passou de 23,9% para 26,6% segundo o IBGE. E o que eles fazem o dia inteiro para preencher o tempo é um problema social que o welfare state só agrava.
Na Suécia, uma espécie de paraíso ficcional criado pela esquerda, os estupros saíram do controle. O país-símbolo do welfare state e do politicamente correto, segundo alguns levantamentos, está se tornando a capital mundial dos estupros, rivalizando em números apenas com a África do Sul. Se considerarmos o IDH do país e os programas assistenciais mais perdulários que se tem notícia, a comparação levanta questões morais e sociológicas que evidentemente não interessa à esquerda discutir. Na Suécia, até pré-adolescentes são vítimas comuns de estupros de jovens cada vez mais acomodados com os gordos cheques governamentais e sem qualquer motivação para buscar um emprego formal.
Os números de estupros registrados na Suécia continuam crescendo e um terço deles têm como vítimas mulheres abaixo dos 15 anos de idade (por favor não me venham a conversa de que há um excesso de registros feitos por ex-namoradas enciumadas, como alguns especularam quando esses números apareceram, as discussões metodológicas não mudam o fato de que os números são altíssimos e com viés de alta).
Recentemente, a imprensa mundial fez festa com o fato de que a Suécia estaria fechando presídios por falta de presos, mas o que os jornais não parecem interessados em mostrar é que prender menos não significa menos crimes, especialmente num país mergulhado numa espiral psicótica de teorias sociais esquerdistas em que o crime não pode mais ser chamado de crime. Agora você entende porque quando uma vítima nutre afeição e passa a defender o agressor chamamos de “Síndrome de Estocolmo”, numa referência direta a um sequestro ocorrido na capital sueca em 1973.
É importante que se entenda que nem todo país com alto índice de desemprego é vítima de “knockout games” ou estupros em série. É preciso também que o trabalho seja demonizado, é necessário que se crie via universidades, cultura pop e imprensa a idéia marxista de que a atividade remunerada na economia de mercado é algo perverso, opressor, que a inserção na força de trabalho é uma espécie de escravidão dos dias de hoje. É preciso também um ambiente hedonista e niilista que leve à busca desenfreada do prazer inconsequente, de preferência subsidiado pelo governo, o que para quem está numa idade de hormônios à flor da pele é um convite quase irresistível.
Em “Vai Trabalhar, Vagabundo”, Chico Buarque resume a idéia da esquerda sobre o trabalho numa sociedade de livre mercado: “Prepara o teu documento / Carimba o teu coração / Não perde nem um momento / Perde a razão / Pode esquecer a mulata / Pode esquecer o bilhar / Pode apertar a gravata / Vai te enforcar / Vai te entregar / Vai te estragar / Vai trabalhar.” O trabalho é, na visão de um ícone da esquerda brasileira, uma derrota para o sistema e a morte do prazer. Em 2013, o filme “Vai Trabalhar, Vagabundo”, com Hugo Carvana no papel principal, faz quarenta anos e hoje somos liderados na política, na cultura e das universidades, por pessoas que foram educadas na juventude com essas idéias.
O resultado está aí.
Há poucas semanas, Glenn Beck disse que a ansiedade que se vê nos jovens hoje é porque exigimos pouco deles, eles não são desafiados, não são testados, estamos sempre mimando, negligenciando e perdoando a nova geração. Beck disse “dê um pé na bunda do seu filho” e a imprensa tirou a frase do contexto de propósito para criar uma narrativa de que ele estava incitando a violência infantil, com a desonestidade intelectual de sempre. Qualquer pessoa que conheça o pronunciamento original de Beck sabe perfeitamente o que ele quis dizer.
Em resumo: jovem que trabalha ou que quer trabalhar, que pensa em formar uma família, que sonha em vencer profissionalmente, não soca idosas por trás apenas para preencher o tempo livre e remunerado pelo governo. Como disse Ronald Reagan, o melhor programa social que existe é o trabalho.
26 de novembro de 2013
Alexandre Borges é diretor do Instituto Liberal.
Publicado na Reaçonaria
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