Clima político eleitoral, confrontos e protestos dão uma esfriada, assim como a economia
O SHOW DA aliança de Marina Silva com Eduardo Campos por um tempo parecia ter lançado de vez a campanha eleitoral e até arremedos de debate de programas, como aquelas discussões vaporosas a respeito do "tripé de política econômica".
Naquelas semanas ainda pipocavam também protestos de rua variados, de manifestações restantes de professores a revoltas com incêndios de ônibus, as quais se tornaram mais esparsas e perdidas pelas periferias até se acalmarem também.
Foram os dias em que se notou o último suspiro de recuperação parcial do prestígio do governo e da presidente Dilma Rousseff, ao menos por enquanto. Notou-se também que, passado o período de exposição mais intenso na mídia, a votação de Maria e cia. deu uma desmilinguida. Normal. Mas deu.
Os pré-candidatos como que se retiraram do palco do show político, dedicando-se mais a vender seu peixe para a elite econômica, em encontros mais reservados.
Por ora, uma parte da política, a política politiqueira e candidatícia, parece ter esfriado. Curiosamente, outra vez curiosamente, os protestos de rua também. Os "black blocs" parecem ter quase hibernado a partir do final de outubro. Foi quando as polícias pareceram agir de modo mais coordenado para vigiá-los e puni-los; foi quando mesmo Dilma Rousseff criticou essas turmas e as chamou de "fascistas".
O clima não ficou bom, de qualquer maneira, embora as tempestades tenham varrido outras praças. Durante quase um mês, donos do dinheiro grosso, a cúpula da finança, economistas e outros interessados nesses assuntos, uma minoria poderosa e vocal, mas minoria, malhou o governo com palavras e taxas de juros mais altas, por assim dizer.
O "pior não passou", embora não tenha piorado recentemente. Entre esse público, "mercados", ficou uma nota de descrédito definitivo em relação à política econômica do governo.
O governo contra-atacou com algumas tentativas de contrapropaganda e juras de "absoluto controle" da economia, mas não convenceu quase ninguém. No fim, como tem feito mais ou menos desde abril, maio, rendeu-se em parte, prometendo alguns remendos na política econômica, em especial na de gastos públicos.
O show das prisões do mensalão talvez tenha causado alguma ilusão de ótica ou ruído bastante para abafar a sucessão de episódios de confronto que estávamos vendo desde junho ("ruas x políticos", "vândalos" x alguma coisa, pré-candidatos x governo, "mercado" x política econômica). Talvez seja apenas o final do ano chegando, as "festas", o calor do verão.
A economia anda abaixo de morna; para o cidadão comum, a sensação térmica é de esfriamento. A massa salarial nos últimos 12 meses não crescia tão pouco desde a recessão de 2009 ou do início difícil dos anos Lula. O crescimento do consumo caiu pela metade do que era nos últimos cinco anos; o crédito cresce na velocidade mais baixa em quase uma década. A inflação anda na mesma faz cinco anos e na mesma estará em 2014. O nível de emprego vai parando de crescer.
Não há grande motivo para achar que virá mudança importante até a eleição de 2014. O humor do cidadão será pior ou melhor do que o deste ano?
26 de novembro de 2013
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
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