Internacional - América Latina
Obama está em seu pior momento, após o fracasso do ‘Obamacare’ e os fiascos na segurança global. Segundo uma sondagem da CBS, 57% da população americana desaprova o que Obama está fazendo.
A Colômbia está em conflito larvado com uma coalizão internacional agressiva presidida por uma Rússia mais pérfida do que nunca.
Em sua condição de presidente da República da Colômbia e de candidato à re-eleição em 2014, Juan Manuel Santos prepara uma nova viagem oficial a Washington. Segundo um porta-voz da Casa Branca, no encontro com Barack Obama, em 3 de dezembro próximo, Juan Manuel Santos pedirá, provavelmente, apoio para o processo de paz com as FARC.
É curioso que seja a parte americana quem evoque este ponto em particular. Bogotá havia dado a entender de maneira muito mais elíptica os temas que os dois mandatários discutirão: “segurança da cidadania, direitos humanos e expansão econômica”. Em algum discurso na província, Santos assegurou alegremente que o tema da entrevista com Obama seria como “atrair mais investimento” para a Colômbia.
É evidente que o presidente Santos sente uma notável aversão pelos temas mais cruciais da Colômbia, neste momento, em matéria de soberania e segurança nacional, ante os quais ele deveria se sentir na obrigação de discutir com Obama. É o que todo mandatário responsável faria ao se reunir com o líder dos Estados Unidos, a única super potência mundial. Pois esse país é, precisamente, nosso principal aliado diplomático, militar e comercial desde sempre.
A Colômbia está a ponto de perder 75.000 km² de mar territorial no Caribe, por causa das intrigas e manobras jurídicas e militares da Nicarágua e Cuba, e de um bloco de regimes ditatoriais anti-americanos. A Colômbia está fazendo frente, por outro lado, a uma ascensão rápida da violência e da subversão narcoterrorista, por causa de uma aliança das FARC com esses mesmos regimes ditatoriais anti-americanos. Esses dois pontos deveriam ser priorizados na reunião Obama-Santos. Porém, não serão. Parece que para eles isso não tem importância.
Como se chegou a esse estado de coisas?
Santos perdeu a mão ante a Nicarágua, pois descuidou da aliança de defesa que a Colômbia tinha com os Estados Unidos e relegou os laços que a Colômbia começava a fazer com a OTAN. O excelente trabalho dos presidentes Pastrana e Uribe para atualizar a aliança com os Estados Unidos foi deixado no limbo por Santos. O ocorrido com os aviões russos Tupolev 160 que violaram o espaço aéreo colombiano em 28 de outubro e 1º de novembro de 2013, sem que a Colômbia pudesse fazer nada, não teria ocorrido se a Colômbia tivesse conservado seu plano para dotar sete bases militares colombianas com ajuda dos Estados Unidos.
Tal negligência é o resultado de outro fato: desde a chegada de Santos ao poder, a diplomacia colombiana foi feita em Caracas. Resultado: a Colômbia está mais só do que nunca e nem sequer a chavista UNASUL, após os serviços prestados por Bogotá na conformação desse clube sectário, que pretende tirar os Estados Unidos e o Canadá dos assuntos do hemisfério, não apóia a Colômbia em seu pleito contra a Nicarágua e não a apóia tampouco agora ante a agressão da Rússia de Putin.
O governo de Barack Obama também tem responsabilidade nisso? Claro que sim. O desinteresse de Obama pelo continente latino-americano, onde deixou que se instalassem cinco novos regimes anti-liberais e anti-americanos sob a palmatória da tirania venezuelana, é um fracasso maior dessa administração.
Há, por outro lado, um paralelo curioso entre Obama e Santos.
Depois de impedir desde 2009, por puros caprichos ideológicos, a assinatura do TLC (Tratado de Livre Comércio) com a Colômbia, e de tentar mudar o texto do mesmo, Obama aceitou respeitar esse tratado assinado em 2006. E acolheu em 2010 com beneplácito (e inspirou talvez?) as conversações de Santos com as FARC. Obama sonha em chegar a um acordo com o regime islâmico do Irã, como Santos sonha com um acordo com as FARC. Obama está disposto a assinar um compromisso com Teerã que lhe permita levantar as sanções ao Irã, embora não obtenha garantias reais para Israel. Santos está disposto a assinar qualquer papel com as FARC contanto que elas apóiem sua re-eleição e contribuam para adormecer os colombianos ante as perspectivas perversas que se preparam em Havana.
Obama sabe que o Irã está a ponto de chegar ao ponto de não-retorno na obtenção da arma nuclear. Santos faz dizer aos seus amigos que se está chegando “ao ponto de não-retorno” nos pactos secretos com as FARC. Obama sabe que o Irã estabelece abertamente, como acaba de reiterar Ali Khamenei, a destruição de Israel. Santos negocia com uma organização terrorista que procura acabar com a Colômbia e reforçar as posições dos aliados de Cuba e Venezuela.
Após os vôos russos sobre o espaço aéreo colombiano, Obama não disse nada: nem uma frase de apoio, nem uma frase de amizade pela Colômbia. Entretanto, tal incursão ilegal da Rússia foi o ato de agressão mais sombrio cometido pela Rússia no continente americano, desde a crise desatada pela URSS ao instalar mísseis nucleares em Cuba contra os Estados Unidos.
O regime de Assad salvou-se da derrubada graças ao apoio militar e diplomático da Rússia. Ao permitir Moscou desempenhar esse papel, Obama propinou aos Estados Unidos uma derrota geopolítica forte nesse ponto-chave do globo. As alianças construídas por Washington durante anos de esforços se vêem debilitadas agora.
Ao permitir que Putin passeasse impunemente dois de seus bombardeiros estratégicos, portadores eventuais de ogivas atômicas, no espaço aéreo colombiano e internacional do Mar do Caribe, a 60 milhas de Barranquilla, Obama propinou outro formidável golpe à segurança do continente americano.
De fato, o ocorrido no espaço aéreo colombiano em 1º de novembro passado, não é uma piada nem um fato isolado. É, ademais, uma continuação deliberada da ofensiva audaciosa de Putin para arrebatar a aliança ocidental, e sobretudo aos Estados Unidos, pontos geoestratégicos. É a continuidade do que ocorreu na Síria, onde Moscou apareceu como o novo patrão da diplomacia mundial. Um patrão que mostra os músculos à Colômbia e que defende os interesses das ditaduras que conspiram contra a Colômbia.
Esse é o verdadeiro marco político-diplomático da entrevista Santos-Obama em dezembro. Entretanto, o presidente Santos não parece interessado nisso, como tampouco a chanceler Holguín, que acaba de declarar que não encontrou “um fato novo que permita a revisão da decisão da Corte Internacional de Justiça de Haya”.
Santos trata de emendar seus erros na política exterior trocando o embaixador em Washington? Nada indica. Porém, embora Santos tratasse de fazê-lo, tal ação chegaria demasiado tarde. Obama está em seu pior momento, após o fracasso do ‘Obamacare’ e os fiascos na segurança global. Segundo uma sondagem da CBS, 57% da população americana desaprova o que Obama está fazendo.
A Colômbia está em conflito larvado com uma coalizão internacional agressiva presidida por uma Rússia mais pérfida do que nunca.
Santos também está em um mal momento. Um acordo secreto ou semi-secreto com as FARC o ajudará a se re-eleger, é certo. Porém tal acordo é, ao mesmo tempo, um peso morto: os colombianos jamais aceitarão ser governados ou co-governados pelas FARC. O repúdio é imenso na Colômbia contra essa máquina da morte.
Ante a perspectiva de ver os chefes do sangrento bando presidindo os destinos do Congresso colombiano e organizando vários grupelhos e partidos com imprensa, rádio e televisão própria, financiados com os nossos impostos, e vê-los ocupando milhões de hectares, com população e tudo, e ditando a linha à empresa privada e aos planos de desenvolvimento, e mudando o sistema eleitoral e impondo a censura da imprensa, como o prevêem os pactos de Havana (ver o chamado “acordo” de 6 de novembro de 2013), os colombianos não votarão no pai de semelhante suicídio.
Santos isolou a Colômbia por seu manejo esquerdista das relações exteriores com seus aliados históricos e pelo impulso cínico das conversações de paz mais anti-colombianas da história. Santos não pôde escapar da dinâmica que o mesmo criou e isso se verá mais e mais durante a contenda eleitoral. E Barack Obama não poderá tirá-lo da confusão.
26 de novembro de 2013
Eduardo Mackenzie
Tradução: Graça Salgueiro
Tradução: Graça Salgueiro
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