SÃO PAULO - É claro que um mundo onde uma teocracia amalucada como a do Irã não tenha armas atômicas é preferível a um no qual as possua. Receio, porém, que teremos de conviver, se não com um Irã nuclear, ao menos com um que tenha a capacidade de produzir bombas rapidamente, caso decida fazê-lo. Não creio que o armagedon virá daí.
O principal ingrediente de uma arma atômica é conhecimento, que, para o bem e para o mal, é quase impossível de conter. Todos os 31 países que mantêm usinas nucleares mais uma dezena de nações industrializadas poderiam, se desejassem e tivessem acesso ao material físsil, construir artefatos bélicos num intervalo que vai de meses a poucos anos.
Desses, Japão, Alemanha e Coreia do Sul estão provavelmente a um parafuso da bomba. Já têm tudo o que é necessário, mas optaram por não montá-la. Há sabedoria aí. Conservam-se fiéis às obrigações assumidas no Tratado de Não Proliferação Nuclear e ainda evitam os ônus de ser um Estado nuclear, como ter um número ainda maior de mísseis apontados para suas capitais e gastar um bom dinheiro na manutenção do armamento. E, em termos de poder dissuasório, é mínima a diferença entre ter de fato a arma e estar a um passo de fabricá-la. Não foi por outra razão que países como África do Sul e Ucrânia abriram mão de seus arsenais.
Há duas ordens de razões para que armas nucleares, embora existam há quase 70 anos, tenham sido utilizadas num só conflito. A primeira é matemática e leva o nome de "equilíbrio de Nash". A única maneira de não ser aniquilado numa guerra nuclear de larga escala é não a começando.
Há também uma dimensão psicológica. A humanidade desenvolveu verdadeiro horror a esse tipo de arma, vendo sua utilização como algo moralmente errado. Isso vale também para os iranianos. O próprio aiatolá Ali Khamenei já afirmou que a bomba é anti-islâmica. Freios morais não são 100% seguros, mas ajudam.
26 de novembro de 2013
HÉLIO SCHWARTSMAN, Folha de SP
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