Ninguém soube explicar de modo plausível a ausência de número tão grande de candidatos no Enem. Terão os jovens perdido a esperança?
Em nosso caso, há uma preocupação dominante com o ensino superior, ao qual chegam cerca de dez de cada cem alunos que entram a cada ano no fundamental (de acordo com o IBGE). É muito pouco e com um nível altamente discutível.
As perdas ocorrem pelo caminho, com coisas incríveis como os percalços do nosso tumultuado ensino médio, concluído por 40% dos que nele ingressam. Trata-se de uma vergonhosa evasão.
Aliás, fatos estranhos acontecem nessa faixa etária, que é estrategicamente de fundamental importância. Veja-se o último Enem (Exame Nacional do Ensino Médio): uma ausência de mais de 2 milhões de inscritos nas provas realizadas, causando um prejuízo de R$ 60 milhões aos cofres do Ministério da Educação.
Até agora, ninguém deu uma explicação plausível para esse fenômeno. Terão os jovens perdido a esperança em nosso modelo educacional? Ou a antevisão de uma prometida prova mais difícil fez os alunos desistirem?
Tudo hoje se baseia no conhecimento. Temos, no país, mais de 260 milhões de telefones celulares, alguns deles criados lá fora, mas montados aqui. Se somos a sexta economia do mundo, já não seria hora de melhorar de posição em relação aos exames internacionais, como o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos)? A prova de que as coisas não andam bem é o fato de ocuparmos a 53ª posição, perdendo para países de menor tradição cultural. A matemática é um bom exemplo dessa fraqueza.
A secretária de Educação do município do Rio de Janeiro, Cláudia Costin, no seminário da Associação Comercial, disse uma frase terrível: "O desastre do ensino médio começa no segundo segmento do ensino fundamental. Isso pode ser comprovado pelo fato de 65% dos formandos do nono ano não terem a menor noção do que se entende por porcentagem". Como essa gente vai se preparar para questões mais complexas, exigidas pela sociedade do conhecimento?
Chega-se sempre ao mesmo lugar-comum: se precisamos aperfeiçoar os mecanismos que nos levariam a melhorar a condição da educação no Brasil, o atual sistema, como disse o senador Cristovam Buarque, parece ultrapassado.
A formação dos professores, por exemplo, está totalmente invertida, pois os recursos humanos são colhidos nos estamentos mais baixos da sociedade.
Na Escandinávia, é o contrário. Os professores são escolhidos entre os melhores quadros, sendo a profissão altamente valorizada, inclusive financeiramente. Devemos atentar para isso.
26 de novembro de 2013
Arnaldo Niskier, Folha de São Paulo
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