RIO DE JANEIRO - Michael J. Fox, o ator de "De Volta para o Futuro", que interrompeu a carreira em 2000 quando os efeitos de sua doença de Parkinson ficaram muito evidentes, volta às telas numa série de TV --"O show de Michael J. Fox", pelo VH1-- que acaba de estrear aqui. Nela, ele faz um âncora de telejornal que, mesmo sofrendo da doença, retoma o trabalho e se expõe para milhões. A história se parece com a dele.
Ao ser diagnosticado com o parkinson, em 1991, Fox tinha 30 anos. A princípio lutou contra si mesmo, tentando escondê-lo. Até que resolveu ir à vida e contar tudo. Deu entrevistas a jornais e TVs, testemunhou no Congresso e criou a Fundação Michael J. Fox, dedicada a financiar pesquisas para permitir diagnósticos mais precoces, apoiar testes de remédios em laboratório e descobrir novas formas de aliviar os sintomas.
Por causa de Fox, os americanos com parkinson têm hoje menos vergonha de sua condição. Mas uma coisa é atuar nos bastidores; outra é abolir todas as defesas. Quem já assistiu a episódios da série, afirma que o telespectador logo se acostuma ao leve tremor de suas mãos e a certos movimentos involuntários, e até ri sem culpa dos diálogos que, incrivelmente, fazem humor com o parkinson.
Nenhuma celebridade com uma doença ou deficiência grave é obrigada a se abrir em público. Mas, para muitos, pode ter sido inspirador saber que Beethoven era surdo, que a atriz Sarah Bernhardt amputou uma perna (e ainda representou pelos nove anos seguintes, até sua morte) e que o escritor Jorge Luis Borges era cego. Ou que o nosso próprio e grande Paulo José também tem parkinson.
A Amazon oferece cerca de 20 livros sobre Michael J. Fox, dele próprio e de outros, autorizados ou não. E apesar (ou por causa) disso, ele continua amado e admirado, mais até do que como artista --como um homem.
06 de novembro de 2013
Ruy Castro, Folha de SP
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