"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

GOVERNO MENSALEIRO TORCE POR SOLUÇÃO RÁPIDA PARA EVITAR DESGASTE NAS ELEIÇÕES

Mensalão: Planalto torce por solução rápida para evitar desgaste.  Na base, há reações contraditórias entre o direito aos embargos infringentes, que possibilitam a revisão das condenações, e o temor do impacto do julgamento na campanha pela reeleição

Manifestantes ligados colocam faixa e montam o "Papuda-Móvel", ônibus em forma de cela, em frente ao STF -
Foto: André Coelho/Agência O Globo
Manifestantes ligados colocam faixa e montam o "Papuda-Móvel", ônibus em forma de cela, em frente ao STF -André Coelho/Agência O Globo

A indefinição com relação ao desfecho do julgamento do mensalão continua deixando apreensivos setores do governo e do PT. Interlocutores próximos da presidente Dilma Rousseff consideraram nesta quinta-feira que a reabertura do julgamento, com a aceitação dos embargos infringentes pelo Supremo Tribunal Federal (STF), é um risco. Há receio por causa do impacto imprevisível na campanha de reeleição do ano que vem, com a possibilidade da prisão de companheiros no auge do primeiro turno.
 
No PT, apesar de o discurso oficial ser de torcida pela validade dos embargos infringentes, há o mesmo receio de “um cadáver insepulto”, manifestado de forma reservada. O melhor cenário, para os governistas, seria enterrar logo o caso do mensalão petista, para começar o julgamento do mensalão mineiro, que atinge o PSDB de Aécio Neves (MG).
 
Defesa dos recursos
 
Apesar de apreensivo com a repercussão política, um ministro do governo Dilma ressaltou, entretanto, que, do ponto de vista jurídico, haveria o direito ao duplo grau de jurisdição, mesmo sendo o Supremo a instância máxima.
 
— A leitura política é que um novo julgamento prejudica (a reeleição da presidente Dilma). Mas não se pode negar o direito aos recursos — disse o ministro petista.
 
Esse aspecto também foi ressaltado pelo senador Jorge Viana (PT-AC):
 
— Como não cabe recurso, a análise dos embargos infringentes é importante para afastar qualquer questionamento em relação ao resultado do julgamento.
 
Entre os petistas, a avaliação não é unânime. Uma parte, solidária ao ex-ministro José Dirceu e aos deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP), condenados à prisão, torce para a reabertura do julgamento, na expectativa de que as penas sejam revistas. Outra ala do partido gostaria de virar a página, preocupada com o impacto nas eleições do ano que vem.
 
— Para a Dilma é ruim (a reabertura do julgamento) — afirmou um senador petista.
 
Seguindo o roteiro traçado desde o início do julgamento, o Palácio do Planalto tenta manter distância do assunto.
 
— Os poderes têm soberania, autonomia, e nós temos obrigação de harmonia. Então, por isso, é importante continuar trabalhando, e as deliberações do Supremo Tribunal Federal eu não comento — disse a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
 
É uma vergonha, diz aliado
 
Na base aliada, há quem critique abertamente a possibilidade de o Supremo decidir pela validade dos embargos infringentes.
 
— É uma vergonha. É o ditado: faça o que eu digo, não faça o que eu faço. Toda hora o Supremo critica o Congresso, corretamente, e agora vai dar um passo atrás? — criticou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
 
Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), a eventual decisão do Supremo a favor da apreciação dos embargos infringentes seria uma vitória de Pirro dos condenados:
 
— O assunto continuará vivo em ano eleitoral. Após esse alívio inicial, vai haver uma grande exposição negativa. E é uma vitória ilusória. Eles continuarão como réus, e não há garantia de reversão da pena.
 
O presidente nacional do DEM, José Agripino Maia (RN), espera que, diante dos argumentos jurídicos favoráveis a ambas posições, o decano Celso de Mello adote a posição de defensor do interesse da população:
 
— Já vi várias vezes, em casos de empate em julgamento de prefeitos no interior, o presidente do tribunal dar um voto “da sociedade”. O voto de desempate tinha de obedecer a essa lógica. A sociedade vai ficar a semana esperando o julgamento. A expectativa da sociedade e sua crença na Justiça são muito grandes — afirmou Agripino.

13 de setembro de 2013
Fernanda Krakovics, Luiza Damé e Paulo Celso Pereira - O Globo

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