Não fora ele experiente diplomata, seria de desconfiar que o fino e hábil negociador buscou a ajuda de uma hipérbole para dar ênfase à sua justificada preocupação. Até onde sei, não se trata, porém, de homem que se socorre da ênfase para dar força a um exagero afetado. As pessoas que o conhecem lhe testemunham o expressar ideias de forma discreta, valendo-lhe a qualidade do argumento, e não estridência da crítica.
Ademais, as pessoas que acompanham o desenrolar das atividades da diplomacia pátria avaliam com espanto as atitudes descabidas que têm sido tomadas, nesses últimos dez anos, pelo palácio de Rio Branco, no seu ofício secular de representar o Brasil com competência nas nobres relações com Estados estrangeiros, com os quais mantemos, tradicionalmente, respeitosa e acatada convivência.
Infelizmente, para grande constrangimento nosso, não temos mantido, no cenário mundial, uma voz autorizada de comedimento, equilíbrio e compostura, devotada ao resguardo das tradições transmitidas desde os tempos de Rio Branco, que nos legou precioso preceito: “A pasta das Relações Exteriores não é e não deve ser uma pasta de política interna. Não venho servir a um partido político: venho servir ao Brasil”.
POLÍTICA EXTERNA
Fiel aos rumos impressos pelo patrono da nossa diplomacia, o Brasil sempre primou em adotar, na política externa, postura além e acima de questiúnculas internas ou meramente regionais, quando não de ridículo caráter ideológico, em confronto com a vocação do Estado e dos brasileiros, sempre reafirmada nas suas constituições democráticas. As exceções nunca passaram de episódios a que corresponderam apagões institucionais passageiros, sem forças, sobretudo político-morais, capazes de criar raízes.
Eis que os festejos tributados ao ex-presidente Lula, nos primórdios do seu primeiro mandato, nada mais foram que “boutades” exóticas, excitadas pelo excesso de valorização dos seus pretensos méritos.
Submetidas a reflexões mais sérias, não conseguiram ultrapassar as barreiras do exótico, que tanto chocou a opinião amadurecida das elites pensantes do país, como o caso bizarro do deslocamento intempestivo do chefe do Estado, acolitado pelo seu extravagante ministro do Exterior, em direção ao Irã, com a infantil pretensão de intermediar a inserção de um Estado jactancioso e extravagante na comunidade das nações. Infelizmente, o resultado da temeridade não passou de monumental ridículo, orquestrado por um presidente logo caído em desgraça, de cujo nome esquisito ninguém se lembra mais.
Aqui mesmo, na América Latina, não nos faltaram vexames, admissíveis porventura em ambiente escolar de primeiro grau. Diplomacia primária, que deve ter perturbado os ilustres ossos do barão.
20 de setembro de 2013
Márcio Garcia Vilela
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