O Globo nos mostra mais um claro exemplo da forma como a velha imprensa constrói uma narrativa de difamação para atingir aqueles que não compartilham da sua agenda.
Tudo começou no dia 5 de fevereiro de 2019, quando os jornalistas Sérgio Roxo e Francisco Leali publicam uma matéria no jornal O Globo com o título “Filho de Bolsonaro divulga documentário que defende a ditadura“.
O texto informa que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) havia compartilhado um trailer do documentário “1964: O Brasil entre Armas e Livros”, produzido pelo Brasil Paralelo.
Nos 19 parágrafos da matéria não é possível encontrar uma evidência de que o documentário seja uma produção em “defesa da ditadura”, mas este detalhe não impediu que as opiniões dos jornalistas fossem parar no título da matéria e repercutisse em outros jornais brasileiros.
Menos de um mês mais tarde, no dia 1º de março, o mesmo jornal O Globo publica uma matéria de caráter informativo sobre a decisão do Cinemark de proibir a exibição do documentário sobre o 31 de março de 1964.
O título da matéria é “Cinemark diz ter errado ao exibir filme pró-ditadura“. Mais uma vez, o veículo da velha imprensa decidiu colocar no título da matéria que o documentário do Brasil Paralelo defende o período do regime militar.
Para justificar o uso do termo “pró-ditadura” na manchete, a redação de O Globo cita como fonte a matéria do próprio jornal publicada em fevereiro, aquela que aborda o fato do filho do presidente Jair Bolsonaro ter compartilhado o trailer nas suas redes sociais.
Reviravolta na narrativa do jornal
Menos de 72 horas depois da proibição do Cinemark e da última matéria de O Globo, o Brasil Paralelo decidiu divulgar o documentário “1964: O Brasil entre Armas e Livros” gratuitamente no YouTube. No momento da produção desta matéria, o vídeo já conta com mais de 1,3 milhão de visualizações.
O Globo falou sobre o assunto. Em matéria publicada na manhã desta quarta-feira (3), menos de 24 horas após a publicação do documentário, o jornal voltou a classificar o filme como defensor da ditadura.
“Entrevistados em filme pró-ditadura reconhecem que houve golpe em 64” é a manchete do texto de autoria da jornalista Juliana Dal Piva.
Apesar de continuar a rotular o filme como “pró-ditadura”, ao longo da matéria, a jornalista se viu forçada a admitir que os especialistas presentes no documentário não são defensores da ditadura militar, muito pelo contrário.
O filósofo Olavo de Carvalho, por exemplo, confirma a existência de um golpe e tece críticas contra a ação dos militares em 1964 e nos anos seguintes:
“O movimento de 64 não foi militar. Ele começou como movimento civil. Só que no final, eles (militares) se precipitaram. Eles nem queriam dar o golpe. Foi o (general) Mourão Filho que se precipitou e obrigou os outros generais a entrar na coisa.”
E acrescentou:
“No primeiro momento, eles salvaram. Realmente, desmantelaram uma ‘revolução comunista’, mas começaram a fazer cagada no dia seguinte. Todo mundo tinha expectativa de novas eleições em seis meses. Ninguém pediu para eles tomarem o poder. Aí fizeram o golpe dentro do golpe.”
Nos 16 parágrafos da sua matéria, após citar algumas declarações contra o golpe de entrevistados pelo documentário, a jornalista de O Globo não cita nenhum trecho do filme do Brasil Paralelo onde seja possível identificar uma enaltação da ditadura militar.
Este “mero detalhe” não impediu o jornal de continuar a rotular a obra como uma peça “pró-ditadura” na manchete.
Até que ponto o fato de um jornal de grande porte ter classificado erroneamente o documentário como “pró-ditadura” influenciou na decisão do Cinemark de proibir a exibição do mesmo?
Acredito que nunca iremos conhecer a resposta para essa pergunta.
03 de abril de 2019
renova mídia
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