Muito se tem falado sobre as relações diplomáticas que estão aceleradamente se consolidando entre Brasil e Israel. Nesta semana, o Brasil dá o passo mais importante de sua história no amadurecimento dessa relação: a viagem de quatro dias do presidente Jair Bolsonaro para Israel.
Tanto os que defendem (minoria) quanto os que criticam esse passo diplomático, poluem a discussão com argumentos absolutamente incríveis e lamentáveis.
Um gigantesco desconhecimento está na base desse passo histórico.
Mesmo em relação aos que defendem o estabelecimento dessa relação, há um sem-fim de bem-intencionados (que não se confudem com os bem-aventurados) e cuja linha de defesa é meramente rebater os tristes e preocupantes argumentos de quem ataca o estabelecimento dessa relação.
Na linha de ataque, e na maioria das vezes escamoteando um antissemitismo “pós-modernizado” na forma de um antissionismo cúbico, simplifico dividindo-os em duas categorias: progressistas e liberais.
Os progressistas são os amantes da chamada “causa palestina”. Há, entre eles inclusive, um número razoável de judeus seculares (alguns deles estão até no Bagatz, o STF de Israel). Aos progressistas, neste texto, não dedicarei mais nenhuma linha. Este parágrafo é mais do que lhes é merecido.
Já os ditos “liberais” enxergam a coisa apenas sob o ponto de vista econômico – é a turma da “Carne Halal”. A esses, igualmente, dediquei o que merecem neste parágrafo, com menos caracteres que o anterior (deixando-os em dívida comigo).
Defender a consolidação de uma relação diplomática profunda e enraizada, sob o prisma da simples refutação desses pontos de vista é, na premissa, aceitá-los para, na defesa, opor freios de arrumação a ideias vergonhosas.
Gostaria de ressaltar a importância da viagem de Jair Bolsonaro para Israel sob o prisma do “mínimo que você precisa saber sobre o tema para não ser um… antissionista de sinal trocado”.
Israel é, em primeiro lugar, a democracia mais antiga da história da humanidade.
A Democracia hebraica antecede até mesmo a grega.
Como já bem lembrou Flavio Morgenstern alhures, antes mesmo de usarmos o termo “democracia”, temos que saber o seu sentido e, como anos depois da Tanah sedimentou Platão em sua República, a democracia é na verdade uma distorção da república (assim como a tirania é uma distorção da monarquia e a oligarquia, da aristocracia). A democracia, realocada para o termo oclocracia em Aristóteles, nada mais é do que a famosa “ditadura da maioria”.
Deixo, contudo, de me preocupar aqui com essa sutileza semântica e trato aqui do termo “democrático” exatamente no sentido em que foi vulgarizado recentemente: como “a melhor forma de governo, dentre as piores”. Democracia, tecnicamente, não é forma nem modelo de governo, mas rendo meu quépe ao gosto popular e passo a usar o termo de sabor do povo.
Termos a parte, então, é na verdade na Tanah, especificamente nos seus cinco primeiros livros (a Torah), que as regras hoje tidas como “democráticas” surgiram na história.
Yoram Hazony em seu já clássico The Virtue of Nationalism (no prelo para tradução por este colunista) coloca isso com detalhes, explicando como as nossas aspirações democráticas não nascem (mas sim se distorcem) na Revolução Francesa, sendo as aspirações democráticas (republicanas, melhor dizendo) obra exclusiva da tradição hebraica. O governante do povo judeu não é um monarca de aspirações divinas, lembra Hazony, mas sim um dentre os irmãos, pelas virtudes que nele são reconhecidas.
Na diáspora, o espírito republicano e o amor pela liberdade e pelas tradições, como fruto de um compromisso de um povo com o seu Inspirador, é mantido de maneira rigorosa e sobrevive há cinco milênios de perseguições, expulsões, conversões forçadas, pogroms, escravidão e mais de um holocausto, tendo o último deles aniquilado 6 milhões de guardiões e guardiãs dessa cultura. É passado de geração para geração, independentemente de governo ou território.
Hoje, com governo e território, esse verdadeiro tesouro cultural encontrou o seu Baú da Aliança – a aliança cultural assentada em um local específico e determinado, ainda segue precisando da ajuda de povos como o brasileiro, para conquistar o seu mero reconhecimento e o seu direito a autodeterminação.
Esse pouco que temos a oferecer (reconhecimento) vale muito para Israel; tanto quanto vale o muito que Israel pode oferecer ao Brasil em termos de lição de vida e lições de vidas.
Conectar-se com Israel é fazer as pazes com os mais sofisticados valores democráticos.
Encarar essa conexão sob o prisma de “carne Halal” versus “dessalinização” é, de fato, um motivo que traz mágoas para quem vive mais de perto com esse tesouro a céu aberto chamado Estado de Israel.
A relação com Israel está, de fato, acima de questões ideológicas – é exatamente onde o Presidente Bolsonaro provará de fato se ele está disposto a negociar com todos que tenham afinidade com os valores democráticos, independentemente do viés ideológico (uma promessa de campanha).
Um Estado nascido pelo esforço de David Ben-Gurion sob a administração firme do Mapai, o já extinto partido trabalhista (de natureza sindical com fortes laços com o Histadrut, a CUT Israelense atuante até hoje), que fez de Israel uma república socialista entre 1947 e 1977, tendo a partir daí alternado governos de direita (dominados pelos revisionistas herdeiros da doutrina sionista de Jabotinsky, como foi Menachen Begin e vem sendo Benjamin Netanyahu) e de esquerda (como os governos de Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Ehud Barak), teve, ao longo de sua vida recente, o pior tratamento diplomático possível por parte do Brasil.
Até hoje esse tratamento desprezível se deu independentemente do viés ideológico. Destaco que os piores momentos nessas relações diplomáticas se deram durante o regime militar brasileiro e, posteriormente, durante os anos PT (Temer, incluso, ao meu ver, nos anos PT, de quem foi aliado fiel).
O Brasil sempre fez questão de cultivar o pior relacionamento possível com Israel, apesar da “amizade” que manteve com nações como Síria, Líbia, Vietnam (sobretudo a do General Giap), China (maoista, sobretudo), Cuba e até a Coreia do Norte, onde o Brasil alegremente construiu uma meiga embaixada.
O Brasil não tem vergonha de sentar-se a mesa com ditaduras e com os piores e mais sanguinários e racistas ditadores do mundo; mas até hoje, tinha uma inexplicável timidez em fazer o mesmo com Israel.
Os relacionamentos priorizados com tais nações chegaram a gerar, inclusive, duas condecorações da Ordem Cruzeiro do Sul que são verdadeiros vexames diplomáticos: Ernesto “Che” Guevara (condecorado por Jânio Quadros) e Bashar el-Assad (condecorado por Lula). A amizade de Lula com Kadaffi é, inclusive, inegável, assim como os laços do Brasil e do MST com Yasser Arafat.
Mas não é dessa justiça que o estabelecimento dos vínculos Brasil-Israel tratam. Essa justiça com o nosso passado filotirânico, o futuro haverá de se encarregar. Falo aqui do presente, de hoje, de exatamente a data de hoje.
Israel tem muito mais a oferecer do que a sua tecnologia de ponta, que o seu espetacular páteo de start ups, que um enorme mercado consumidor de nossos gêneros do agronegócio, ou que as suas universidades – Israel tem algo em torno de seis mil anos de cultura democrática para nos oferecer.
Falo aqui das vicissitudes culturais e do amor pela liberdade nacional, sem contar a música, as artes, e os locais de Fé e peregrinação.
(Não que Israel não tenha defeitos; mas os defeitos só se descobrem pelas vicissitudes).
Se tanto amamos a liberdade e a democracia, por que o Brasil teme tanto Israel?
Qual amor a tolerância se dá sem que de Israel se tirem as lições?
Qual povo pode te ensinar tolerância, Fé e resignação tanto quanto o povo de Israel?
Por que falamos tanto de “dívida histórica de escravidão” e ao mesmo tempo não pagamos a nossa, ao menos com um aperto de mão e um abraço no irmão que estende a nós a mão e diz, “Haver, estou feliz por ve-lo em minha casa…”?
Que balança comercial paga o muito que podemos aprender com esse vínculo de amizade?
O Brasil tem muito a aprender com Israel e seu povo. Muito.
Espero que Jair Bolsonaro traga de Israel exatamente essa centelha de aprendizado e comece com a primeira lição do mundo judaico – suas palavras são a medida do quanto você vale.
Não volte atrás em promessas, jamais, nunca, em hipótese alguma. Se não puder manter o prometido, não prometa; se prometeu, cumpra. (Vale também para os japoneses, mas esta cultura e esse povo igualmente magnânimo fica para outro dia).
E se você, que começou a ter curiosidade a partir daqui e quer entender mais sobre Israel, vai-lhe a recomendação – se quiser começar, comece pelo começo. E o começo, em hebraico, é pela palavra, especificamente a própria palavra “começo”, o Bereshit, a Gênese, ou o Gênesis.
03 de abril de 2019
Evandro F. Pontes
renova mídia
Tanto os que defendem (minoria) quanto os que criticam esse passo diplomático, poluem a discussão com argumentos absolutamente incríveis e lamentáveis.
Um gigantesco desconhecimento está na base desse passo histórico.
Mesmo em relação aos que defendem o estabelecimento dessa relação, há um sem-fim de bem-intencionados (que não se confudem com os bem-aventurados) e cuja linha de defesa é meramente rebater os tristes e preocupantes argumentos de quem ataca o estabelecimento dessa relação.
Na linha de ataque, e na maioria das vezes escamoteando um antissemitismo “pós-modernizado” na forma de um antissionismo cúbico, simplifico dividindo-os em duas categorias: progressistas e liberais.
Os progressistas são os amantes da chamada “causa palestina”. Há, entre eles inclusive, um número razoável de judeus seculares (alguns deles estão até no Bagatz, o STF de Israel). Aos progressistas, neste texto, não dedicarei mais nenhuma linha. Este parágrafo é mais do que lhes é merecido.
Já os ditos “liberais” enxergam a coisa apenas sob o ponto de vista econômico – é a turma da “Carne Halal”. A esses, igualmente, dediquei o que merecem neste parágrafo, com menos caracteres que o anterior (deixando-os em dívida comigo).
Defender a consolidação de uma relação diplomática profunda e enraizada, sob o prisma da simples refutação desses pontos de vista é, na premissa, aceitá-los para, na defesa, opor freios de arrumação a ideias vergonhosas.
Gostaria de ressaltar a importância da viagem de Jair Bolsonaro para Israel sob o prisma do “mínimo que você precisa saber sobre o tema para não ser um… antissionista de sinal trocado”.
Israel é, em primeiro lugar, a democracia mais antiga da história da humanidade.
A Democracia hebraica antecede até mesmo a grega.
Como já bem lembrou Flavio Morgenstern alhures, antes mesmo de usarmos o termo “democracia”, temos que saber o seu sentido e, como anos depois da Tanah sedimentou Platão em sua República, a democracia é na verdade uma distorção da república (assim como a tirania é uma distorção da monarquia e a oligarquia, da aristocracia). A democracia, realocada para o termo oclocracia em Aristóteles, nada mais é do que a famosa “ditadura da maioria”.
Deixo, contudo, de me preocupar aqui com essa sutileza semântica e trato aqui do termo “democrático” exatamente no sentido em que foi vulgarizado recentemente: como “a melhor forma de governo, dentre as piores”. Democracia, tecnicamente, não é forma nem modelo de governo, mas rendo meu quépe ao gosto popular e passo a usar o termo de sabor do povo.
Termos a parte, então, é na verdade na Tanah, especificamente nos seus cinco primeiros livros (a Torah), que as regras hoje tidas como “democráticas” surgiram na história.
Yoram Hazony em seu já clássico The Virtue of Nationalism (no prelo para tradução por este colunista) coloca isso com detalhes, explicando como as nossas aspirações democráticas não nascem (mas sim se distorcem) na Revolução Francesa, sendo as aspirações democráticas (republicanas, melhor dizendo) obra exclusiva da tradição hebraica. O governante do povo judeu não é um monarca de aspirações divinas, lembra Hazony, mas sim um dentre os irmãos, pelas virtudes que nele são reconhecidas.
Na diáspora, o espírito republicano e o amor pela liberdade e pelas tradições, como fruto de um compromisso de um povo com o seu Inspirador, é mantido de maneira rigorosa e sobrevive há cinco milênios de perseguições, expulsões, conversões forçadas, pogroms, escravidão e mais de um holocausto, tendo o último deles aniquilado 6 milhões de guardiões e guardiãs dessa cultura. É passado de geração para geração, independentemente de governo ou território.
Hoje, com governo e território, esse verdadeiro tesouro cultural encontrou o seu Baú da Aliança – a aliança cultural assentada em um local específico e determinado, ainda segue precisando da ajuda de povos como o brasileiro, para conquistar o seu mero reconhecimento e o seu direito a autodeterminação.
Esse pouco que temos a oferecer (reconhecimento) vale muito para Israel; tanto quanto vale o muito que Israel pode oferecer ao Brasil em termos de lição de vida e lições de vidas.
Conectar-se com Israel é fazer as pazes com os mais sofisticados valores democráticos.
Encarar essa conexão sob o prisma de “carne Halal” versus “dessalinização” é, de fato, um motivo que traz mágoas para quem vive mais de perto com esse tesouro a céu aberto chamado Estado de Israel.
A relação com Israel está, de fato, acima de questões ideológicas – é exatamente onde o Presidente Bolsonaro provará de fato se ele está disposto a negociar com todos que tenham afinidade com os valores democráticos, independentemente do viés ideológico (uma promessa de campanha).
Um Estado nascido pelo esforço de David Ben-Gurion sob a administração firme do Mapai, o já extinto partido trabalhista (de natureza sindical com fortes laços com o Histadrut, a CUT Israelense atuante até hoje), que fez de Israel uma república socialista entre 1947 e 1977, tendo a partir daí alternado governos de direita (dominados pelos revisionistas herdeiros da doutrina sionista de Jabotinsky, como foi Menachen Begin e vem sendo Benjamin Netanyahu) e de esquerda (como os governos de Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Ehud Barak), teve, ao longo de sua vida recente, o pior tratamento diplomático possível por parte do Brasil.
Até hoje esse tratamento desprezível se deu independentemente do viés ideológico. Destaco que os piores momentos nessas relações diplomáticas se deram durante o regime militar brasileiro e, posteriormente, durante os anos PT (Temer, incluso, ao meu ver, nos anos PT, de quem foi aliado fiel).
O Brasil sempre fez questão de cultivar o pior relacionamento possível com Israel, apesar da “amizade” que manteve com nações como Síria, Líbia, Vietnam (sobretudo a do General Giap), China (maoista, sobretudo), Cuba e até a Coreia do Norte, onde o Brasil alegremente construiu uma meiga embaixada.
O Brasil não tem vergonha de sentar-se a mesa com ditaduras e com os piores e mais sanguinários e racistas ditadores do mundo; mas até hoje, tinha uma inexplicável timidez em fazer o mesmo com Israel.
Os relacionamentos priorizados com tais nações chegaram a gerar, inclusive, duas condecorações da Ordem Cruzeiro do Sul que são verdadeiros vexames diplomáticos: Ernesto “Che” Guevara (condecorado por Jânio Quadros) e Bashar el-Assad (condecorado por Lula). A amizade de Lula com Kadaffi é, inclusive, inegável, assim como os laços do Brasil e do MST com Yasser Arafat.
Mas não é dessa justiça que o estabelecimento dos vínculos Brasil-Israel tratam. Essa justiça com o nosso passado filotirânico, o futuro haverá de se encarregar. Falo aqui do presente, de hoje, de exatamente a data de hoje.
Israel tem muito mais a oferecer do que a sua tecnologia de ponta, que o seu espetacular páteo de start ups, que um enorme mercado consumidor de nossos gêneros do agronegócio, ou que as suas universidades – Israel tem algo em torno de seis mil anos de cultura democrática para nos oferecer.
Falo aqui das vicissitudes culturais e do amor pela liberdade nacional, sem contar a música, as artes, e os locais de Fé e peregrinação.
(Não que Israel não tenha defeitos; mas os defeitos só se descobrem pelas vicissitudes).
Se tanto amamos a liberdade e a democracia, por que o Brasil teme tanto Israel?
Qual amor a tolerância se dá sem que de Israel se tirem as lições?
Qual povo pode te ensinar tolerância, Fé e resignação tanto quanto o povo de Israel?
Por que falamos tanto de “dívida histórica de escravidão” e ao mesmo tempo não pagamos a nossa, ao menos com um aperto de mão e um abraço no irmão que estende a nós a mão e diz, “Haver, estou feliz por ve-lo em minha casa…”?
Que balança comercial paga o muito que podemos aprender com esse vínculo de amizade?
O Brasil tem muito a aprender com Israel e seu povo. Muito.
Espero que Jair Bolsonaro traga de Israel exatamente essa centelha de aprendizado e comece com a primeira lição do mundo judaico – suas palavras são a medida do quanto você vale.
Não volte atrás em promessas, jamais, nunca, em hipótese alguma. Se não puder manter o prometido, não prometa; se prometeu, cumpra. (Vale também para os japoneses, mas esta cultura e esse povo igualmente magnânimo fica para outro dia).
E se você, que começou a ter curiosidade a partir daqui e quer entender mais sobre Israel, vai-lhe a recomendação – se quiser começar, comece pelo começo. E o começo, em hebraico, é pela palavra, especificamente a própria palavra “começo”, o Bereshit, a Gênese, ou o Gênesis.
03 de abril de 2019
Evandro F. Pontes
renova mídia
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