Pairam dúvidas sobre a confiabilidade desses números, já que muitos recursos sumiram em malas pretas
Se o investimento hoje é produção amanhã, então estamos mal também por esse lado.
O investimento é um dos componentes do PIB, pela óptica da demanda. E vem tendo comportamento medíocre. No PIB, o investimento leva o nome de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Em 2013 andava por volta dos 21% do PIB, volume que já era baixo para o País que pretendia crescer 4% ao ano. Para isso, seria necessário um investimento de pelo menos 24% do PIB. Mas nos últimos três anos, veio mergulhando mais. No primeiro trimestre de 2017, caiu 28% em relação a mesmo período de 2014: ficou nos 15,7% do PIB.
Ainda assim, pairam dúvidas sobre a confiabilidade desses números. Um exemplo é o efeito produzido pela corrupção, que o IBGE pouco consegue mensurar. Nos últimos três anos, a Petrobrás extirpou dos balanços nada menos que R$ 115,25 bilhões de investimentos em refinarias e subsidiárias, na verdade desviados para corrupção.
Não é só a Petrobrás. Os recursos escorreram em outras estatais, nas obras das hidrelétricas, dos estádios da Copa, das rodovias... Mas esses pseudoinvestimentos seguem nas séries históricas do IBGE. Em novembro, será divulgado o PIB definitivo de 2015, última vez que o IBGE se debruçará sobre aquele ano, provavelmente sem conseguir dar baixa em muito dinheiro que era investimento, mas sumiu em malas pretas.
O que acontece com o Investimento Direto no País (IDP) também exige atenção e reparos. Desde 2015, o Banco Central, responsável pelas estatísticas de entrada e saída de capitais estrangeiros, adota o critério do Fundo Monetário Internacional, que inclui empréstimos intercompanhias nos investimentos estrangeiros.
A entrada líquida dos investimentos estrangeiros mostra grande força. Nos últimos seis anos, atingiram US$ 507,46 bilhões. Apesar da crise braba, para este ano, esperam-se outros US$ 75 bilhões. É um desembarque saudado como prova de confiança na economia do Brasil.
O problema está nos empréstimos intercompanhias. Boa parte não é investimento. Destina-se ou a comprar participações em negócios já existentes e, nesse caso, se limita a cobrir transferências de ações ou, então, não passa de operações de arbitragem com juros.
Quando corresponde à compra de instalações já existentes, não atua como investimento novo, embora seja registrada assim. As operações com arbitragem com juros são entradas líquidas de dinheiro barato levantado no mercado internacional que aqui abocanham rendimentos no generoso mercado financeiro, sem aumentar a capacidade de produção do País.
Estimativas da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet) são de que os investimentos estrangeiros sobre o total de investimentos no Brasil foram de 13,4% em 2014 e de 26,8% em 2016. Mas somente o Banco Central tem como separar investimento de operações destinadas a tirar proveito dos juros. E ele não conta os números a ninguém. /COM RAQUEL BRANDÃO E LETICIA FUCUCHIMA, ESPECIAL PARA O ESTADO
CONFIRA
» Números inflados
Em complemento ao que ficou dito acima, certos analistas também entendem que os números dos Investimentos Diretos no País (IDP) estão inflados. Como esses recursos não se destinarão necessariamente ao setor produtivo, podem não contribuir para aquecer a economia. Bruno Lavieri, consultor da 4E, é um deles. Para ele, as estatísticas do IDP são pouco esclarecedoras pelas razões já apontadas: ou porque não passam de compra de participação acionária, dinheiro que pode ficar no bolso do sócio anterior, ou porque podem ser operações disfarçadas de arbitragem com juros.
» Depois melhora
Fabio Silveira, sócio-diretor da consultoria MacroSector, vê as movimentações de aquisição de participação acionária com mais otimismo. Os estrangeiros podem estar comprando apenas ativos de empresas nacionais, mas o mais comum é que, em algum momento, invistam mais, não só para aumentar a capacidade de produção, mas, também, para transferir tecnologia.
06 de junho de 2017
Celso Ming, Estadão
Se o investimento hoje é produção amanhã, então estamos mal também por esse lado.
O investimento é um dos componentes do PIB, pela óptica da demanda. E vem tendo comportamento medíocre. No PIB, o investimento leva o nome de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Em 2013 andava por volta dos 21% do PIB, volume que já era baixo para o País que pretendia crescer 4% ao ano. Para isso, seria necessário um investimento de pelo menos 24% do PIB. Mas nos últimos três anos, veio mergulhando mais. No primeiro trimestre de 2017, caiu 28% em relação a mesmo período de 2014: ficou nos 15,7% do PIB.
Ainda assim, pairam dúvidas sobre a confiabilidade desses números. Um exemplo é o efeito produzido pela corrupção, que o IBGE pouco consegue mensurar. Nos últimos três anos, a Petrobrás extirpou dos balanços nada menos que R$ 115,25 bilhões de investimentos em refinarias e subsidiárias, na verdade desviados para corrupção.
Não é só a Petrobrás. Os recursos escorreram em outras estatais, nas obras das hidrelétricas, dos estádios da Copa, das rodovias... Mas esses pseudoinvestimentos seguem nas séries históricas do IBGE. Em novembro, será divulgado o PIB definitivo de 2015, última vez que o IBGE se debruçará sobre aquele ano, provavelmente sem conseguir dar baixa em muito dinheiro que era investimento, mas sumiu em malas pretas.
O que acontece com o Investimento Direto no País (IDP) também exige atenção e reparos. Desde 2015, o Banco Central, responsável pelas estatísticas de entrada e saída de capitais estrangeiros, adota o critério do Fundo Monetário Internacional, que inclui empréstimos intercompanhias nos investimentos estrangeiros.
A entrada líquida dos investimentos estrangeiros mostra grande força. Nos últimos seis anos, atingiram US$ 507,46 bilhões. Apesar da crise braba, para este ano, esperam-se outros US$ 75 bilhões. É um desembarque saudado como prova de confiança na economia do Brasil.
O problema está nos empréstimos intercompanhias. Boa parte não é investimento. Destina-se ou a comprar participações em negócios já existentes e, nesse caso, se limita a cobrir transferências de ações ou, então, não passa de operações de arbitragem com juros.
Quando corresponde à compra de instalações já existentes, não atua como investimento novo, embora seja registrada assim. As operações com arbitragem com juros são entradas líquidas de dinheiro barato levantado no mercado internacional que aqui abocanham rendimentos no generoso mercado financeiro, sem aumentar a capacidade de produção do País.
Estimativas da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet) são de que os investimentos estrangeiros sobre o total de investimentos no Brasil foram de 13,4% em 2014 e de 26,8% em 2016. Mas somente o Banco Central tem como separar investimento de operações destinadas a tirar proveito dos juros. E ele não conta os números a ninguém. /COM RAQUEL BRANDÃO E LETICIA FUCUCHIMA, ESPECIAL PARA O ESTADO
CONFIRA
» Números inflados
Em complemento ao que ficou dito acima, certos analistas também entendem que os números dos Investimentos Diretos no País (IDP) estão inflados. Como esses recursos não se destinarão necessariamente ao setor produtivo, podem não contribuir para aquecer a economia. Bruno Lavieri, consultor da 4E, é um deles. Para ele, as estatísticas do IDP são pouco esclarecedoras pelas razões já apontadas: ou porque não passam de compra de participação acionária, dinheiro que pode ficar no bolso do sócio anterior, ou porque podem ser operações disfarçadas de arbitragem com juros.
» Depois melhora
Fabio Silveira, sócio-diretor da consultoria MacroSector, vê as movimentações de aquisição de participação acionária com mais otimismo. Os estrangeiros podem estar comprando apenas ativos de empresas nacionais, mas o mais comum é que, em algum momento, invistam mais, não só para aumentar a capacidade de produção, mas, também, para transferir tecnologia.
06 de junho de 2017
Celso Ming, Estadão
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