Enquanto o deputado licenciado Rodrigo Rocha Loures depositava os 35 mil reais restantes da mala que transportava a propina, o presidente da OAB, Cláudio Lamarchia anunciava a entrega oficial do pedido de impeachment contra o presidente Michel Temer na Câmara Federal. Crime comum ou crime de responsabilidade? É a dúvida que faz uma grande diferença no processo. Porque nos crimes de responsabilidade o presidente da República é julgado pelo Parlamento. Nos crimes comuns, pelo Supremo Tribunal Federal. A dúvida, entretanto, não é o principal obstáculo para a instauração do processo.
O principal obstáculo é o deputado Rodrigo Maia, que tem recusado continuamente os pedidos de impeachment já apresentados contra Temer. Mas até que ponto Rodrigo Maia poderá se recusar a dar sequência a um procedimento amparado pela Constituição e iluminado pelos fatos que se sucedem quase diariamente no Brasil? A OAB certamente apresentará recurso ao plenário para fazer tramitar a proposta de impedimento. O caminho é este, pois, caso contrário, o presidente da Câmara Federal poderia resistir solitariamente a um elenco de fatos e de situações que vêm atingindo em cheio o Palácio do Planalto.
DELAÇÃO DE LOURES – Informa-se que Rocha Loures está disposto a ingressar no campo da delação premiada. O deputado assume, assim, o papel do homem fatal de Nelson Rodrigues. Afinal de contas, para quem ele transportaria a mala cheia de notas de 50 reais que perfazem o total de 500 MIL?
O deputado licenciado já confessou, por ação direta, ser o transportador da mala ilegal. Caso contrário, não teria espontaneamente depositado na Caixa Econômica Federal a parcela de 35 mil reais que se evaporou nas ruas de São Paulo no vai e vem marcado no seu encontro com Ricardo Saud na Pizzaria Camelo. Difícil há de ser cada vez mais o esforço de Rodrigo Maia de assumir o papel de guardião impossível de uma trama cada vez mais clara.
TEMER ACUADO – A situação do presidente Michel Temer é cada vez mais insustentável e sua capacidade de conviver com o cerco à sua volta diminui a cada momento. Em reportagem publicada no Valor desta quinta-feira, Raimundo Costa, Daniel Ritner e Andrea Jubé revelam que o fator que está mantendo Michel Temer no Planalto reside no impasse em torno da escolha de seu sucessor.
Existem vários candidatos em escala equivalente de vetos e divergências. A coordenação colocada em prática pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso inclui até o PT. Embora o partido de Lula defenda a aprovação de emenda constitucional transformando em diretas a eleição indireta do sucessor, nos bastidores aceita participar do diálogo, para assegurar presença no futuro governo.
Michel Temer encontra-se no fio da navalha, para citar o romance famoso de Somerset Maugham. O desfecho do drama está próximo. Pelo menos quanto à emergência constitucional da sucessão de um presidente que nomeou uma equipe absurda no governo.
26 de maio de 2017
Pedro do Coutto
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