O dono do resort Portobello, Cláudio Jardim Borges, disse, em depoimento à Polícia Federal, que repassou mais de R$ 1 milhão a duas empresas sob investigação na Operação Calicute sem que qualquer serviço tenha sido prestado. O resort repassou R$ 328 mil à empresa de Carlos Emanuel Miranda, apontado pelo Ministério Público Federal como operador financeiro do esquema comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral, e R$ 844 mil ao escritório de advocacia da ex-primeira-dama, Adriana Ancelmo.
O empresário disse que a contratação das duas empresas foram indicações do próprio ex-governador. As duas empresas são investigadas por supostamente receberem dinheiro de propina através de serviços simulados.
Borges disse que os dois repasses referiam-se a serviços a serem prestados, mas que nunca o foram. Ele, contudo, negou tratar-se de propina. Disse que não pediu a devolução do dinheiro por “consideração a pessoa de Sérgio que sempre ajudou na divulgação do Portobello”.
VENDA DE LOTES – “[Ele declarou] Que já tinha tido uma experiência positiva com a venda de um lote do Portogalo que gerou bons frutos ao empreendimento, em função da notoriedade de Ayrton Senna, assim como de Sérgio Cabral desde que também adquiriu no Portobello, fazendo com que pessoas ilustres comprassem lotes no local”, disse ele na quinta-feira (17), dia da operação, à PF.
O Portobello é investigado sob suspeita de lavar dinheiro da quadrilha comandada por Cabral, segundo a procuradoria
De acordo com o relato, a Gralc Consultoria, de Miranda, foi indicada pelo ex-governador quando Borges decidiu migrar seu gado da criação Nellore para Brahman. Cabral indiciou o amigo de adolescência para ajudá-lo, “mas acabou por não acontecer tal assessoria”, disse o empresário.
Ele disse que não foi formalizado nenhum contrato entre o Portobello e a consultoria. Houve o repasse em 2010, mas sem serviço ou cobrança por devolução dos recursos. À PF, Miranda disse que prestou serviços de consultoria empresarial para o resort.
ADRIANA ANCELMO – Relato semelhante é feito em relação ao escritório de advocacia de Adriana Ancelmo. “O hotel Portobello fez um contrato com o escritório de Adriana Ancelmo para que causas vultuosas fossem encaminhadas para a mesma, a pedido de Sérgio Cabral”, diz o termo de depoimento de Borges.
Assim como com a Gralc, não foi feito nenhum contrato com a Ancelmo Advogados. Num primeiro momento, o empresário afirmou que “a cobrança pelos serviços eram efetuadas a medida que o hotel demandasse ações, sendo para tanto emitido as respectivas notas fiscais sobre cada processo”.
A PF exige, então, que o Portobello apresente uma relação de serviços e processos relativo a cada nota fiscal emitida. Neste momento do depoimento, o empresário “esclarece que Adriana acabou por não atuar formalmente em nenhum processo, e mais uma vez o declarante não quis promover nenhuma ação de cobrança ou outras medidas em consideração a pessoa de Sérgio Cabral”.
“Os processos foram encaminhados a seu escritório através de seu assessor jurídico Alexandre Thiago, não tendo havido retorno”, declara o empresário.
DEPOIMENTO MENTIROSO – Em depoimento à PF, a ex-primeira-dama disse ter como comprovar todos os serviços prestados aos clientes que lhe transferiram recursos nos últimos anos.
Outro que relatou indicação do ex-governador ao escritório da ex-primeira dama foi Luiz Alexandre Igayara, dono da Rica Alimentos. Ele afirmou que Ancelmo Advogados “orientou a empresa durante os processos trabalhistas e no pedido de recuperação judicial por volta de junho de 2015”. O serviço custou R$ 1,1 milhão, segundo a procuradoria.
Em período semelhante, Cabral intermediou a tentativa de venda da empresa à JBS, como revelou a Folha. E-mails entre Igayara, o ex-governador e um executivo da JBS mostram a negociação, que não foi concluída.
VENDA DE ATIVOS – À PF, o empresário negou que o peemedebista tenha negociado venda de ativos da Rica. A JBS disse que Cabral apresentou “a oportunidade de negócio”, mas “não atuou como agente, intermediário ou corretor”.
A empresa também fez repasses de R$ 93 mil à Gralc, de Miranda, entre 2007 e 2008. À polícia, Igayara disse não se recordar, mas que buscaria informações.
25 de novembro de 2016
Italo Nogueira
Folha
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