O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusou o presidente Michel Temer de também pressioná-lo a liberar as obras do prédio La Vue, na ladeira da Barra, uma das áreas mais valorizadas de Salvador, embargadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em depoimento à Polícia Federal, Calero disse que Temer o chamou ao Palácio do Planalto e determinou que ele “construísse uma saída” porque a decisão do Iphan teria criado “dificuldades operacionais” no gabinete dele, especialmente com o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.
Segundo o blog do jornalista Jorge Bastos Moreno, do GLOBO, amigos de Geddel, após conversarem com Temer na quinta, aconselharam o ministro a pedir demissão, alegando que sua situação tornou-se insustentável, principalmente depois que Calero o denunciou à PF. Ao blog, Geddel negou ter sido procurado por ministros para tratar do tema. Atribui as notícias a “assessores palacianos que acreditam que sua saída seja melhor para o governo”.
“Não tenho motivo nenhum para pedir demissão” — disse o ministro.
CONVERSA GRAVADA – Sobre rumores de uma gravação da última conversa que o ministro demissionário teve com Temer, o porta-voz Alexandre Parola, disse que Temer “estranha” a declaração dada por Calero à PF de que foi “enquadrado” pelo presidente.
“Portanto, (Temer) estranha sua afirmação, agora, de que o presidente o teria enquadrado ou pedido solução que não fosse técnica. Especialmente, surpreendem o presidente da República boatos de que o ex-ministro teria solicitado uma segunda audiência, na quinta-feira (17), somente com o intuito de gravar clandestinamente conversa com o presidente da República para posterior divulgação”.
Ainda segundo o blog de Moreno, o Palácio do Planalto passou a acreditar nesses boatos porque, nesse segundo encontro com o presidente no início da noite, após uma conversa na tarde do mesmo dia, Calero não acrescentou nenhuma novidade. Na avaliação do Planalto, ele teria pedido essa nova audiência só para gravar o presidente.
AGU SOLUCIONARIA… – No depoimento à PF, Calero disse que na quinta-feira, dia 17, “foi convocado pelo presidente Michel Temer a comparecer no Palácio do Planalto; que nesta reunião o presidente disse ao depoente que a decisão do Iphan havia criado ‘dificuldades operacionais’ em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado”. Segundo Calero, Temer disse ainda “que construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU (Advocacia-Geral da União), porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução”.
No depoimento, Calero também envolveu o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha. Segundo Calero, Padilha lhe telefonou para tratar do embargo da construção, quando teria lhe dito que “a questão estava judicializada” e que “tentasse construir uma saída com a AGU”. Já Rocha teria dito que também conversara com o presidente e orientado Calero a “encaminhar os autos do processo para a AGU”.
Calero afirmou que decidiu deixar o governo após o último contato de Rocha. “Isso foi determinante para a saída do depoente do governo, pois demonstrava a insistência do presidente em fazer com que o depoente interferisse indevidamente no andamento do processo”, registra o depoimento.
PADILHA E ROCHA – Padilha admitiu a conversa e disse que sua intenção era encontrar uma solução dentro da lei. Rocha também afirmou que esse foi seu objetivo.
Calero reafirmou as acusações que fizera contra Geddel. Segundo ele, o ministro o pressionou de forma descabida a liberar as obras do empreendimento La Vue porque era dono de um dos apartamentos do prédio a ser construído numa área tombada pelo patrimônio histórico.
O conteúdo do depoimento de Calero à PF foi divulgado pela “Folha de S.Paulo” e confirmado pelo Globo. A partir das declarações do ex-ministro, a PF pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de inquérito contra Geddel. O STF já repassou o pedido da polícia ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem cabe dar parecer sobre o assunto. A tendência é que Janot peça abertura de inquérito.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Um homem decente como Marcelo Calero, advogado e diplomata de carreira, não poderia mesmo suportar o convívio com os atuais locatários do Planalto. Ao depor na Polícia Federal, ele se comportou com a dignidade que se espera de todo servidor da República. O fato positivo é que Geddel não tarda a se demitir. E aí só faltará Temer se livrar de Eliseu Padilha, para se libertar da influência direta dos caciques do PMDB, que atuam dentro do palácio do governo defendendo os próprios interesses e relegando os interesses da nação. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Um homem decente como Marcelo Calero, advogado e diplomata de carreira, não poderia mesmo suportar o convívio com os atuais locatários do Planalto. Ao depor na Polícia Federal, ele se comportou com a dignidade que se espera de todo servidor da República. O fato positivo é que Geddel não tarda a se demitir. E aí só faltará Temer se livrar de Eliseu Padilha, para se libertar da influência direta dos caciques do PMDB, que atuam dentro do palácio do governo defendendo os próprios interesses e relegando os interesses da nação. (C.N.)
25 de novembro de 2016
Jailton De Carvalho e Catarina AlencastroO Globo
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