Quem ainda tinha expectativa de um crescimento melhorzinho no ano que vem deve deixá-la na porta da esperança perdida que deve ser o número do PIB que sai na quarta (30).
Não há, porém, sentido de emergência entre essa gente que, por convenção cada vez mais equivocada, chamamos de "lideranças políticas". Se por mais não fosse, porque quase não há lideranças, quase não há política e boa parte dessa turma está muito ocupada em fugir da polícia.
A combinação dessas imundícies com outro ano de degradação social e de estagnação econômica em um poço fundo eleva o risco de que aberrações políticas se apresentem com sucesso na eleição de 2018.
Mas voltemos à vaca fria de quase morta do PIB.
A não ser em caso de revisão estatística milagrosa, os números do terceiro trimestre vão confirmar previsões de economia praticamente estagnada em 2017. O PIB per capita cresceria perto de nada no ano que vem, em nível semelhante ao que estava em meados de 2010.
Depois de 2013, o país empobreceu 9,1% por cabeça. Desde o início do século 20 (1901, sim), apenas se viu desgraça assim entre 1980 e 1983, final da ditadura militar, como já se lembrou tantas vezes nestas colunas.
Pelo andar da carruagem previsto nestes tempos deprimidos de renda, ânimos e capacidades políticas, apenas em 2020 a economia voltaria ao tamanho relativo de 2010. Seria outra década perdida (em termos per capita: a produção da economia em um ano, o PIB, dividido pelo número de habitantes do país).
Encurtar essa desgraça, nem que seja por um ano, é a primeira emergência –sem fazer mágicas e milagres, claro.
A parte operante do governo se dedica inteiramente a arrumar as contas, a evitar uma explosão astronômica da dívida pública. Dado o método que escolheram para lidar com o problema, não devem fazer outra coisa pelos próximos anos.
Com um ajuste gradual (sem aumento de imposto e mais cortes), vão no máximo evitar que o crescimento de despesas, como a Previdenciária, acabe com os fundos já mínimos dedicados ao investimento público ("em obras"), pois a despesa estará limitada por um "teto", se isso der certo.
Daí não virá estímulo a crescimento, a não ser pela via indireta, de permitir talvez a baixa mais rápida das taxas de juros. Talvez.
No mais, a "Ponte para o Futuro" está caindo. O plano de privatizar e conceder obras a empresas privadas não anda. Não há plano visível de limpeza do entulho burocrático que emperram negócios no país –nem mesmo de uma equipe dedicada a isso. É o que resta a fazer em um programa dito liberal de reestruturação econômica.
Não está sendo feito. Não há equipe que trate desses assuntos como o pessoal da Fazenda trata da desgraça macroeconômica –goste-se ou não, ao menos tratam.
Nas estatais, reconheça-se, algo anda na Petrobras e, em medida menor, começou a andar na Eletrobras, no Banco do Brasil e na Caixa.
Isso é para o futuro. Agora, o Brasil começou a correr o risco de cair em alguma espécie de depressão. O crescimento pode ir além do 1% previsto para 2017 –estimativas são ruins para além de um semestre. Mas surgem indícios de que pode ficar aquém. Num limbo degradado e inédito.
25 de novembro de 2016
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
Não há, porém, sentido de emergência entre essa gente que, por convenção cada vez mais equivocada, chamamos de "lideranças políticas". Se por mais não fosse, porque quase não há lideranças, quase não há política e boa parte dessa turma está muito ocupada em fugir da polícia.
A combinação dessas imundícies com outro ano de degradação social e de estagnação econômica em um poço fundo eleva o risco de que aberrações políticas se apresentem com sucesso na eleição de 2018.
Mas voltemos à vaca fria de quase morta do PIB.
A não ser em caso de revisão estatística milagrosa, os números do terceiro trimestre vão confirmar previsões de economia praticamente estagnada em 2017. O PIB per capita cresceria perto de nada no ano que vem, em nível semelhante ao que estava em meados de 2010.
Depois de 2013, o país empobreceu 9,1% por cabeça. Desde o início do século 20 (1901, sim), apenas se viu desgraça assim entre 1980 e 1983, final da ditadura militar, como já se lembrou tantas vezes nestas colunas.
Pelo andar da carruagem previsto nestes tempos deprimidos de renda, ânimos e capacidades políticas, apenas em 2020 a economia voltaria ao tamanho relativo de 2010. Seria outra década perdida (em termos per capita: a produção da economia em um ano, o PIB, dividido pelo número de habitantes do país).
Encurtar essa desgraça, nem que seja por um ano, é a primeira emergência –sem fazer mágicas e milagres, claro.
A parte operante do governo se dedica inteiramente a arrumar as contas, a evitar uma explosão astronômica da dívida pública. Dado o método que escolheram para lidar com o problema, não devem fazer outra coisa pelos próximos anos.
Com um ajuste gradual (sem aumento de imposto e mais cortes), vão no máximo evitar que o crescimento de despesas, como a Previdenciária, acabe com os fundos já mínimos dedicados ao investimento público ("em obras"), pois a despesa estará limitada por um "teto", se isso der certo.
Daí não virá estímulo a crescimento, a não ser pela via indireta, de permitir talvez a baixa mais rápida das taxas de juros. Talvez.
No mais, a "Ponte para o Futuro" está caindo. O plano de privatizar e conceder obras a empresas privadas não anda. Não há plano visível de limpeza do entulho burocrático que emperram negócios no país –nem mesmo de uma equipe dedicada a isso. É o que resta a fazer em um programa dito liberal de reestruturação econômica.
Não está sendo feito. Não há equipe que trate desses assuntos como o pessoal da Fazenda trata da desgraça macroeconômica –goste-se ou não, ao menos tratam.
Nas estatais, reconheça-se, algo anda na Petrobras e, em medida menor, começou a andar na Eletrobras, no Banco do Brasil e na Caixa.
Isso é para o futuro. Agora, o Brasil começou a correr o risco de cair em alguma espécie de depressão. O crescimento pode ir além do 1% previsto para 2017 –estimativas são ruins para além de um semestre. Mas surgem indícios de que pode ficar aquém. Num limbo degradado e inédito.
25 de novembro de 2016
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
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