Um projeto do deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) apresentado no dia 10 de outubro pretende reduzir o poder do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) para embargar obras no país. A proposta foi protocolada no mesmo dia em que o nome do deputado, da base do governo Michel Temer, aparece na agenda do ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) para audiência.
Além deste encontro, a agenda de Geddel menciona mais três reuniões com o mesmo deputado: dias 11 e 18 de outubro e 24 de agosto.
O projeto de Leitão quer sustar a Instrução Normativa nº 1, publicada em março de 2015, que estabelece procedimento para que o Iphan, subordinado ao Ministério da Cultura, participe da análise de licenciamento de obras.
ESCÂNDALO EM SALVADOR – Geddel é pivô de uma crise desde que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero o acusou, em entrevista à Folha, de pressionar contra parecer do Iphan que embargou construção de um prédio em área tombada de Salvador.
Geddel tem um apartamento no empreendimento. Ele admite ter conversado sobre o tema com Calero, mas nega a pressão. Reportagem da Folha revelou que um sobrinho e um primo do ministro representam os interesses do projeto imobiliário em processo que tramita no Iphan.
“JUSTIFICATIVAS” – Em sua proposta contra a instrução normativa do Iphan, o deputado Leitão afirma que os processos de licenciamento adotados pelo órgão têm “contribuído para o excesso de burocracia e consequente morosidade do procedimento”.
Segundo o parlamentar tucano, as exigências da instrução normativa do órgão “são absolutamente inviáveis e extrapolam aquilo tido como razoável, invariavelmente demandando estudos arqueológicos e outros procedimentos que trazem um altíssimo custo financeiro”.
No entanto, o Iphan afirma que, sem a normativa, o órgão “não terá como avaliar, por exemplo, se a construção de um determinado empreendimento estará ou não destruindo o patrimônio cultural brasileiro”. O instituto ressalta ainda que atrasos maiores poderão ocorrer nas obras devido a processos judiciais em defesa do patrimônio histórico.
OUTRO LADO – Procurado pela Folha, Leitão confirmou dois dos quatro encontros registrados na agenda de Geddel: um no dia 24 de agosto e outro em 18 de outubro – disse que os outros foram cancelados.
Ele nega que o projeto que tramita na Câmara sobre o Iphan tenha sido tratado nas reuniões. “Não tem nada a ver. Fui falar com ele sobre cargos no Mato Grosso, por causa da mudança do governo. Foi esse o assunto. Ele nunca falou comigo sobre isso [Iphan e o apartamento em Salvador]. Fiquei sabendo pelas notícias.”
Procurado pela reportagem, Geddel negou que tenha influenciado o deputado a apresentar a proposta: “Pelo amor de Deus. Eu nem sabia da existência do tal projeto”.
RURALISTAS – Leitão diz que o projeto visa ainda defender os ruralistas, que, segundo ele, enfrentam dificuldades com o órgão. O deputado é vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária.
“Do jeito que está a regra, o Iphan tem de ser consultado para qualquer licença. Quando você precisa de uma para plantar arroz, você tem de pedir para muitos órgãos, um deles é o Iphan. Mas o que acontece é que o órgão fica um tempão com o pedido e não decide nada”, disse. “Essa briga já é velha. Muito anterior às notícias de agora.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como no samba de Luis Reis e Haroldo Barbosa, o deputado Leitão tem cara de palhaço, roupa de palhaço, pinta de palhaço, mas garante que não é palhaço. Na verdade, ele apenas gosta de nos fazer de palhaços. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como no samba de Luis Reis e Haroldo Barbosa, o deputado Leitão tem cara de palhaço, roupa de palhaço, pinta de palhaço, mas garante que não é palhaço. Na verdade, ele apenas gosta de nos fazer de palhaços. (C.N.)
25 de novembro de 2016
Camila Mattoso
Folha
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