Garrastazú Médici vinha de uma posse tumultuada por conta da grave doença do presidente Costa e Silva. Depois de uma inusitada Junta Militar, acabou sendo “eleito” o então comandante do III Exército, que ao tomar posse manteve alguns ministros e nomeou outros. Ficaram Delfim Netto, Mario Andreazza e Costa Cavalcanti, sendo deslocado Jarbas Passarinho, do Trabalho para a Educação. Depois da primeira vez que despacharam no palácio do Planalto, já se levantando, Passarinho surpreendeu-se com a iniciativa do chefe, que pegou o papel celofane de um maço de cigarros já vazio, enrolou-o bem fininho e o ofereceu ao auxiliar. Sem entender, o novo ministro da Educação recebeu a explicação: “quando terminar meu mandato, pretendo passar-lhe o bastão”. Cauteloso, Passarinho ficou em silêncio e a promessa jamais se cumpriu. Nem ele cobrou.
Anos depois, Médici já morto, indaguei do ex-ministro o significado do gesto. Ele sorriu, confirmou a intenção não concretizada do general completou: “Com tantos generais candidatos, eles bateriam continência para um coronel?”
O coronel Jarbas Passarinho não chegou à presidência da República, mas houve outra oportunidade. O regime militar estava terminando, o general João Figueiredo lavara as mãos, o candidato civil e da oposição teria de ser Tancredo Neves. Matreiro como nunca, o ex-governador de Minas procurou Passarinho, dando a impressão de abrir o jogo: “Se você for candidato, eu não serei!”
Mentira, mas faltava uma palavra também matreira de entendimento, que coube ao ex-ministro: “Você acha que os generais bateriam continência?”
Tancredo foi eleito, mas, da mesma forma, foi embora antes de tomar posse. Passarinho viajou domingo, também sem assumir a presidência da República…
07 de junho de 2016
Carlos Chagas
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