Dois colaboradores da Operação Lava Jato fecharam acordos com o Departamento de Justiça dos EUA para dar informações sobre o envolvimento de cidadãos e empresas americanas no esquema de corrupção na Petrobras. Oito meses após a vinda do procurador Patrick Strokes ao Brasil para negociar delações, o executivo da Toyo Setal Augusto de Mendonça e o lobista Julio Camargo aceitaram se tornar colaboradores em território americano.
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e o doleiro Alberto Youssef, ambos condenados aqui, são outros que tentam um acerto. O ex-diretor da estatal Nestor Cerveró, que sai da prisão no dia 24, também quer contar o que sabe aos americanos sobre, entre outros temas, a aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas. Segundo o ex-executivo, o negócio gerou um pagamento de propina de US$ 15 milhões.
Neste mês, sua advogada, Alessi Brandão, viajará aos EUA para se informar sobre as tratativas. Ela não confirma e não nega a viagem.
OPERAÇÕES EM DÓLAR – Nos depoimentos prestados por Augusto de Mendonça, em dezembro, e Julio Camargo, em março, os agentes americanos concentraram suas perguntas nas operações feitas em dólar e que utilizaram entidades vinculadas ao seu país. Os interrogatórios duraram cerca de dez horas. O advogado Eduardo Boccuzzi, que conduziu os processos, não quis comentar.
Na conversa inicial com os delatores, Strockes explicou que brasileiros que se utilizaram de empresas ou bancos naquele país para lavar dinheiro ou que fizeram transações em dólares teriam boas chances de serem processados também nos EUA.
GARANTIAS E ISENÇÃO – Em abril, após assinar o acordo, Mendonça recebeu as garantias de que não será processado em território americano e que ficará isento de pagar mais multas além das já impostas pela Justiça brasileira. Camargo contou com os mesmos benefícios.
Outro fato que estimulou a corrida pelo acordo é o risco de envolvidos na Lava Jato não poderem sair do Brasil, com chances de serem presos em território estrangeiro.
O ex-gerente Pedro Barusco, por exemplo, relatou a interlocutores que pretende firmar o acordo para seguir com seu tratamento de combate a um câncer ósseo nos EUA.
GREEN CARD – Alberto Youssef tentou obter o green card, o cartão de residência permanente nos EUA, por meio do acordo. A Justiça americana, porém, descartou a possibilidade.
Os acordos ainda garantem que as informações colhidas pelo Departamento de Justiça não poderão ser usadas contra eles em ações movidas por investidores que processam a Petrobras na Justiça americana em busca de reparação para seus prejuízos.
Outro alvo de investigação do Departamento de Justiça Americana é a Odebrecht, que negocia um acordo no país enquanto busca firmar a delação premiada de cerca de 50 executivos no Brasil, incluindo o herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht. Se as negociações vingarem, a empresa terá que pagar uma multa, e as descobertas feitas pelos investigadores americanos serão mantidas em segredo.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A matéria precisa de tradução simultânea. Se prestar depoimento às Justiça dos EUA sobre Pasadena, Cerveró vai acusar novamente Dilma, como já fez aqui na República de Curitiba. O ex-diretor Paulo Roberto Costa também pode dedurá-la. Em 2009, ele tomou a liberdade de passar por cima de toda a hierarquia da Petrobras para alertar o Palácio do Planalto que, por ter encontrado irregularidades pelo terceiro ano consecutivo, o Tribunal de Contas da União recomendou a paralisação de três grandes obras — a construção das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Getúlio Vargas, no Paraná, e do terminal do porto de Barra do Riacho, no Espírito Santo. Na mensagem à então ministra Dilma, da Casa Civil, Costa lembrou que nos anos de 2008 e 2007 houve ‘solução política’ para contornar as decisões do TCU e da Comissão Mista de Orçamento do Congresso”. (C.N.)
13 de junho de 2016
Bela Megale e Ricardo Balthazar
Folha
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