O pessoal de Dilma garante que ela vira o resultado do impeachment e volta à Presidência (foi afastada durante o processo e, se absolvida, reassume). Os dilmistas querem convencer senadores mais flexíveis de que dá para ganhar, e muito, virando o voto. O pessoal contra Dilma diz que o resultado não está garantido, e que se seus senadores trocarem votos por pixulecos podem topar com Dilma de volta. Os dois lados defendendo a mesma tese, baseada no jogo de cintura, caráter (e bolso) de seus próprios aliados. Está todo mundo louco.
Há quem defenda a volta de Dilma, que prometeria renunciar e convocar imediatamente eleições diretas. Isso exigiria reformar a Constituição de uma hora para outra, sem tempo para isso; confiar em promessa de políticos e na palavra de Dilma. Então, tá – tá todo mundo louco.
A hora é boa para loucuras. Cerveró acusou Dilma de sacaneá-lo e disse o nome de quem levou mais de meio bilhão de reais em pixulecos petrolíferos. Pelo que disse, sobrou algum para Lula e Dilma; e apontou o papel de Dilma na compra da Refinaria de Pasadena, com seus 700 milhões de dólares a mais. Roubo vá lá; mas passar Cerveró para trás? Tolerar traição é bem mais caro.
Tá todo mundo louco, oba!
Munição de reserva
Na terça que vem, Renan deve depor na Polícia Federal. A repercussão do depoimento só depende dele: sabe muito, mas pode passar por cima do que não for de seu interesse. E a coisa toda está pegando fogo: o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, confirmou que o apartamento do Guarujá que não é de Lula é de Lula, sim, e com isso abre novos caminhos de investigação.
Marcelo Odebrecht vai ter um trabalhão para delatar alguma novidade.
Trio parada dura
O procurador-geral Rodrigo Janot pediu ao Supremo a prisão de Renan, Jucá e Cunha; e a prisão domiciliar, com tornozeleiras eletrônicas, de Sarney. Político importante preso é mais raro que empreiteiro na cadeia (e até isso já temos). Acima de Cunha, Renan e Jucá, mais Sarney, só mesmo Lula e Dilma – atenção: isto é uma reflexão, não uma sugestão.
A propósito, que dirão agora os petistas, que acusavam as operações da Polícia de atingir só o PT? Os quatro citados por Janot eram aliados, sim, do Governo petista, mas já faz tempo que mudaram de lado.
Temer sim, Temer não
A criação de 14 mil cargos federais e um bom aumento ao funcionalismo foram aprovados pelo presidente Michel Temer. Parece que já estavam calculados no déficit, então tudo bem, deixa a bola rolar. Só que alguns economistas respeitados, vários deles próximos a Temer, começaram a fazer contas. Os recursos podiam estar englobados no déficit, mas tinham de ser gastos. E a área econômica foi a única do Governo, até hoje, a merecer elogios gerais. Temer mudou rápido de posição: aumento só para juízes, que mandam prender e soltar, e com quem vale a pena manter boas relações. Quem esperava maiores benefícios espera mais um pouco.
Temer pode não fazer, mas desfazer é com ele.
Uma senhora chamada Luis
Ou, chamando-a pelo nome completo, Luislinda Dias de Vallois – filha de Iansã, rastafári, ex-Miss Mulata Bahia, negra, desembargadora, 71 anos, “divorciada e ousada”, é agora secretária de Igualdade Social do Governo Temer.
Aprendeu muito sobre o mundo aos nove anos, quando seus pais não puderam comprar o material de desenho de plástico pedido pelo professor. Seu material era de madeira, que seus pais puderam comprar. O professor foi duro: “Então, você não devia estar estudando, e sim cozinhando feijoada para os brancos”. Hoje ela ocupa o cargo com que o professor jamais sonhou.
O homem que falava a verdade
Gentil, acessível – ótima fonte de informação sobre o poder. Hélio Garcia, 85 anos, duas vezes governador de Minas, morreu no domingo, elogiado por aliados e adversários. Não foi acusado de desvios nem de abuso de autoridade. E ajudou a montar a Frente mineira, que uniu o Estado em torno de Tancredo Neves. Era bom frasista. Em seu segundo mandato, pouco foi ao Palácio.
Explicava: “A cada medida que deixo de assinar, o Estado economiza muito”.
Problema prático
Michel Temer viaja em julho a Montevidéu, para reunião do Mercosul. Quem fica em seu lugar: Renan, presidente do Senado (e possível presidiário) ou o substituto legal, Waldir Maranhão, presidente da Câmara? Legalmente, o nome certo é o de Maranhão.
Mas será o reconhecimento internacional de que no Brasil “tá todo mundo louco, oba!”
13 de junho de 2016
Carlos Brickmann
Há quem defenda a volta de Dilma, que prometeria renunciar e convocar imediatamente eleições diretas. Isso exigiria reformar a Constituição de uma hora para outra, sem tempo para isso; confiar em promessa de políticos e na palavra de Dilma. Então, tá – tá todo mundo louco.
A hora é boa para loucuras. Cerveró acusou Dilma de sacaneá-lo e disse o nome de quem levou mais de meio bilhão de reais em pixulecos petrolíferos. Pelo que disse, sobrou algum para Lula e Dilma; e apontou o papel de Dilma na compra da Refinaria de Pasadena, com seus 700 milhões de dólares a mais. Roubo vá lá; mas passar Cerveró para trás? Tolerar traição é bem mais caro.
Tá todo mundo louco, oba!
Munição de reserva
Na terça que vem, Renan deve depor na Polícia Federal. A repercussão do depoimento só depende dele: sabe muito, mas pode passar por cima do que não for de seu interesse. E a coisa toda está pegando fogo: o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, confirmou que o apartamento do Guarujá que não é de Lula é de Lula, sim, e com isso abre novos caminhos de investigação.
Marcelo Odebrecht vai ter um trabalhão para delatar alguma novidade.
Trio parada dura
O procurador-geral Rodrigo Janot pediu ao Supremo a prisão de Renan, Jucá e Cunha; e a prisão domiciliar, com tornozeleiras eletrônicas, de Sarney. Político importante preso é mais raro que empreiteiro na cadeia (e até isso já temos). Acima de Cunha, Renan e Jucá, mais Sarney, só mesmo Lula e Dilma – atenção: isto é uma reflexão, não uma sugestão.
A propósito, que dirão agora os petistas, que acusavam as operações da Polícia de atingir só o PT? Os quatro citados por Janot eram aliados, sim, do Governo petista, mas já faz tempo que mudaram de lado.
Temer sim, Temer não
A criação de 14 mil cargos federais e um bom aumento ao funcionalismo foram aprovados pelo presidente Michel Temer. Parece que já estavam calculados no déficit, então tudo bem, deixa a bola rolar. Só que alguns economistas respeitados, vários deles próximos a Temer, começaram a fazer contas. Os recursos podiam estar englobados no déficit, mas tinham de ser gastos. E a área econômica foi a única do Governo, até hoje, a merecer elogios gerais. Temer mudou rápido de posição: aumento só para juízes, que mandam prender e soltar, e com quem vale a pena manter boas relações. Quem esperava maiores benefícios espera mais um pouco.
Temer pode não fazer, mas desfazer é com ele.
Uma senhora chamada Luis
Ou, chamando-a pelo nome completo, Luislinda Dias de Vallois – filha de Iansã, rastafári, ex-Miss Mulata Bahia, negra, desembargadora, 71 anos, “divorciada e ousada”, é agora secretária de Igualdade Social do Governo Temer.
Aprendeu muito sobre o mundo aos nove anos, quando seus pais não puderam comprar o material de desenho de plástico pedido pelo professor. Seu material era de madeira, que seus pais puderam comprar. O professor foi duro: “Então, você não devia estar estudando, e sim cozinhando feijoada para os brancos”. Hoje ela ocupa o cargo com que o professor jamais sonhou.
O homem que falava a verdade
Gentil, acessível – ótima fonte de informação sobre o poder. Hélio Garcia, 85 anos, duas vezes governador de Minas, morreu no domingo, elogiado por aliados e adversários. Não foi acusado de desvios nem de abuso de autoridade. E ajudou a montar a Frente mineira, que uniu o Estado em torno de Tancredo Neves. Era bom frasista. Em seu segundo mandato, pouco foi ao Palácio.
Explicava: “A cada medida que deixo de assinar, o Estado economiza muito”.
Problema prático
Michel Temer viaja em julho a Montevidéu, para reunião do Mercosul. Quem fica em seu lugar: Renan, presidente do Senado (e possível presidiário) ou o substituto legal, Waldir Maranhão, presidente da Câmara? Legalmente, o nome certo é o de Maranhão.
Mas será o reconhecimento internacional de que no Brasil “tá todo mundo louco, oba!”
13 de junho de 2016
Carlos Brickmann
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