"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 17 de maio de 2016

DELATORES CONTAM QUE GOVERNADOR FAZIA AMEAÇAS QUANDO A PROPINA ATRASAVA


Braga diz estar indignado com as acusações


















O Jornal Nacional teve acesso, com exclusividade, a novos trechos dos depoimentos que dois ex-executivos da Andrade Gutierrez deram a procuradores da Operação Lava Jato. Nessas delações, eles revelaram o pagamento de propina a quatro ex-governadores. Eduardo Braga, do PMDB, e Omar Aziz, do PSD, hoje senadores pelo Amazonas. E os ex-governadores do Distrito Federal: Agnello Queiroz, do PT e José Roberto Arruda, que, na época, era do Democratas.
Os ex-executivos da Andrade Gutierrez contaram aos procuradores como foi fácil ganhar a concorrência da Arena Amazônia. Eles disseram que tiveram informação privilegiada do governo. E que a construtora ainda participou da elaboração do projeto e do edital de licitação. Segundo os ex-executivos, a Andrade Gutierrez tinha preferência pela obra desse estádio porque estava no Amazonas havia muitos anos.
Pelo que está na delação, a relação com então governador Eduardo Braga, do PMDB, também era antiga. Os ex-executivos revelaram aos procuradores que havia uma combinação com Eduardo Braga que valeu durante os oito anos do governo dele: propina de 10% sobre o valor de cada obra da empreiteira. Hoje Eduardo Braga é senador. Ele foi Ministro de Minas e Energia do governo Dilma até o mês passado.
OBRAS MILIONÁRIAS
Só as obras de urbanização na área de Igarapés – uma região ribeirinha na periferia de Manaus – tiveram contratos de aproximadamente R$ 400 milhões. Parte da verba era do estado, a outra vinha do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
O ex-executivo da Andrade Gutierrez, Rogério Nora de Sá, disse que o acordo com o então governador nasceu do interesse da Andrade Gutierrez em receber precatórios – ordens judiciais de pagamento – contra o estado.
Rogério estima que foram pagos de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões a Eduardo Braga. Na outra delação, Clóvis Primo contou que o ex-governador fazia ameaças se houvesse atraso no pagamento da propina. Disse “que ele era jogo duro”.
Os delatores afirmaram que os pagamentos de propina continuaram com o sucessor de Eduado Braga no governo do Amazonas.
TAMBÉM OMAR AZIZ
Durante a licitação do estádio, Clóvis Primo disse ter se encontrado num hotel em Brasília com o novo governador, Omar Aziz, na época no PMN, Partido da Mobilização Nacional, e depois foi para o Partido Social Democrata – PSD. Hoje ele é senador.
Clóvis Primo relatou que tentou negociar uma redução da propina paga pela obra do estádio. O delator disse que o novo governador não aceitou, fez um grande teatro, se exaltou, dizendo que tinha compromissos, mas que, depois, aceitou a redução da propina. Em vez dos 10% que eram pagos a Eduardo Braga, ficou com 5%.
Numa outra reunião, em São Paulo, segundo o ex-executivo Rogério de Sá, Omar Aziz pediu propina no valor de R$ 20 milhões, alegando que a empresa tinha um grande volume de obras no estado e que o dinheiro pagaria despesas de campanha.
Ao ouvir que não era possível, Rogério Nora de Sá disse que Omar Aziz insistiu de modo agressivo, e subindo o tom afirmou que se a propina não fosse paga o governo do Amazonas poderia se vingar da Andrade Gutierrez.
“EMBUTINDO” O VALOR
Omar Aziz, pelo que está na delação, chegou a sugerir que a construtora executasse algum serviço de medição de terraplanagem e embutisse o valor. Rogerio de Sá disse que a Andrade Gutierrez pagou cerca de R$ 18 milhões a Omar Aziz. E que os pagamentos foram pelo menos até setembro de 2011.
Na delação, os ex-executivos também contaram que houve pagamento de propina nas obras da construção do Estádio Mané Garrincha, em Brasília.
Clóvis Primo disse que, antes da formação do consórcio que ganhou a licitação, já havia um acerto, em 2009, para o pagamento de propina de 1% para o então governador José Roberto Arruda, eleito pelo Democratas.
Rogério de Sá disse que autorizou os pagamentos combinados com o ex-governador mesmo depois de Arruda ser afastado. José Roberto Arruda chegou ser preso, acusado de tentativa de suborno, e teve o mandato cassado. Contou ainda que também houve pagamento de propina para o ex-governador Agnelo Queiroz, do PT. E quem fazia os pagamentos eram os diretores da Andrade Gutierrez, Carlos José e Rodrigo Lopes.
Na delação de Clovis Primo, o ex-executivo disse que não havia um acerto fixo de propina com Agnelo, mas que o ex-governador fez pedidos de pagamentos para o PT.
E TODOS NEGAM…
Os políticos denunciados se defendem. O senador Eduardo Braga, por exemplo, disse que a denúncia é absurda, que está indignado, e se sentindo ofendido com as acusações.
O senador Omar Aziz declarou que seguiu rigorosamente o valor da construção da Arena Amazônia determinada pelo Tribunal de Contas da União. E que está sendo vítima de retaliação da Andrade Gutierrez por não ter cedido a pressões da empresa para aumentar o preço da obra.
O advogado de José Roberto Arruda afirmou que o contrato da construção do Mané Garrincha não foi assinado durante a gestão dele. E negou que tenha havido repasse ou pagamento enquanto Arruda esteve no cargo.
O advogado de Agnelo Queiroz disse que o ex-governador nunca recebeu ou pediu qualquer quantia ou benefício ilícito de quem quer que seja. O PT informou que todas as doações para o partido foram dentro da legalidade e declaradas à Justiça Eleitoral.
A Andrade Gutierrez não quis se manifestar.

17 de maio de 2016
Deu no G1

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