Em meados de agosto de 1992, o empresário alagoano Paulo Cesar Farias, conhecido como PC Farias, ex-tesoureiro da campanha do então presidente da República Fernando Collor e eminência parda do governo, procurou em Brasília o também empresário Luiz Estevão de Oliveira, seu amigo e parceiro em negócios, e pediu-lhe um favor especial: que guardasse no cofre de sua casa uma alta soma em dinheiro vivo.
O dinheiro serviria para aliciar votos de deputados e senadores dispostos a derrotar um eventual impeachment de Collor.
O governo fracassara no combate à inflação. E fora atingido por denúncias de corrupção que estavam sendo investigadas por uma CPI do Congresso. As ruas exigiam a queda de Collor. Só lhe restava comprar apoios com dinheiro, cargos e promessas.
A cada telefonema de PC Farias, Luiz Estevão sacava dinheiro do cofre e providenciava sua entrega ao parlamentar indicado. A 10 dias da votação do processo na Câmara, PC parou de telefonar.
Havia dinheiro de sobra no cofre, mas já não havia deputados à venda. Em 29 de setembro, o impeachment foi aprovado por 441 de um total de 509 deputados. O Senado cassou o mandato de Collor em 29 de dezembro.
A HISTÓRIA SE REPETE
O desfecho, agora, do segundo pedido de impeachment da história recente do país passará pela decisão a ser tomada por um grupo de 40 deputados que se diz indeciso.
Se ao fim e ao cabo, 342 deputados de um total de 513 disserem “sim” ao impeachment, caberá ao Senado julgar Dilma por crime de responsabilidade. Se apenas 172 deputados disseram “não” ou se abstiverem de votar, o processo estancará na Câmara.
Para salvar Dilma, não se descarte a compra de votos mediante dinheiro em espécie.
Outras moedas começaram a ser usadas – oferta de Ministérios e cargos em diversos escalões do governo, liberação de emendas ao Orçamento para a realização de obras em redutos eleitorais de deputados, e promessas de ajuda em tribunais superiores para os encrencados com a Lava-Jato (Alô, alô, Renan Calheiros!).
NANICOS TÊM 32 VOTOS
Acostume-se com a insignificância das siglas destinadas a conduzir áreas estratégicas da administração pública: PTN, PHS, PSL, PEN e PT do B. Elas têm 32 deputados. PP, PR, PSD PRB são considerados partidos da segunda divisão, mas reúnem 146 deputados.
O PRB do mensaleiro Valdemar Costa Neto, condenado a sete anos de prisão, será agraciado com o Ministério de Minas e Energia.
Na bolsa informal de valores do Clube da Falsa Felicidade, o outro nome pelo qual o Congresso é chamado em Brasília, pagou-se R$ 400 mil na semana passada para o deputado que se abstivesse de votar o impeachment. Ao que votasse contra, R$ 1 milhão.
PREÇOS EM ALTA
O mercado está com viés de alta. A oposição parece mais perto de atrair 342 votos a favor do impeachment do que o governo 171 contra.
Uma possível vitória do governo não será comemorada nem mesmo por ele. Há pedidos de impeachment na fila da Câmara. A Justiça examina a impugnação da chapa Dilma-Temer por uso de dinheiro sujo. E se agrava a maior recessão econômica que o país já conheceu desde o início do século passado.
Como Dilma enfrentará tudo isso com um governo muito pior do que o atual?
Isolada no Palácio do Planalto, transformado em aparelho político, Dilma recusa saídas que poderiam deixá-la menos mal com a História – a renúncia ou a convocação de novas eleições gerais. Tenta controlar os nervos à base de calmantes.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como se vê, o jornalista Ricardo Noblat, um dos principais cronistas políticos de Brasília, confirma a informação da Tribuna da Internet, publicada sábado com absoluta exclusividade, de que o voto contra o impeachment está valendo R$ 1 milhão na Câmara. “Que país é esse?” – perguntariam Francelino Pereira e Renato Russo. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como se vê, o jornalista Ricardo Noblat, um dos principais cronistas políticos de Brasília, confirma a informação da Tribuna da Internet, publicada sábado com absoluta exclusividade, de que o voto contra o impeachment está valendo R$ 1 milhão na Câmara. “Que país é esse?” – perguntariam Francelino Pereira e Renato Russo. (C.N.)
04 de abril de 2016
Ricardo Noblat
O Globo
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