Políticos brasileiros e seus familiares aparecem como beneficiários de empresas offshore criadas ou vendidas pela Mossack Fonseca, firma panamenha especializada na abertura de pessoas jurídicas em paraísos fiscais. As informações são do UOL. Segundo as reportagens, políticos de PDT, PMDB, PP, PSB, PSD, PSDB e PTB aparecem entre os beneficiários. Entre eles estão: o deputado federal Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG) e o pai dele, o ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso; o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto; os ex-deputados João Lyra (PSD-AL) e Vadão Gomes (PP-SP), e o ex-senador e presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em 2014.
Há também alguns parentes de políticos que têm ou tiveram offshores registradas. É o caso de Gabriel Nascimento Lacerda, filho do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), e de Luciano Lobão, filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA).
A apuração internacional envolvendo a Mossack Fonseca começou quando o jornal alemão “Süddeustche Zeitung” obteve 11,5 milhões de documentos sobre o escritório do Panamá e compartilhou os papéis com 376 jornalistas de 109 veículos em 76 países, todos ligados ao ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), uma entidade sem fins lucrativos com sede em Washington, nos Estados Unidos.
No Brasil, a investigação foi conduzida pelo UOL –empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha–, pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e pela Rede TV!. A série de reportagens foi batizada internacionalmente de “Panama Papers”.
HELICÓPTERO
De acordo com a reportagem, o deputado Newton Cardoso Jr e seu pai usaram empresas offshores para comprar um helicóptero e um flat em Londres. A offshore Cyndar Management LLC foi aberta em 2007, no Estado americano de Nevada, quando ele ainda não tinha mandato.
Trocas de e-mails encontradas no acervo da Mossack Fonseca mostram que o objetivo da empresa era comprar um helicóptero, no valor de US$ 1,9 milhão.
A aeronave é da marca Helibrás, modelo Esquilo AS350 B-2, e foi comprada de outra offshore, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. O equipamento foi arrendado à Companhia Siderúrgica Pitangui, de propriedade da família Cardoso, no fim de 2007.
Em 2013, o helicóptero foi vendido por US$ 1 milhão, ainda segundo a reportagem, para Inácio Franco, atualmente deputado estadual pelo PV-MG, por meio de uma empresa de sua propriedade.
Já Newton Cardoso adquiriu uma offshore em 1991, quando ainda era governador de Minas Gerais. A Desco Trading Ltd. foi usada para comprar um flat em Londres em 1992, pouco depois de Newton deixar o governo de Minas Gerais. O valor à época: 1,2 milhão de libras.
TUCANO
O ex-presidente nacional do PSDB e ex-senador Sérgio Guerra, morto em 2014, adquiriu uma empresa offshore com a mulher, Maria da Conceição, e um dos filhos, Francisco, conforme os documentos da Mossack Fonseca, citados pela reportagem.
Segundo os arquivos da Mossack Fonseca, a New Deal Corporation emitiu poderes para a família em 1992, quando Guerra era deputado federal pelo PSDB de Pernambuco.
Em 1994, a companhia foi desativada por falta de pagamento das taxas do ano de 1993. De acordo com a correspondência da Mossack Fonseca citada pelo blog, os Guerra não quiseram manter a empresa.
MIAMI
Filho do senador e ex-ministro Edison Lobão (PMDB-MA), Luciano Lobão comprou a offshore A VLF International Ltd da Mossack Fonseca em 2011, conforme os documentos.
A offshore foi usada para comprar um apartamento em Miami Beach em 2013, por US$ 600 mil. O imóvel foi vendido no ano seguinte por US$ 1,08 milhão.
OUTRO LADO
A Folha procurou assessores do deputado Newton Cardoso Jr, familiares do ex-senador Sérgio Guerra e de Luciano Lobão, mas eles ainda não se manifestaram até a publicação desta reportagem.
Ao UOL, o deputado Newton Cardoso Jr negou, por meio da assessoria, “com veemência a existência de qualquer empresa offshore em seu nome ou mesmo de seu pai, o ex-deputado Newton Cardoso”.
O PSDB não comentou as alegações envolvendo o ex-senador da legenda Sérgio Guerra.
Também ao UOL, Luciano Lobão disse que a VLF International foi declarada à Receita e devidamente tributada.
04 de abril de 2016
Deu na Folha
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