"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 25 de março de 2016

VALENTINA DE BOTAS: OS OLHOS OBSOLETOS DE CAETNO E DOS HABITANTES DE UM MUNDO MORTO IGUALAM MARCHAS DESIGUAIS


“A manifestação de domingo, para mim, não foi suficientemente diferente da passeata da Família com Deus pela Liberdade, que apoiou o golpe de 64″. Ou não. Somos insuficientes, talvez por isso a arte e a literatura se expliquem. O país é insuficiente; nasceu colônia desgraçada como as demais; ficou independente, virou império e república sempre com o Estado antecedendo à nação, e o povo assistindo abestalhado.

É melancólico afirmar isto porque a lírica deles era inspiradora, mas Caetano Veloso e Chico Buarque não importam, nem os demais artistas e políticos velhos ou jovens de alma senil e os olhos viciados no passado, procurando, alheios à decrepitude do mundo de onde veem o novo como coisa insuficiente para ser, a glória de um embate que falsearam: não buscaram uma democracia merecedora da denominação, mas aquela em que impusessem o direito-da-esquerda-progressista-chique-do-governo-popular de suprimir o que não é suficientemente igual.

Caetano mostra que ou não entendeu as marchas de outrora ou não entende as de hoje; talvez nem umas, nem outras. Em 1964, houve um golpe, não uma revolução; em 2016, está havendo uma revolução, não um golpe. No golpe consumado e naquele para o qual o governo conspira, houve e há aplausos de claques diferentes que acham feio o que não é espelho. Só haverá golpe se o governo ilegal submeter o Judiciário e reprimir a Lava Jato – o fenômeno que está revolucionando a sociedade brasileira.

O triunfo da superinvestigação dará à república este esqueleto sem o qual nasceu e cujo desenvolvimento nos 128 anos de existência dela foi abatido por grave raquitismo: o de que ninguém está acima da lei e, portanto, substituída a certeza da impunidade pela perspectiva suficiente de punição, os bandidos que escolherem a política como espaço para delinquir, pensarão duas vezes antes de não o fazer.

Também com a Lava Jato, saíram a complexidade e o tecnicismo das pedaladas fiscais para resplandecer a delinquência comum de Lula e Dilma que, com mentiras de perna curta e muita malícia, tentam fugir da polícia. A novidade tira a população do lugar de abestalhada, pois nas filas, nas vilas, favelas, todos entendem o que é um caso de polícia; e, também por isso, o PT perdeu as ruas e a simpatia dos mais pobres. Nossa indignação foi acusada de mimimi de perdedor; depois, de pessimismo e torcida contra; e, quando os fatos se impuseram, de golpismo.

E, assim, os olhos obsoletos de Caetano e dos habitantes de um mundo morto igualam marchas desiguais. Nada parecia suficiente para legitimar a indignação do país destruído sob o esbulho colossal, mas também nada a silenciou e, se houver o golpe com o qual o governo nos ameaça, ele conhecerá a mais completa tradução de uma nação farta de velharias e velhacarias. Para o difícil recomeço adiado pelos mortos que vivem de confundir e fazer incessante o passado, constantemente revisto para mantê-lo na opacidade em que presente e futuro são sempre ontem, será suficiente.


25 de março de 2016
Veja

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