Muitos meses antes de sua empresa ser denunciada, Marcelo Odebrecht já preparava um esquema preventivo. Segundo a Polícia Federal, com base em uma auditoria realizada em Curitiba, partiu do empresário o golpe de plantar um aparelho de escuta ilegal dentro da cela do doleiro Alberto Youssef, para que fossem anuladas as investigações.
Para aplicar um golpe desses, é preciso apoio interno, e foi cooptado o agente federal Dalmey Fernando Werlang, responsável por instalar a escuta.
SERVIÇO MAL FEITO
O problema é que o serviço foi muito mal feito. O agente Werlang instalou na cela um equipamento antigo e obsoleto, que Youssef encontrou com a maior facilidade. Era completamente inverossímil que a Polícia Federal ainda usasse esse tipo de escuta.
Mesmo assim, Werlang denunciou que o equipamento estava operante e envolveu vários delegados da Lava Jato, embora eles não tivessem o menor interesse em grampear Youssef, que havia feito delação premiada e estava cooperando plenamente com a força-tarefa.
CHEGA O DELEGADO
Simultaneamente entrou em cena o delegado Mário Renato Fanton, lotado em São Paulo e que viajou a Curitiba para outra finalidade, mas conseguiu encontrar uma justificativa para fazer “investigações” sobre a escuta na cela de Youssef e até colheu o depoimento do agente “Werlang” num hotel em Curitiba.
Com isso, criou-se uma grande confusão a respeito do grampo ilegal, porque no Congresso entrava no circuito o deputado federal Aluísio Mendes (PSDC-MA), ex-agente da PF e hoje integrante da CPI da Petrobras, que passou a propagar que a sindicância que apurou o grampo na cela de Youssef tinha sido “criminosa” e poderia ensejar a anulação da operação, citando os exemplos da Satiagraha e da Castelo de Areia.
Mendes foi autor dos requerimentos para tomada de depoimento do agente Werlang e do delegado Fanton, e passou a dizer repetidas vezes à imprensa que há “fatos contundentes” que poderiam questionar a primeira sindicância feita pela PF sobre a questão.
PROCURADORIA REAGE
O Ministério Público Federal reagiu e denunciou criminalmente o delegado Mário Fanton e o agente Dalmey Werlang, acusados de se associarem para desestabilizar as apurações e tentar algum tipo de nulidade legal da Lava Jato.
No relatório que pediu o indiciamento, a Polícia Federal aponta como figura central desse suposto plano justamente o empresário Marcelo Odebrecht, que ainda reluta em fazer delação premiada.
A iniciativa da Procuradoria foi prontamente atacada pelo deputado Aluísio Mendes Guimarães (PSDC-MA), dizendo que era uma forma de intimidar Fanton, que estava convocado para depor na CPI da Petrobrás, por proposta do próprio Mendes.
A denúncia da Procuradoria foi rejeitada pelo juiz da 12ª Vara Federal de Curitiba, Danilo Pereira Júnior, que entendeu que somente no caso de as informações de Werlang e Fanton não se confirmarem é que eles terão incorrido em ato criminoso, incursos em Denunciação Caluniosa – art. 339 do CP, com possibilidade de prisão de dois a oito anos.
DEPOIMENTOS
E o plano de Marcelo Odebrecht segue em frente. O agente Werlang e o delegado Fanton já depuseram na CPI, tentando enlamear a honra dos integrantes da força-tarefa da operação Lava Jato. Eles contam com a prestimosa colaboração de grande parte da mídia, que aparenta levar a sério as denúncias que os dois fazem.
As possibilidades desse plano dar certo são mínimas. O empresário Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, já pediu que o filho faça delação premiada, ma ele ainda reluta. Prefere continuar investindo (e bota investimento nisso…) na tentativa de anular a Lava Jato.
05 de outubro de 2015
Carlos Newton
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