"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A VIOLÊNCIA DAS RUAS E A JUSTIÇA IMPOSSÍVEL

Andrei e Mausy sofrem a perda do filho Alex Bastos


Não conhecemos palavras que realmente descrevam o que sentimos no dia de julgamento do caso do assassinato de nosso filho Alex Schomaker Bastos. A pena mais rigorosa, as piores condições de vida na prisão, nada é suficiente para que tenhamos o sentimento de que a justiça foi feita.
Nós pensamos e sentimos assim não apenas porque Alex é, e sempre foi, um ser humano generoso com os outros, compartilhando suas coisas, seu conhecimento, seu amor pela vida. Nós pensamos e sentimos assim não apenas porque Alex é, e sempre foi, um ser humano com sua inteligência a serviço do ensino, da ciência e do bem comum, querendo se dedicar à pesquisa de doenças raras.
A morte de Alex não afeta apenas a nós – seus pais, irmãos e demais familiares e amigos. Sua ausência deixa também um vazio imenso na vida de seus alunos, professores e companheiros de pesquisas científicas. Sua ausência deixa um vazio imenso na vida inteligente do país.
BARBARISMO
A morte de Alex também deixa um vazio imenso no que identificamos como civilização. Ele é vítima da barbárie, que está muito além da simples banalização do mal, e seus assassinos são a mais verdadeira expressão de instintos primitivos maus. A brutalidade de sete tiros disparados de cima para baixo, mesmo com Alex já batido, revela a linguagem dos assassinos, sua maneira de ser, falar e dialogar.
Tal violência também revela a falência do Estado em promover avanços civilizatórios, com educação, saúde e oportunidades de trabalho. Ficar cara a cara com esta brutalidade, tendo consciência de que ela é feita por seres que não consideramos humanos, é duplamente doloroso. Dói pelo sofrimento que nos causa e dói pela sombra que projeta sobre o futuro dos nossos filhos, netos e de toda a sociedade.
PROGRESSÃO DO MAL
Acreditamos que só nós mesmos, cidadãos vizinhos da barbárie, somos capazes de reverter a progressão do mal, estabelecendo com clareza o que nos diferencia, combatendo-a com todos os meios lícitos possíveis para excluir seus executores do convívio social. Em outras palavras, precisamos nos distinguir dos bandidos para que não sejamos confundidos com eles e soframos arbitrariedades de uma guerra cega. Afinal, esta guerra, que já está há muito declarada, é o último capítulo da questão da segurança, que tem como capítulos anteriores a falta de saneamento básico, de saúde, de oportunidades de qualificação e trabalho e de educação.
A justiça é impossível para nosso filho, pois não há justiça em sua morte. Nós não perdoamos, mas dedicamos a aplicação exemplar da lei a todos os pais que, esperamos, não sejam obrigados a sentar frente à frente com assassinos de seus filhos.

Mausy Schomaker e Andrei Bastos são pais de Alex Schomaker Bastos, estudante de Biologia assassinado em assalto em frente ao campus da UFRJ Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. O artigo foi enviado pelo comentarista Mário Assis.

05 de outubro de 2015
Mausy Schomaker e Andrei Bastos

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