A presidente Dilma Rousseff pede que os políticos coloquem os interesses do Brasil acima de qualquer coisa. É a última a ter autoridade para fazer esse apelo porque é a primeira a colocar seus interesses à frente de tudo.
O País está pagando a fatura que o governo federal espetou na conta da desorganização total das finanças públicas para garantir a reeleição de Dilma Rousseff. A respeito disso não há dúvida, concordam leigos e especialistas.
Esta pode ser vista como a boa notícia, já que é de todos conhecida. A má notícia é que o fundo do poço talvez ainda esteja bem distante, pois o governo agora não se inibe de fazer qualquer negócio (o “diabo”?) para tentar evitar que prospere na sociedade, no mundo político e no universo econômico a tese de que a solução para a crise é a interrupção do mandato da presidente da República.
Dilma não mediu consequências na campanha e continua não medindo agora. Governou com o olhar fixo nos palanques e agora governa com o único objetivo de se manter na cadeira presidencial. O País que se vire.
É o que se vê quando a presidente da República deixa que seu ministro da Fazenda seja fragilizado publicamente sendo ele, ao menos em tese, a figura-chave no prometido ajuste das contas públicas. Dilma é diligente quando se trata de chamar atenção do operador de teleprompter, do funcionário que lhe pede para dar prioridade à passagem de deficientes físicos em solenidade do Palácio ou do mestre de cerimônias que não anuncia corretamente o nome de um ministério.
Muito zelosa com as firulas que lhe são caras, a presidente não se mostra minimamente desconfortável com o bombardeio sobre o ministro Joaquim Levy nem parece preocupada com as consequências disso.
Do mesmo modo, pouco está ligando para o efeito da tentativa de procrastinar uma decisão do Tribunal de Contas pedindo o afastamento de um ministro cujas declarações desagradam ao Palácio do Planalto. Uma afronta às instituições, porque tal atitude caracteriza a intenção de interferir no andamento de um processo em órgão independente do Executivo. Vai perder e, se no anunciado recurso ao Supremo Tribunal Federal a presidente conseguir derrubar uma decisão baseada em critérios técnicos, de pura contabilidade, a Corte estará corroborando a interferência.
O mesmo desinteresse por qualquer tema que não seja a manutenção de seu mandato Dilma Rousseff demonstra ao fazer uma reforma ministerial na perspectiva exclusiva de garantir uma rede de proteção no Congresso, sem levar em conta a competência dos titulares e a eficiência das pastas. Enquanto a saúde pública está entregue às baratas (em alguns hospitais, literalmente), a presidente faz a troca de ministros sem se referir nem por um breve momento à política para o setor. Quer saber quantos votos o PMDB pode lhe garantir na eventualidade de um pedido de impeachment tramitar no Parlamento.
Pois ontem a presidente teve o exemplo do quanto foi ineficaz sua negociação com o escalão inferior do PMDB, ao não conseguir que sua uma base de apoio supostamente refeita assegurasse quórum mínimo para uma sessão de interesse do governo – votação de vetos presidenciais. O esvaziamento ocorreu na Câmara. Faltaram 60 deputados e metade da bancada pemedebista não apareceu. O líder havia sido o interlocutor privilegiado da presidente na reforma.
Dilma pode até vir a vencer no mérito – inclusive porque o Congresso não quer ser responsável por entornar de vez o caldo da economia –, mas o recado foi dado: nem sempre é dando que se recebe.
07 de outubro de 2015
Dora Kramer
O País está pagando a fatura que o governo federal espetou na conta da desorganização total das finanças públicas para garantir a reeleição de Dilma Rousseff. A respeito disso não há dúvida, concordam leigos e especialistas.
Esta pode ser vista como a boa notícia, já que é de todos conhecida. A má notícia é que o fundo do poço talvez ainda esteja bem distante, pois o governo agora não se inibe de fazer qualquer negócio (o “diabo”?) para tentar evitar que prospere na sociedade, no mundo político e no universo econômico a tese de que a solução para a crise é a interrupção do mandato da presidente da República.
Dilma não mediu consequências na campanha e continua não medindo agora. Governou com o olhar fixo nos palanques e agora governa com o único objetivo de se manter na cadeira presidencial. O País que se vire.
É o que se vê quando a presidente da República deixa que seu ministro da Fazenda seja fragilizado publicamente sendo ele, ao menos em tese, a figura-chave no prometido ajuste das contas públicas. Dilma é diligente quando se trata de chamar atenção do operador de teleprompter, do funcionário que lhe pede para dar prioridade à passagem de deficientes físicos em solenidade do Palácio ou do mestre de cerimônias que não anuncia corretamente o nome de um ministério.
Muito zelosa com as firulas que lhe são caras, a presidente não se mostra minimamente desconfortável com o bombardeio sobre o ministro Joaquim Levy nem parece preocupada com as consequências disso.
Do mesmo modo, pouco está ligando para o efeito da tentativa de procrastinar uma decisão do Tribunal de Contas pedindo o afastamento de um ministro cujas declarações desagradam ao Palácio do Planalto. Uma afronta às instituições, porque tal atitude caracteriza a intenção de interferir no andamento de um processo em órgão independente do Executivo. Vai perder e, se no anunciado recurso ao Supremo Tribunal Federal a presidente conseguir derrubar uma decisão baseada em critérios técnicos, de pura contabilidade, a Corte estará corroborando a interferência.
O mesmo desinteresse por qualquer tema que não seja a manutenção de seu mandato Dilma Rousseff demonstra ao fazer uma reforma ministerial na perspectiva exclusiva de garantir uma rede de proteção no Congresso, sem levar em conta a competência dos titulares e a eficiência das pastas. Enquanto a saúde pública está entregue às baratas (em alguns hospitais, literalmente), a presidente faz a troca de ministros sem se referir nem por um breve momento à política para o setor. Quer saber quantos votos o PMDB pode lhe garantir na eventualidade de um pedido de impeachment tramitar no Parlamento.
Pois ontem a presidente teve o exemplo do quanto foi ineficaz sua negociação com o escalão inferior do PMDB, ao não conseguir que sua uma base de apoio supostamente refeita assegurasse quórum mínimo para uma sessão de interesse do governo – votação de vetos presidenciais. O esvaziamento ocorreu na Câmara. Faltaram 60 deputados e metade da bancada pemedebista não apareceu. O líder havia sido o interlocutor privilegiado da presidente na reforma.
Dilma pode até vir a vencer no mérito – inclusive porque o Congresso não quer ser responsável por entornar de vez o caldo da economia –, mas o recado foi dado: nem sempre é dando que se recebe.
07 de outubro de 2015
Dora Kramer
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