Prisão de Vaccari faz desabar a última pilastra da corrupção na Petrobrás
A prisão de João Vaccari, tesoureiro do PT, decretada pelo Juiz Sergio Moro e efetivada na manhã de quarta-feira, na realidade faz desabar a última pilastra que sustentava o que resta de enigma no esquema de corrupção que conduziu o assalto gigantesco contra a Petrobrás, ao ponto de atingir, tanto direta quanto indiretamente, o patrimônio da empresa e desestabilizar a própria economia brasileira.
Pelos depoimentos recolhidos e publicados na imprensa, incluindo os relatos dos principais personagens que firmaram as delações premiadas, João Vaccari era espécie de centro de gravidade da captação e redistribuição de recursos financeiros obtidos junto a empresas empreiteiras e fornecedores de equipamentos e serviços da Petrobrás.
O absurdo depoimento do tesoureiro do PT à CPI da Câmara dos Deputados, uma fantasia teatral montada para desviar a atenção sobre a força dos fatos, terminou, como era lógico esperar, transformando-se na maior peça de acusação contra si próprio.
Pois, como inclusive acentuou Fernando Gabeira em reportagem apresentada pela GloboNews, as perguntas tornaram-se muito mais importantes do que as não respostas do estranho depoente que, ao tentar vagamente se defender, acabou contraditoriamente sendo o acusador de si mesmo.
COLOCAÇÕES DESCONEXAS
Seus silêncios e colocações desconexas não só confirmaram as acusações de que se tornou alvo, mas sobretudo agravaram o conteúdo das ações das quais é personagem de raro destaque. Ocupando cargo no Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, sua astúcia não o fez compreender o plano inclinado no qual estava inserido, pois várias figuras do próprio partido, como o ex-governador Tarso Genro, pediam seu afastamento.
Não se afastando, nem sendo afastado, tornando-se a última pilastra de sustentação de um esquema do qual fazia parte e que agora explodiu. A explosão abre caminho ao aprofundamento ainda maior das investigações, uma vez que Vacari passou a estar cercado por todos os lados.
Se correntes do PT já lhe eram hostis, agora outras facções passam a temê-lo intensamente, enquanto um terceiro grupo dele passou a desejar uma prudente distância. Personagem de Hitchcock, “o homem que sabia demais”, Vaccari passou da condição de solidário para a de solitário. Desabou a última defesa de um claro enigma.
CONY NÃO ESCREVEU BASTA E FORA
Carlos Heitor Cony, em sua coluna da Folha de São Paulo, edição de terça-feira, rebateu versões que às vezes circulam por aí, de que teria sido, no Correio da Manhã, o autor dos artigos Basta e Fora que precederam os dramáticos últimos dias do governo João Goulart em 1964. Cony disse exatamente a verdade. O autor desses dois artigos foi o jornalista Edmundo Muniz que, por destino, acabou Secretário de Cultura do governo Leonel Brizola no RJ.
Houve – eu trabalhava no jornal que se foi com o tempo – um terceiro artigo: Basta e Fora, publicado no mesmo dia em que Jango deixava o poder e rumava para o exílio em Mentevideu. A autoria deste é do mesmo Edmundo Moniz com a parceria do crítico de cinema, Antônio Moniz Viana. Formaram uma trilogia. Porém existe um quarto editorial, esquecido pelos historiadores e escrito magistralmente pelo grande Oto Maria Carpeaux: Basta:Fora a Ditadura. Carpeaux foi profético. Depois do crepúsculo de Goulart, veio a longa noite da ditadura. Durou 21 anos.
17 de abril de 2015
Pedro do Coutto
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