É preciso que o eleitor tenha claro o exato significado de mudança neste momento delicado da vida nacional. Mudar, hoje, significa apear do poder um partido que, ao arrepio de suas convicções originais, se concentrou em programas de governo sob medida para a viabilização de um projeto de perpetuação no poder
Depois de quatro anos de Dilma Rousseff, o Brasil está pior, sob todos os aspectos. A economia empacou e flerta com a recessão; o modelo de crescimento baseado no estímulo ao consumo dá sinais claros de esgotamento; o emprego desce, limitado às faixas salariais inferiores, e a inflação sobe, atropelando o teto da meta; o equilíbrio fiscal depende cada vez mais da contabilidade criativa; o Itamaraty foi sucateado e a diplomacia brasileira, colocada a serviço da visão de mundo petista; a corrupção se alastra no aparelho estatal, dando a impressão de que só não existe onde não é procurada; a insatisfação popular se amplia e aprofunda diante da incapacidade do governo de entregar aos cidadãos com um mínimo de qualidade os serviços pelos quais todos pagam.
A gestão Dilma é o que se pode chamar de fracasso retumbante. Um vexame que só não é maior do que a empáfia com que a candidata à reeleição vende na tribuna da ONU e na propaganda eleitoral o embuste de um país paradisíaco resgatado do subdesenvolvimento e da injustiça social por 12 anos de façanhas lulopetistas.
De quatro em quatro anos, porém, o sistema democrático nos dá a oportunidade de corrigir os rumos da gestão da coisa pública. É hoje o dia. Mais uma vez, as urnas eleitorais se abrem, oferecendo aos brasileiros a possibilidade de concretizar o desejo de mudança expresso nas manifestações de rua e claramente captado pelas pesquisas de opinião.
É preciso que o eleitor tenha claro, no entanto, o exato significado de mudança neste momento delicado da vida nacional. Mudar, hoje, significa apear do poder um partido que, ao arrepio de suas convicções originais, se concentrou em programas de governo sob medida para a viabilização de um projeto de perpetuação no poder, não se pejando de fazer, para isso, toda sorte de concessão às forças políticas mais corruptas e retrógradas do País que, antes suas inimigas, foram promovidas a "base aliada".
Não basta, porém, apear o PT et caterva do poder. É necessário saber como preencher o enorme vazio deixado pelo irresponsável pragmatismo populista de Lula e pela estonteante incompetência de Dilma Rousseff. E as possibilidades de concretização da alternância se resumem a duas candidaturas: Marina Silva, do PSB, e Aécio Neves, do PSDB.
A ex-ministra do Meio Ambiente, que se tem colocado claramente em oposição às pretensões reeleitorais de Dilma, experimentou um forte crescimento de sua candidatura logo após o trágico desaparecimento do ex-governador Eduardo Campos. Essa tendência refluiu, mas ainda hoje ela se apresenta como forte aspirante à disputa do segundo turno.
O fato de Marina ter militado por duas décadas no PT, do qual se retirou movida por divergências programáticas, sugere que ela conhece muito bem aqueles que hoje combate e sabe, portanto, o que prejudica e compromete o País.
Mas, ao mesmo tempo, algumas características de temperamento e as circunstâncias políticas que envolvem sua candidatura a transformam numa incógnita. E de incertezas o País está farto.
Aécio Neves, por sua vez, representa um grupo político que, com a idealização e execução do Plano Real, 20 anos atrás, demonstrou capacidade e competência para resgatar a economia brasileira do fundo do poço e assentar as bases para o desenvolvimento que permitiu os avanços sociais e econômicos do governo Lula. E os muito bem-sucedidos governos do PSDB nos dois maiores Estados da federação, São Paulo e Minas Gerais, neste com o próprio Aécio, são respeitável aval à candidatura tucana.
Eleito, Aécio Neves estará aglutinando um bloco de parlamentares, técnicos e homens de pensamento e ação, capazes de remover da administração pública e da política os vícios nelas implantados pelo lulopetismo — e capazes, também, de colocar o Brasil novamente no rumo do crescimento sustentado e responsável.
Para que isso aconteça — para que o Brasil possa de novo ser um país onde as esperanças de um presente estável e de um futuro promissor de fato se realizem —, cada brasileiro que deseja o retorno à administração pública dos valores da honestidade, da correção, do compromisso com a coisa pública e com a eficiência, deverá votar bem. Será uma escolha entre o atraso escandaloso dos "coronéis" e a modernidade.
06 de outubro de 2014
Editorial do Estadão
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