EU VOTO AÉCIO 45
Uma pesquisa revelou que 61% dos eleitores rejeitam a obrigatoriedade do voto. A desilusão com a política é apontada como um dos motivos. Sendo o voto um instrumento de transformação, eu jamais abriria mão dele, mesmo que fosse opcional, mas concordo: quem dera todos votassem por consciência em vez de fazerem uni-duni-tê em frente à urna apenas por dever cívico. Obrigação é uma palavra que me arrepia. Desde garota. Passei a infância desejando crescer porque intuía que a espontaneidade vivia no lado maduro da existência.
Sei que cada criança processa os ensinamentos que recebe através de um código muito particular, mas o fato é que eu me sentia numa camisa de força. Horário de ir para cama, ter que raspar o prato mesmo estando sem fome, a televisão racionada, o dever de só tirar notas boas. Obrigações que resultaram numa mulher responsável e bem-criada, ao contrário de tantas outras crianças que fazem o que bem entendem e viram adultos mimados e despreparados para lidar com frustrações. Só que, aos oito anos de idade, eu não sabia nada sobre pedagogia. A teoria sobre criação de filhos não fazia parte do meu repertório. Eu só sabia das minhas vontades. Eu queria ser livre porque me parecia o único jeito de ser honesta com meus sentimentos e pensamentos.
Não queria fazer nada por obrigação. Nem comer, nem dormir, nem ser feliz por obrigação. Considerava uma violência quando, ao perguntar aos adultos “por que desse jeito?”, ouvia como resposta “porque sim e pronto” ou “porque é assim que tem que ser”.
Obedecia militarmente “a hora certa” de fazer as coisas como se houvesse um relógio universal regendo uma orquestra de bons moços a serviço do andamento do espetáculo. Não que me fosse custoso cumprir. Só era custoso entender.
Pior do que me comportar como “todo mundo” era viver uma afetividade também regida por regras. Não parecia que as pessoas se encontravam por saudades, por afinidades ou para repartir calor humano. Parecia obrigação também. A obrigação das datas festivas. A obrigação dos domingos. A obrigação dos parentescos.
Ai de mim se gostasse mais de uma avó do que de outra. Ou se não quisesse sair do quarto para jantar. Ou se me recusasse a ir à missa. Ao colégio eu sabia que tinha que ir, não questionava. Só questionava o que me parecia facultativo.
Apesar dos meus “facultativos” não baterem com os dos meus pais, optei por não dar trabalho, segui a cartilha da boa menina. Fiz minha parte e eles a deles – benfeita, diga-se, ou não seria quem sou.
Mas quem eu sou mesmo? Cumpridora, pontual, educada, porém, hoje, profundamente intolerante a tudo o que não for espontâneo, ao teatro das convenções, às blindagens contra a intimidade, ao que serve apenas para manter a orquestra tocando.
Uma pesquisa revelou que 61% dos eleitores rejeitam a obrigatoriedade do voto. A desilusão com a política é apontada como um dos motivos. Sendo o voto um instrumento de transformação, eu jamais abriria mão dele, mesmo que fosse opcional, mas concordo: quem dera todos votassem por consciência em vez de fazerem uni-duni-tê em frente à urna apenas por dever cívico. Obrigação é uma palavra que me arrepia. Desde garota. Passei a infância desejando crescer porque intuía que a espontaneidade vivia no lado maduro da existência.
Sei que cada criança processa os ensinamentos que recebe através de um código muito particular, mas o fato é que eu me sentia numa camisa de força. Horário de ir para cama, ter que raspar o prato mesmo estando sem fome, a televisão racionada, o dever de só tirar notas boas. Obrigações que resultaram numa mulher responsável e bem-criada, ao contrário de tantas outras crianças que fazem o que bem entendem e viram adultos mimados e despreparados para lidar com frustrações. Só que, aos oito anos de idade, eu não sabia nada sobre pedagogia. A teoria sobre criação de filhos não fazia parte do meu repertório. Eu só sabia das minhas vontades. Eu queria ser livre porque me parecia o único jeito de ser honesta com meus sentimentos e pensamentos.
Não queria fazer nada por obrigação. Nem comer, nem dormir, nem ser feliz por obrigação. Considerava uma violência quando, ao perguntar aos adultos “por que desse jeito?”, ouvia como resposta “porque sim e pronto” ou “porque é assim que tem que ser”.
Obedecia militarmente “a hora certa” de fazer as coisas como se houvesse um relógio universal regendo uma orquestra de bons moços a serviço do andamento do espetáculo. Não que me fosse custoso cumprir. Só era custoso entender.
Pior do que me comportar como “todo mundo” era viver uma afetividade também regida por regras. Não parecia que as pessoas se encontravam por saudades, por afinidades ou para repartir calor humano. Parecia obrigação também. A obrigação das datas festivas. A obrigação dos domingos. A obrigação dos parentescos.
Ai de mim se gostasse mais de uma avó do que de outra. Ou se não quisesse sair do quarto para jantar. Ou se me recusasse a ir à missa. Ao colégio eu sabia que tinha que ir, não questionava. Só questionava o que me parecia facultativo.
Apesar dos meus “facultativos” não baterem com os dos meus pais, optei por não dar trabalho, segui a cartilha da boa menina. Fiz minha parte e eles a deles – benfeita, diga-se, ou não seria quem sou.
Mas quem eu sou mesmo? Cumpridora, pontual, educada, porém, hoje, profundamente intolerante a tudo o que não for espontâneo, ao teatro das convenções, às blindagens contra a intimidade, ao que serve apenas para manter a orquestra tocando.
24 de setembro de 2014
Martha Medeiros, Zero Hora
A economia no vazio
EU VOTO AÉCIO 45
Mais próximo o dia da eleição, mais promessas vazias, acusações, mentiras e xingamentos no bate-boca entre os candidatos. Debater é bom, desperta o eleitor, mas o conteúdo está errado, não foca o que importa. Não se debatem o futuro da economia, os compromissos e propostas para o País recuperar confiança, voltar a investir e crescer. Os programas de governo que eles apresentaram ao Tribunal Superior Eleitoral são meras peças publicitárias, plataformas eleitorais que passam muito longe dos reais problemas econômicos do País - estes ignorados como se não existissem.
Mais próximo o dia da eleição, mais promessas vazias, acusações, mentiras e xingamentos no bate-boca entre os candidatos. Debater é bom, desperta o eleitor, mas o conteúdo está errado, não foca o que importa. Não se debatem o futuro da economia, os compromissos e propostas para o País recuperar confiança, voltar a investir e crescer. Os programas de governo que eles apresentaram ao Tribunal Superior Eleitoral são meras peças publicitárias, plataformas eleitorais que passam muito longe dos reais problemas econômicos do País - estes ignorados como se não existissem.
Dos três candidatos com chances de vitória, partiu de Marina Silva (PSB) a surpreendente iniciativa de debater um tema de popularidade inatingível, embora de importância vital para as gestões fiscal e macroeconômica: a independência do Banco Central (BC). Se a grande maioria da população desconhecia o significado de um BC autônomo e livre de influências da classe política, teve agora a chance de conhecer. E a credibilidade da candidata do PT foi golpeada - feito haraquiri - pela pobre, simplória e enganadora explicação em seu programa eleitoral de que independência do BC é entregar aos banqueiros o comando do País. É zombar da inteligência do eleitor. A decisão da Justiça Eleitoral de suspender tal propaganda foi a pá de cal.
No início da campanha, o tucano Aécio Neves assumiu o compromisso de fortalecer o tripé macroeconômico -superávit fiscal, câmbio flutuante e metas de inflação. Outro tema relevante que, levado ao debate, teria o mérito de esclarecer a população sobre o futuro da gestão econômica. Mas Aécio deu o recado e não voltou mais ao assunto, retomado depois por Marina, também de passagem. E os temas econômicos que importam ficaram por aí.
Dos três, a mais interessada em detalhar um programa econômico verdadeiro deveria ser Dilma Rousseff, justamente porque foi em seu governo que a economia travou, o investimento privado parou, a população retraiu o consumo e a falta de confiança se instalou.
Para recuperar a confiança, ela precisa revelar o que vai fazer para destravar a economia, sair da recessão e do pibinho de 0,3% e voltar a crescer. Precisa garantir ao investidor que o governo vai regular, mas não interferir em seus negócios, e que o dinheiro do BNDES vai financiar todos os setores que apresentarem projetos para o progresso do País, e não mais escolher e premiar empresas amigas. Tampouco distribuir favores fiscais a poucos, penalizando a maioria. E mais: como vai reorganizar o caótico setor elétrico e recuperar a imagem e o caixa da Petrobrás. Se para baixar os juros é preciso reduzir os gastos do governo, como diz o Banco Central, ela precisa responder por que insiste em manter uma estrutura cara de 39 ministérios se a maioria deles serve apenas para barganhar cargos, verbas e corrupção com partidos políticos aliados. Não basta dizer que vai demitir o ministro Guido Mantega se a política econômica não é dele, é dela.
A lista é ampla, mas esta já seria um bom começo. E essas questões deveriam ser respondidas também por Aécio Neves e Marina Silva.
Outra forma de clarear a cegueira do eleitor seria os candidatos anteciparem nomes que ocuparão cargos chave no futuro governo, como propôs o embaixador Jório Dauster em artigo na Folha de S.Paulo em fevereiro. Ao lembrar que a prática de surpreender o País com nomes tirados do bolso do colete "causa impacto na vida econômica e política, estimula a especulação financeira e paralisa a administração pública", Dauster propõe aos candidatos que revelem, antes do primeiro turno, pelo menos os nomes dos ministros da Justiça, Fazenda, Relações Exteriores e Casa Civil. "É o quanto basta para sabermos quem zelará pela ética do governo; quem cuidará das contas públicas; quem orientará a inserção do Brasil no mundo; e quem coordenará as ações dos titulares das outras pastas", argumenta o embaixador.
Aécio Neves anunciou Armínio Fraga como seu ministro da Fazenda. Dilma prometeu tirar Guido Mantega, mas não diz quem colocará no lugar. Marina Silva silenciou. Faltam 15 dias, ainda há tempo.
24 de setembro de 2014
Suely Caldas, O Estado de S.Paulo
EU VOTO AÉCIO 45
O que move defensores da legalização da maconha é a necessidade que têm de se opor ao que é 'careta'
Falando com sinceridade, confesso que não consigo entender a razão que leva certas pessoas a defenderem a legalização do uso da maconha, e entendo menos ainda quem defende o mesmo para as drogas mais pesadas.
Mas fiquemos na maconha. Os defensores de sua descriminalização valem-se de argumentos que exaltam as virtudes dessa erva. Segundo eles, a maconha possui virtudes medicinais inegáveis.
Para outros, ela é inofensiva e deve ser liberada para lazer, muito embora, conforme afirmam médicos psiquiatras e pesquisadores, trate-se de uma erva com inegável poder alucinógeno.
Eu mesmo, que não sou médico, garanto-lhes que a maconha provoca alucinação e o digo por experiência própria, por fatos ocorridos com meus filhos e com meus amigos.
Em alguns desses casos, poderia ter morrido alguém, tal o descontrole em que ficaram os maconhados.
É verdade que isso não ocorre com todo mundo, pois também conheço gente que fuma maconha há anos e nunca agrediu ninguém. Mas, se alguns podem ser levados ao delírio, por que dizer que essa erva não é ofensiva? Aliás, ela abre caminho para as drogas pesadas.
Argumentam eles que o álcool é pior que a maconha, mas não é proibido. Pode ser, mas estou certo de que muito menos gente consumiria bebida alcoólica se isso fosse proibido, o que é inviável.
No Brasil, são milhões de alcoólatras, causando uma despesa, para tratá-los, de mais de meio bilhão de reais aos cofres públicos.
A legalização da maconha certamente levará ao aumento de consumidores e das despesas com seu tratamento. O que o país ganharia com isso? O certo seria uma campanha educativa em larga escala para mostrar aos que ainda não usam drogas que usá-las é autodestruir-se.
Posso estar enganado, mas percebo, em meio a essa polêmica pela legalização da maconha, algo mais que uma simples disputa em defesa da saúde ou do direito de todo cidadão usufruir do que lhe dá prazer.
Na verdade, o que move alguns dos defensores da legalização é a necessidade que têm de opor-se ao estabelecido, ou seja, ao que é "careta".
Para entender o problema basta lembrar como foi que tudo começou, quando se drogar se tornou o modo de afirmação dos jovens. Esse foi um fenômeno de abrangência mundial, ligado à nova música que tomou conta da juventude nos anos 1960 e 70. A guitarra elétrica e a entrega ao delírio das drogas são frutos de um mesmo momento.
Esse fenômeno teve o seu ápice nos espetáculos musicais que reuniam dezenas de milhares de jovens e que eram uma espécie de entrega coletiva ao delírio ampliado pelo consumo de cocaína, maconha, ácido lisérgico e tudo o mais.
Com o passar dos anos, alguns dos ídolos desse período morreram de overdose, enquanto os que sobreviveram continuaram cantando e tocando, mas já envelhecidos e fora de moda como o prestígio das drogas que, não obstante, apropriadas pelos traficantes, consolidaram-se num mercado internacional clandestino, que movimenta bilhões de dólares.
Assim, a dependência, nos viciados, tomou o lugar do sonho (que acabou), enquanto a sociedade burguesa, que aquela geração abominava, voltou a ser vista como o caminho mais seguro a seguir.
Por outro lado, a repressão contra as drogas se intensificou, mas sem grandes resultados. Daí a tese de que o mal maior é o tráfico e que a legalização das drogas acabaria com ele.
Acabaria mesmo? Para que isso aconteça será preciso manter a venda de drogas no nível atual (ou certamente ampliado) e que o comércio legal passe a comprá-las dos produtores clandestinos, na Colômbia, na Bolívia, no Paraguai e sabe-se onde mais. Isso porque, se a oferta de drogas aos viciados não for satisfatória, eles recorrerão aos traficantes.
A mais nova proposta é que a legalização das drogas seja feita por todos os governos do mundo. Se isso ocorresse, os governos teriam que criar uma espécie de ministério específico, com centenas ou milhares de funcionários para atender a produção, distribuição e venda das drogas e, ao mesmo tempo, preparar-se para o tratamento médico de uma população de dependentes que, com a liberação, como as bebidas e o cigarro, atingirá a casa dos milhões e milhões.
Pois é, e tudo isso por culpa dos Beatles e dos Rolling Stones.
24 de setembro de 2014
Ferreira Gullar, Folha de SP
EU VOTO AÉCIO 45
O professor Mansueto de Almeida vem advertindo para a existência de esqueletos fiscais acumulados neste governo. Embora esta seja denúncia da oposição com propósito eleitoral, não dá para deixar de concordar em que a política fiscal vem deixando escapar indícios que podem servir de provas de atividades encobertas.
Esqueletos escondidos por aí não são tão facilmente identificáveis, porque estão propositalmente camuflados. Dá para desconfiar de que existam porque, lá pelas tantas, aparece, do nada, uma falange suspeita ou uma ponta de tíbia. De que ossos largados por aí, afinal, se trata?
Não se trata aqui das crateras contábeis que se abrem na execução dos projetos da Petrobrás e de outras estatais. Nem das aplicações de anabolizantes nas receitas do governo federal nem, tampouco, dos truques de contabilidade criativa a que as contas públicas estão sujeitas, por iniciativa do secretário do Tesouro, Arno Augustin.
Há, por exemplo, o até agora inexplicável rombo do seguro-desemprego (Fundo de Amparo ao Trabalhador), de R$ 13 bilhões apenas neste ano, que tem de peculiar a circunstância de ter aparecido numa conjuntura de pleno-emprego, quando não cabem pagamentos tão altos de seguro-desemprego.
Em abril, o ministro da Previdência avisou que, neste ano, o déficit das contas da Previdência Social seria cerca de R$10 bilhões mais alto do que o anunciado pelo governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficou indignado com essa revelação que entendia equivocada e mandou demitir Leonardo Rolim, o técnico autor das projeções bastardas. Semanas depois, o buraco foi não só confirmado, mas ampliado para R$ 15 bilhões. E não se fala mais nos cálculos realistas nem do paradeiro do técnico que os fez.
O BNDES parece, por si só, ossário de vastas proporções. De 2009 até o fim deste ano, terá recebido transferências do Tesouro de nada menos que R$ 339 bilhões. São recursos em seguida recanalizados em operações de financiamentos subsidiados ou de participações acionárias cujos destinatários permanecem ocultos, sob alegação de "sigilo bancário". Só um frigorífico, o JBS, recebeu subscrições em ações da subsidiária BNDESPar o invejável volume de R$ 8 bilhões. No período de 2002 a 2015, a distribuição de subsídios do BNDES deve alcançar a cifra de R$ 79,5 bilhões.
E tem a coisa cujo nome é "pedalada". São manobras que envolvem bancos oficiais, o próprio BNDES, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e o Banco Central (BC). Começam com atrasos propositais de pagamento de obrigações do Tesouro com benefícios sociais, como Bolsa Família e seguro-desemprego. Em seguida, os bancos públicos são chamados a dar cobertura ao Tesouro, o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, com operações que funcionam mais ou menos como empréstimos. Depois, se, além disso, o banco escorrega dos limites de crédito impostos pelas disposições macroprudenciais ou pelos critérios de Basileia, o BC trata de apagar impressões digitais e tal.
Em maio, por exemplo, apareceu "o caso dos R$ 4 bilhões", um crédito estranho a favor do Tesouro encontrado numa conta paralela de um banco privado, a ser contabilizado como ativo federal, aparentemente, para escapar do efeito-calendário (caixa baixa no final do mês).
As autoridades insistem em que não há nada de errado nessas operações. Se não há, por que então o esquema de despistamento. E por que os peritos do Tribunal de Contas da União estão debruçados sobre elas?
O professor Mansueto de Almeida vem advertindo para a existência de esqueletos fiscais acumulados neste governo. Embora esta seja denúncia da oposição com propósito eleitoral, não dá para deixar de concordar em que a política fiscal vem deixando escapar indícios que podem servir de provas de atividades encobertas.
Esqueletos escondidos por aí não são tão facilmente identificáveis, porque estão propositalmente camuflados. Dá para desconfiar de que existam porque, lá pelas tantas, aparece, do nada, uma falange suspeita ou uma ponta de tíbia. De que ossos largados por aí, afinal, se trata?
Não se trata aqui das crateras contábeis que se abrem na execução dos projetos da Petrobrás e de outras estatais. Nem das aplicações de anabolizantes nas receitas do governo federal nem, tampouco, dos truques de contabilidade criativa a que as contas públicas estão sujeitas, por iniciativa do secretário do Tesouro, Arno Augustin.
Há, por exemplo, o até agora inexplicável rombo do seguro-desemprego (Fundo de Amparo ao Trabalhador), de R$ 13 bilhões apenas neste ano, que tem de peculiar a circunstância de ter aparecido numa conjuntura de pleno-emprego, quando não cabem pagamentos tão altos de seguro-desemprego.
Em abril, o ministro da Previdência avisou que, neste ano, o déficit das contas da Previdência Social seria cerca de R$10 bilhões mais alto do que o anunciado pelo governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficou indignado com essa revelação que entendia equivocada e mandou demitir Leonardo Rolim, o técnico autor das projeções bastardas. Semanas depois, o buraco foi não só confirmado, mas ampliado para R$ 15 bilhões. E não se fala mais nos cálculos realistas nem do paradeiro do técnico que os fez.
O BNDES parece, por si só, ossário de vastas proporções. De 2009 até o fim deste ano, terá recebido transferências do Tesouro de nada menos que R$ 339 bilhões. São recursos em seguida recanalizados em operações de financiamentos subsidiados ou de participações acionárias cujos destinatários permanecem ocultos, sob alegação de "sigilo bancário". Só um frigorífico, o JBS, recebeu subscrições em ações da subsidiária BNDESPar o invejável volume de R$ 8 bilhões. No período de 2002 a 2015, a distribuição de subsídios do BNDES deve alcançar a cifra de R$ 79,5 bilhões.
E tem a coisa cujo nome é "pedalada". São manobras que envolvem bancos oficiais, o próprio BNDES, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e o Banco Central (BC). Começam com atrasos propositais de pagamento de obrigações do Tesouro com benefícios sociais, como Bolsa Família e seguro-desemprego. Em seguida, os bancos públicos são chamados a dar cobertura ao Tesouro, o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, com operações que funcionam mais ou menos como empréstimos. Depois, se, além disso, o banco escorrega dos limites de crédito impostos pelas disposições macroprudenciais ou pelos critérios de Basileia, o BC trata de apagar impressões digitais e tal.
Em maio, por exemplo, apareceu "o caso dos R$ 4 bilhões", um crédito estranho a favor do Tesouro encontrado numa conta paralela de um banco privado, a ser contabilizado como ativo federal, aparentemente, para escapar do efeito-calendário (caixa baixa no final do mês).
As autoridades insistem em que não há nada de errado nessas operações. Se não há, por que então o esquema de despistamento. E por que os peritos do Tribunal de Contas da União estão debruçados sobre elas?
24 de setembro de 2014
Celso Ming, O Estadão
Gatos e ratos
EU VOTO AÉCIO 45
BRASÍLIA - "Não é função da imprensa fazer investigação", decretou a presidente e candidata Dilma, numa das suas entrevistas diárias no Alvorada a uma multidão de representantes da própria imprensa.
No fundo, Dilma queria dizer: "A função da imprensa é publicar as versões oficiais, as declarações que eu quero e tudo o que contribui com a minha campanha e atrapalha a dos os meus adversários".
Não chegou a tanto, mas disse que nenhum órgão da imprensa tem o status da Polícia Federal, do Ministério Público e do Supremo, esses, sim, aptos a investigar e/ou julgar. E o PT, tem ou não?
O partido nasceu, cresceu, encorpou e ganhou a Presidência, entre 1980 e 2002, justamente em aliança com a PF, o MP e... a imprensa, vasculhando tudo e todos e criando duas categorias de políticos no país: "nós, os puros e éticos, e todos os outros, impuros e antiéticos".
Quem comandou as investigações e a CPI que aniquilaram Collor, hoje amigão de Lula e aliado de Dilma? Quem esteve por trás da divulgação dos escândalos envolvendo qualquer um não petista? O PT, que entrou para a história como o grande partido ético e o grande partido de oposição.
Era ele quem, infiltrado em diferentes instâncias da máquina pública, levantava as suspeitas, fazia dobradinha com policiais e procuradores e pautava os jornalistas. Eles iam à luta, confirmavam a veracidade, colhiam os detalhes e faziam as manchetes. Ou seja, investigavam.
O PT não resistiu à mudança de posição. O gato virou rato, e a imprensa, de "amiga", passou a "inimiga", quando não foi e não é nem uma coisa nem outra. Apenas deve cumprir o seu papel, inclusive o de investigar.
Graças a ela, o país soube dos escândalos dos governos de Sarney, FHC, Lula e Dilma. Entram aí o mensalão, o doleiro camarada, os Correios, o Banco do Brasil, a Petrobras.
Não seja ingrata, presidente! O Brasil precisa cada vez mais dos jornalistas investigativos.
24 de setembro de 2014
Eliane Cantanhede, Folha de SP`
BRASÍLIA - "Não é função da imprensa fazer investigação", decretou a presidente e candidata Dilma, numa das suas entrevistas diárias no Alvorada a uma multidão de representantes da própria imprensa.
No fundo, Dilma queria dizer: "A função da imprensa é publicar as versões oficiais, as declarações que eu quero e tudo o que contribui com a minha campanha e atrapalha a dos os meus adversários".
Não chegou a tanto, mas disse que nenhum órgão da imprensa tem o status da Polícia Federal, do Ministério Público e do Supremo, esses, sim, aptos a investigar e/ou julgar. E o PT, tem ou não?
O partido nasceu, cresceu, encorpou e ganhou a Presidência, entre 1980 e 2002, justamente em aliança com a PF, o MP e... a imprensa, vasculhando tudo e todos e criando duas categorias de políticos no país: "nós, os puros e éticos, e todos os outros, impuros e antiéticos".
Quem comandou as investigações e a CPI que aniquilaram Collor, hoje amigão de Lula e aliado de Dilma? Quem esteve por trás da divulgação dos escândalos envolvendo qualquer um não petista? O PT, que entrou para a história como o grande partido ético e o grande partido de oposição.
Era ele quem, infiltrado em diferentes instâncias da máquina pública, levantava as suspeitas, fazia dobradinha com policiais e procuradores e pautava os jornalistas. Eles iam à luta, confirmavam a veracidade, colhiam os detalhes e faziam as manchetes. Ou seja, investigavam.
O PT não resistiu à mudança de posição. O gato virou rato, e a imprensa, de "amiga", passou a "inimiga", quando não foi e não é nem uma coisa nem outra. Apenas deve cumprir o seu papel, inclusive o de investigar.
Graças a ela, o país soube dos escândalos dos governos de Sarney, FHC, Lula e Dilma. Entram aí o mensalão, o doleiro camarada, os Correios, o Banco do Brasil, a Petrobras.
Não seja ingrata, presidente! O Brasil precisa cada vez mais dos jornalistas investigativos.
24 de setembro de 2014
Eliane Cantanhede, Folha de SP`
As redes sociais e as eleições
EU VOTO AÉCIO 45
Três em cinco eleitores brasileiros estão nas redes sociais, algo em torno de 84 milhões de votantes. O dado é expressivo. Indica que a campanha eleitoral entrou bem nos corredores eletrônicos. De julho até dias atrás, o Facebook registrou 58 milhões de mensagens relacionadas às eleições, propiciando curtidas, compartilhamentos, comentários a favor e contra. O monitoramento tem sido acompanhado pela cientista política norte-americana Katie Harbath, estudiosa do uso das redes em campanhas políticas, em passagem pelo país. A situação merece destaque pela introdução das ferramentas da era tecnotrônica em nossa seara política, até então afeita a rudes costumes e velhas práticas, particularmente na metodologia de cooptação eleitoral. Do centro aos confins do território, que ainda dão guarida ao balcão de recompensas para se obter o voto, a chave eletrônica começa a abrir a cabeça de um eleitor cada vez mais antenado nas maravilhas do aparato ao seu redor, a começar do celular.
A par da planilha de grandes números, como 9 milhões de interações com conteúdo relativo aos últimos dois debates entre presidenciáveis, convém destacar os significados que esse novo ciclo expressa na vida das Nações, como explica Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA e mentor de planos da CIA, no livro “A Era Tecnotrônica”, cujas características comportam a escalada das classes médias, a expansão do setor terciário, o gigantismo dos núcleos universitários, as indústrias de ponta, o incentivo às modernas tecnologias e os trabalhadores bem formados e informados, entre outras. A importância da absorção do ferramental tecnológico pela política, em estágio avançado por aqui - eis que o Brasil está entre os cinco principais consumidores mundiais das redes – reside no fato de que este aparato eletrônico funciona como extensão da liberdade de expressão, um pulmão a oxigenar os fluxos institucionais, ampliando os circuitos da participação social, propiciando o deslocamento do discurso eleitoral para a esfera dos participantes.
Sob esse aspecto, ajuda a reforçar a expressão individual, valor central da democracia, e a dar vazão ao discurso dos novos polos de poder que se formam na sociedade, no caso, as entidades de intermediação que se formam na esteira do declínio dos mecanismos tradicionais da política (parlamentos, representantes, etc). A crise da democracia representativa, cujos sinais aparecem até no estrambótico desfile de pedintes de votos nos programas eleitorais, acaba promovendo a descrença social. Uma locução de indignação emerge. As manifestações das ruas traduzem esse espírito. As redes sociais, nesse vácuo, constituem o ancoradouro natural para acolher o clamor geral, as pontuações de um eleitor que se acha mal representado, a insatisfação do pagador de impostos que cobra pelos serviços que o Estado lhe deve. Descobre ele que, pela via eletrônica, sua voz pode chegar aos ouvidos de milhares de outros. Ancorado no valor da pertinência social, exige o que é seu, defende pontos de vista, manifesta opinião sobre fatos, atos, e, nesse momento, sobre os candidatos, com direito de até ser malcriado. Mais um dado citado pela pesquisadora Harbath explica o estrondoso sucesso da rede no Brasil: registra-se uma média de 1 bilhão de visualizações diárias, 65% das quais por internet móvel.
Não é de admirar que as redes se transformem em correias de transmissão do clima social. A linguagem é a das ruas, inclusive no palavrório desbocado, nas interpretações maldosas de situações, na defesa, xingamentos e acusações a candidatos, o que deixa transparecer exércitos de um lado e de outro, a puxarem (sob soldo?) o cabo de guerra de candidaturas. Nesta fase de experimentação, exacerbam-se os ânimos e o verbo resvala pelo terreno da calúnia e difamação, a demonstrar que se há descontrole nos meios tradicionais – como programas eleitorais no rádio e na TV – imagine-se a falta de controle nas novas mídias, mesmo se sabendo que há mais de 100 solicitações exigindo a remoção de conteúdos nas redes. As trombadas, pois, fazem parte deste iniciante ensaio que se desenvolve nas diferentes redes sociais e mídias, particularmente pelos jovens que registram elevado índice (85% deles) de consumo da internet. É evidente que a maior parcela dessa participação se dá na vertente da distração e do entretenimento e não na vereda da política. Mas não é desprezível o contingente de usuários que sobem à tribuna eleitoral para acusar, defender, fazer campanha aberta por seus candidatos.
Se a lenga-lenga nas redes não chega a alterar os mapas eleitorais – são poucos os que mudam de posição – pelo menos consegue salpicar o desértico jardim político com respingos das querelas entre grupos. O ensaio de politização nas redes é um bom sinal, a indicar que a política está entrando nas veias sociais. Já os candidatos precisam aprender a usar melhor os canais tecnológicos. Em vez de autoglorificação, deveriam se propor a interagir com os eleitores e a debater ideias com adversários. É possível prever que na próxima campanha, o confronto entre candidatos seja intenso, mais frequente e direto. Um benefício que a eletrônica oferecerá à democracia, como se constata nos Estados Unidos.
Qualquer movimento na direção da meta de amplificar a locução social merece reconhecimento. Urge, como diz a expressão, “democratizar a democracia”, ou seja, fazer um esforço para aperfeiçoar os mecanismos de participação social no processo decisório; propiciar o encontro da democracia representativa com a democracia participativa; revigorar os instrumentos por esta usados ( plebiscito, referendo, projeto de iniciativa popular); fortalecer os novos núcleos de poder( entidades de intermediação social); e incentivar novas modalidades de comunicação. A engrenagem democrática, aqui e alhures, é um permanente exercício de retoque em suas ferramentas e peças.
Três em cinco eleitores brasileiros estão nas redes sociais, algo em torno de 84 milhões de votantes. O dado é expressivo. Indica que a campanha eleitoral entrou bem nos corredores eletrônicos. De julho até dias atrás, o Facebook registrou 58 milhões de mensagens relacionadas às eleições, propiciando curtidas, compartilhamentos, comentários a favor e contra. O monitoramento tem sido acompanhado pela cientista política norte-americana Katie Harbath, estudiosa do uso das redes em campanhas políticas, em passagem pelo país. A situação merece destaque pela introdução das ferramentas da era tecnotrônica em nossa seara política, até então afeita a rudes costumes e velhas práticas, particularmente na metodologia de cooptação eleitoral. Do centro aos confins do território, que ainda dão guarida ao balcão de recompensas para se obter o voto, a chave eletrônica começa a abrir a cabeça de um eleitor cada vez mais antenado nas maravilhas do aparato ao seu redor, a começar do celular.
A par da planilha de grandes números, como 9 milhões de interações com conteúdo relativo aos últimos dois debates entre presidenciáveis, convém destacar os significados que esse novo ciclo expressa na vida das Nações, como explica Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA e mentor de planos da CIA, no livro “A Era Tecnotrônica”, cujas características comportam a escalada das classes médias, a expansão do setor terciário, o gigantismo dos núcleos universitários, as indústrias de ponta, o incentivo às modernas tecnologias e os trabalhadores bem formados e informados, entre outras. A importância da absorção do ferramental tecnológico pela política, em estágio avançado por aqui - eis que o Brasil está entre os cinco principais consumidores mundiais das redes – reside no fato de que este aparato eletrônico funciona como extensão da liberdade de expressão, um pulmão a oxigenar os fluxos institucionais, ampliando os circuitos da participação social, propiciando o deslocamento do discurso eleitoral para a esfera dos participantes.
Sob esse aspecto, ajuda a reforçar a expressão individual, valor central da democracia, e a dar vazão ao discurso dos novos polos de poder que se formam na sociedade, no caso, as entidades de intermediação que se formam na esteira do declínio dos mecanismos tradicionais da política (parlamentos, representantes, etc). A crise da democracia representativa, cujos sinais aparecem até no estrambótico desfile de pedintes de votos nos programas eleitorais, acaba promovendo a descrença social. Uma locução de indignação emerge. As manifestações das ruas traduzem esse espírito. As redes sociais, nesse vácuo, constituem o ancoradouro natural para acolher o clamor geral, as pontuações de um eleitor que se acha mal representado, a insatisfação do pagador de impostos que cobra pelos serviços que o Estado lhe deve. Descobre ele que, pela via eletrônica, sua voz pode chegar aos ouvidos de milhares de outros. Ancorado no valor da pertinência social, exige o que é seu, defende pontos de vista, manifesta opinião sobre fatos, atos, e, nesse momento, sobre os candidatos, com direito de até ser malcriado. Mais um dado citado pela pesquisadora Harbath explica o estrondoso sucesso da rede no Brasil: registra-se uma média de 1 bilhão de visualizações diárias, 65% das quais por internet móvel.
Não é de admirar que as redes se transformem em correias de transmissão do clima social. A linguagem é a das ruas, inclusive no palavrório desbocado, nas interpretações maldosas de situações, na defesa, xingamentos e acusações a candidatos, o que deixa transparecer exércitos de um lado e de outro, a puxarem (sob soldo?) o cabo de guerra de candidaturas. Nesta fase de experimentação, exacerbam-se os ânimos e o verbo resvala pelo terreno da calúnia e difamação, a demonstrar que se há descontrole nos meios tradicionais – como programas eleitorais no rádio e na TV – imagine-se a falta de controle nas novas mídias, mesmo se sabendo que há mais de 100 solicitações exigindo a remoção de conteúdos nas redes. As trombadas, pois, fazem parte deste iniciante ensaio que se desenvolve nas diferentes redes sociais e mídias, particularmente pelos jovens que registram elevado índice (85% deles) de consumo da internet. É evidente que a maior parcela dessa participação se dá na vertente da distração e do entretenimento e não na vereda da política. Mas não é desprezível o contingente de usuários que sobem à tribuna eleitoral para acusar, defender, fazer campanha aberta por seus candidatos.
Se a lenga-lenga nas redes não chega a alterar os mapas eleitorais – são poucos os que mudam de posição – pelo menos consegue salpicar o desértico jardim político com respingos das querelas entre grupos. O ensaio de politização nas redes é um bom sinal, a indicar que a política está entrando nas veias sociais. Já os candidatos precisam aprender a usar melhor os canais tecnológicos. Em vez de autoglorificação, deveriam se propor a interagir com os eleitores e a debater ideias com adversários. É possível prever que na próxima campanha, o confronto entre candidatos seja intenso, mais frequente e direto. Um benefício que a eletrônica oferecerá à democracia, como se constata nos Estados Unidos.
Qualquer movimento na direção da meta de amplificar a locução social merece reconhecimento. Urge, como diz a expressão, “democratizar a democracia”, ou seja, fazer um esforço para aperfeiçoar os mecanismos de participação social no processo decisório; propiciar o encontro da democracia representativa com a democracia participativa; revigorar os instrumentos por esta usados ( plebiscito, referendo, projeto de iniciativa popular); fortalecer os novos núcleos de poder( entidades de intermediação social); e incentivar novas modalidades de comunicação. A engrenagem democrática, aqui e alhures, é um permanente exercício de retoque em suas ferramentas e peças.
24 de setembro de 2014
Gaudêncio Torquato, O Estadão
EU VOTO AÉCIO 45
Uma das questões mais importantes que o Brasil deve enfrentar nos próximos anos é a questão da taxa de juros. Seu componente central é a chamada taxa de juros de equilíbrio ou neutra. Essa taxa, em tese, permite a economia crescer sem gerar inflação.
Exemplos históricos ajudam a entender a questão. O Reino Unido viveu momento elucidativo séculos atrás quando o Parlamento ganhou poder para elaborar o Orçamento. Até ali, o rei tinha poderes absolutos para gastar. Para cobrir rombos, podia taxar ou tomar emprestado à vontade. A taxa de juros naquele momento oscilava perto de 14% ao ano. Mas, a partir do momento em que os gastos públicos começaram a ser controlados por imposição de um Parlamento conservador, a taxa passou a cair. Em algumas décadas, atingiu patamar de 4% a 5%.
O mundo é mais complexo e sofisticado hoje, e a taxa de inflação é um componente importante da taxa de juros nominal, além de outros componentes do risco-país, como o risco cambial e político. Mas a experiência de um grande número de países nas últimas décadas, inclusive do Brasil, mostra um caminho claro para a queda dos juros na economia.
No período de 2002 a 2003, as taxas de um ano no mercado brasileiro chegaram a atingir 33%. Já a taxa do BC (Selic) chegou a 26,5%, visando controlar uma inflação que tinha atingido cerca de 12% em 2002 e com expectativa nessa faixa para 2003.
A inflação caiu gradualmente até 3,2% em 2006. E, nos seis anos em que a meta foi fixada em 4,5%, de 2005 a 2010, existiram três anos com a inflação abaixo da meta e três anos acima, o que significa um patamar de inflação equilibrada ao redor da meta.
Naquele período, as taxas Selic caíram ou subiram de acordo com os ciclos monetários, mas com tendência claramente declinante. A taxa média de juros caiu de forma sustentada e manteve a inflação na meta no período, produzindo queda constante da taxa de equilíbrio ou neutra.
Esse ganho foi consequência do rigor fiscal no início do período citado, da queda da divida pública durante o período, da política monetária e da credibilidade crescente do BC e do sistema de metas, o que balizou as expectativas de inflação em torno da inflação esperada de 4,5%, contendo reajustes de preços. Houve também queda do risco externo, com aumento das reservas internacionais. Tudo isso gerou redução dos chamados prêmios de risco, principalmente os riscos inflacionário, fiscal e cambial o que leva naturalmente a uma queda gradual dos juros.
Portanto, a experiência brasileira, como a de outros países, é inequívoca e mostra claramente o caminho a seguir.
Uma das questões mais importantes que o Brasil deve enfrentar nos próximos anos é a questão da taxa de juros. Seu componente central é a chamada taxa de juros de equilíbrio ou neutra. Essa taxa, em tese, permite a economia crescer sem gerar inflação.
Exemplos históricos ajudam a entender a questão. O Reino Unido viveu momento elucidativo séculos atrás quando o Parlamento ganhou poder para elaborar o Orçamento. Até ali, o rei tinha poderes absolutos para gastar. Para cobrir rombos, podia taxar ou tomar emprestado à vontade. A taxa de juros naquele momento oscilava perto de 14% ao ano. Mas, a partir do momento em que os gastos públicos começaram a ser controlados por imposição de um Parlamento conservador, a taxa passou a cair. Em algumas décadas, atingiu patamar de 4% a 5%.
O mundo é mais complexo e sofisticado hoje, e a taxa de inflação é um componente importante da taxa de juros nominal, além de outros componentes do risco-país, como o risco cambial e político. Mas a experiência de um grande número de países nas últimas décadas, inclusive do Brasil, mostra um caminho claro para a queda dos juros na economia.
No período de 2002 a 2003, as taxas de um ano no mercado brasileiro chegaram a atingir 33%. Já a taxa do BC (Selic) chegou a 26,5%, visando controlar uma inflação que tinha atingido cerca de 12% em 2002 e com expectativa nessa faixa para 2003.
A inflação caiu gradualmente até 3,2% em 2006. E, nos seis anos em que a meta foi fixada em 4,5%, de 2005 a 2010, existiram três anos com a inflação abaixo da meta e três anos acima, o que significa um patamar de inflação equilibrada ao redor da meta.
Naquele período, as taxas Selic caíram ou subiram de acordo com os ciclos monetários, mas com tendência claramente declinante. A taxa média de juros caiu de forma sustentada e manteve a inflação na meta no período, produzindo queda constante da taxa de equilíbrio ou neutra.
Esse ganho foi consequência do rigor fiscal no início do período citado, da queda da divida pública durante o período, da política monetária e da credibilidade crescente do BC e do sistema de metas, o que balizou as expectativas de inflação em torno da inflação esperada de 4,5%, contendo reajustes de preços. Houve também queda do risco externo, com aumento das reservas internacionais. Tudo isso gerou redução dos chamados prêmios de risco, principalmente os riscos inflacionário, fiscal e cambial o que leva naturalmente a uma queda gradual dos juros.
Portanto, a experiência brasileira, como a de outros países, é inequívoca e mostra claramente o caminho a seguir.
24 de setembro de 2014
Henrique Meirelles, Folha de S`P
EU VOTO AÉCIO 45
O Brasil acordou nas cidades acima de 500 mil habitantes desde a Copa das Confederações. As classes médias tomaram consciência de seus direitos, da carestia dos bens e serviços comercializáveis no país, comparando os preços dos EUA, do custo de vida em elevação, da carga tributária e da onerosidade do crédito, e passou a temer o desemprego. Deu de atrasar os pagamentos e tomou ojeriza da corrupção generalizada e da insegurança em face do crime.
Sei que escrevo para uma minoria, a parte mais consciente da sociedade, a que lê, pensa, compara e verifica a diferença entre um PSDB mais chegado à racionalidade econômica, à ética e à modernidade e os partidos anódinos, aproveitadores da coisa pública e, entre a ganância do PT, alimentado por uma esquerda caviar (e burra) combatido, à sua vez, por uma direita estúpida, especialmente em certos meios universitários.
Nós somos, quando muito, 20% do eleitorado. Dez por cento do colégio eleitoral se divide entre os totalmente alheios e os absolutamente descrentes de quaisquer políticos e eleições. Os 70% restantes se repartem entre os fanáticos, os alienados, os famélicos e sócios-dependentes dos programas demagógicos do PT, do PMDB, do PP e os persistentes votantes, uns crentes, outros nem tanto, de uma terceira via - 2014 ainda não explicada - ora simbolizada pela figura messiânica de Marina, maltratada por Dilma, se assemelhando a uma sádica com o chicote na mão.
No plano das eleições estaduais, o PT ganhará o Executivo de uns poucos e insignificantes estados da Federação. No plano legislativo federal, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) haverá imensa dispersão entre as legendas, sejam grandes ou pequenas, em razão da segmentação por interesses específicos nos municípios e cidades maiores, nas quais os cabos eleitorais atuam e formam o Poder Legislativo federal.
Em suma, a vontade nacional, ao contrário do que ocorre nos EUA e na Europa, não é capitaneada pelos partidos nacionalmente. Aqui, o mandonismo local forma os representantes do povo. As siglas partidárias são como legendas de aluguel ou compartimentos para acomodar as desavenças provincianas dos políticos do lugar. Valem nomes e trocas, não partidos e ideias.
Pois bem, segundo o Diap, essa fragmentação atingirá seu clímax nas eleições de 2014. Espera-se que nenhum partido grande (PT, PMDB, PSDB, PSB, PP) forme bancadas com mais de 62 membros. O restante estaria disperso noutras siglas médias e pequenas, como PDT, DEM, PSD, PTB et caterva, o que irá complicar a governabilidade. As alianças não se fariam em torno de ideias ou programas, mas de cargos e verbas, regulares e irregulares. As eleições viraram grandiosa feira de oportunidades negociais, mormente se o PT, isolado, continuar no poder em Brasília.
E bem pode ocorrer essa catástrofe temida mundo afora, afugentando investimentos, tanto que a morna recuperação dilmista, ex-brizolista, fez a Bolsa de Valores tombar e o dólar subir, reverberando o pavor que o mundo teve de Lula (e agora vê que tinha razão). Bastaram Marina e Aécio reagirem para a bolsa subir e o dólar cair.
Os grandes tribunos do passado não estão nessas eleições para desmentir as mentiras de dona Dilma, homens como Brizola, Carlos Lacerda, Antônio Carlos Magalhães e outros. Faltou o Aécio, um político elegante, a língua afiada dos políticos do passado. Como não lhe jogar na cara o botar na conta do Planalto R$ 2.800 por semana para pentear seu cabelo? Como não verberar sua aliança com o crime; aumento maior do salário-reclusão do que a outros benefícios pagos aos honestos? Como não lhe enfiar goela abaixo os aumentos na conta de energia de sua política maluca no setor energético, punindo os mais pobres?
A lista é enorme e a deixaria sem fala ou atrapalhada, para, por exemplo, explicar o Porto de Mariel, presenteado a Cuba. E o banquete para 120 pessoas no melhor hotel de Lisboa? É de se pedir a prova de que pagaram do próprio bolso. Sua cara viria torta para o vídeo, pois quem pagou foi mesmo o Tesouro. O povo merecia vê-la desmascarada. Dos nove ministros que demitiu, nenhum foi punido.
Ela nunca sabe de nada, como Lula e Zé Dirceu. Erenice, sua amiguinha íntima, era ladra contumaz. Nunca tanta empáfia, a ponto de xingar os íntimos com os nomes mais chulos da língua, seria tão facilmente jogada ao chão. Mas quem disse que um gentleman como o Aécio ou uma pastora como Marina têm talentos desconstrutivos de más reputações, de lobos em pele de cordeiro? Eles é que são caninos com suas afiadas presas. Por qual razão não reproduzir seu discurso comunista no Fórum de São Paulo e a sua imagem alisando a cabeça de Fidel Castro?
Seja lá como for, a sociedade finalmente se dividiu. No segundo turno, o povo vai certamente apeá-la do poder. Irá para os seus pagos no Sul, bem distante do resto do Brasil. Desejo-lhe uma vida saudável junto à família e ao netinho.
24 de setembro de 2014
Sacha Calmon, Correio Braziliense
Sei que escrevo para uma minoria, a parte mais consciente da sociedade, a que lê, pensa, compara e verifica a diferença entre um PSDB mais chegado à racionalidade econômica, à ética e à modernidade e os partidos anódinos, aproveitadores da coisa pública e, entre a ganância do PT, alimentado por uma esquerda caviar (e burra) combatido, à sua vez, por uma direita estúpida, especialmente em certos meios universitários.
Nós somos, quando muito, 20% do eleitorado. Dez por cento do colégio eleitoral se divide entre os totalmente alheios e os absolutamente descrentes de quaisquer políticos e eleições. Os 70% restantes se repartem entre os fanáticos, os alienados, os famélicos e sócios-dependentes dos programas demagógicos do PT, do PMDB, do PP e os persistentes votantes, uns crentes, outros nem tanto, de uma terceira via - 2014 ainda não explicada - ora simbolizada pela figura messiânica de Marina, maltratada por Dilma, se assemelhando a uma sádica com o chicote na mão.
No plano das eleições estaduais, o PT ganhará o Executivo de uns poucos e insignificantes estados da Federação. No plano legislativo federal, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) haverá imensa dispersão entre as legendas, sejam grandes ou pequenas, em razão da segmentação por interesses específicos nos municípios e cidades maiores, nas quais os cabos eleitorais atuam e formam o Poder Legislativo federal.
Em suma, a vontade nacional, ao contrário do que ocorre nos EUA e na Europa, não é capitaneada pelos partidos nacionalmente. Aqui, o mandonismo local forma os representantes do povo. As siglas partidárias são como legendas de aluguel ou compartimentos para acomodar as desavenças provincianas dos políticos do lugar. Valem nomes e trocas, não partidos e ideias.
Pois bem, segundo o Diap, essa fragmentação atingirá seu clímax nas eleições de 2014. Espera-se que nenhum partido grande (PT, PMDB, PSDB, PSB, PP) forme bancadas com mais de 62 membros. O restante estaria disperso noutras siglas médias e pequenas, como PDT, DEM, PSD, PTB et caterva, o que irá complicar a governabilidade. As alianças não se fariam em torno de ideias ou programas, mas de cargos e verbas, regulares e irregulares. As eleições viraram grandiosa feira de oportunidades negociais, mormente se o PT, isolado, continuar no poder em Brasília.
E bem pode ocorrer essa catástrofe temida mundo afora, afugentando investimentos, tanto que a morna recuperação dilmista, ex-brizolista, fez a Bolsa de Valores tombar e o dólar subir, reverberando o pavor que o mundo teve de Lula (e agora vê que tinha razão). Bastaram Marina e Aécio reagirem para a bolsa subir e o dólar cair.
Os grandes tribunos do passado não estão nessas eleições para desmentir as mentiras de dona Dilma, homens como Brizola, Carlos Lacerda, Antônio Carlos Magalhães e outros. Faltou o Aécio, um político elegante, a língua afiada dos políticos do passado. Como não lhe jogar na cara o botar na conta do Planalto R$ 2.800 por semana para pentear seu cabelo? Como não verberar sua aliança com o crime; aumento maior do salário-reclusão do que a outros benefícios pagos aos honestos? Como não lhe enfiar goela abaixo os aumentos na conta de energia de sua política maluca no setor energético, punindo os mais pobres?
A lista é enorme e a deixaria sem fala ou atrapalhada, para, por exemplo, explicar o Porto de Mariel, presenteado a Cuba. E o banquete para 120 pessoas no melhor hotel de Lisboa? É de se pedir a prova de que pagaram do próprio bolso. Sua cara viria torta para o vídeo, pois quem pagou foi mesmo o Tesouro. O povo merecia vê-la desmascarada. Dos nove ministros que demitiu, nenhum foi punido.
Ela nunca sabe de nada, como Lula e Zé Dirceu. Erenice, sua amiguinha íntima, era ladra contumaz. Nunca tanta empáfia, a ponto de xingar os íntimos com os nomes mais chulos da língua, seria tão facilmente jogada ao chão. Mas quem disse que um gentleman como o Aécio ou uma pastora como Marina têm talentos desconstrutivos de más reputações, de lobos em pele de cordeiro? Eles é que são caninos com suas afiadas presas. Por qual razão não reproduzir seu discurso comunista no Fórum de São Paulo e a sua imagem alisando a cabeça de Fidel Castro?
Seja lá como for, a sociedade finalmente se dividiu. No segundo turno, o povo vai certamente apeá-la do poder. Irá para os seus pagos no Sul, bem distante do resto do Brasil. Desejo-lhe uma vida saudável junto à família e ao netinho.
24 de setembro de 2014
Sacha Calmon, Correio Braziliense
Democracia, eleições e DNA de partidos
EU VOTO AÉCIO 45
As eleições são um grande momento da vida democrática. Decidem pela regra da maioria quem vai governar. A democracia é um regime político que delibera quem vai governar contando cabeças, e não cortando cabeças, para lembrar uma fórmula de Bobbio. As eleições, no entanto, por si sós não definem a democracia, que se diferencia de uma autocracia eletiva, como a de Putin na Rússia ou a implantada por Chávez na Venezuela, por ter notas identificadoras do como se governa e de como são conduzidas as eleições. A política na democracia não é um jogo de soma zero no qual "quem ganha fica com tudo"; tem regras, que são a expressão de valores. Daí a importância de relembrá-las na antevéspera das eleições, o que farei inspirado na lição de Bobbio e pensando na realidade brasileira.
1) Todos os cidadãos devem usufruir os direitos políticos, ou seja, o direito de exprimir a sua opinião e escolher quem a expresse.
2) Os votos de todos os cidadãos devem ter peso igual.
Essas duas regras corporificam, com o reconhecimento da igual dignidade política de todos os indivíduos, o valor da igualdade. Daí o tema da inclusão política, da extensão do voto e da ampliação da cidadania.
3) Todos devem ter a liberdade de votar segundo sua própria opinião e esta deve ser a mais livre possível; essa liberdade passa pela existência de grupos políticos organizados que atuam numa concorrência pluralista.
Assim, regimes de partido único, como o de Cuba, não são democráticos.
4) Os cidadãos devem ser livres também no sentido de que podem escolher entre soluções diversas, vale dizer, os partidos políticos que disputam a eleição devem ter programas diversos e alternativos.
No Brasil, as eleições estão sendo substantivamente disputadas por três propostas diversas: uma de continuidade do atual governo e duas de oposição a ele.
A de Marina Silva, em sintonia com a visão de Eduardo Campos, é a expressão de significativa dissidência do arco de apoio ao PT e parte de uma avaliação do esgotamento do modelo petista.
A de Aécio Neves tem a consistência oposicionista do PSDB ao modo de governar do PT e aos seus desmandos, o compromisso histórico do PSDB com a estabilidade, o desenvolvimento econômico do País e a inclusão social, além de contar com a credibilidade dos seus quadros técnicos. A isso acrescento, na perspectiva de quem endossa a candidatura do PSDB, que os valores da democracia, relacionados com a afirmação dos direitos humanos, são constitutivos do DNA do PSDB. É o que corporifica Aécio na sua trajetória de parlamentar e governador de Minas Gerais, em sintonia com o legado político de Tancredo Neves e em convergência com a herança bendita do governo Fernando Henrique Cardoso.
As regras 3 e 4 afirmam o valor da liberdade como autonomia, a capacidade de cada um de definir suas próprias opiniões e escolhas políticas. Daí, para a sua efetivação, o papel da liberdade pessoal, de opinião, de reunião e de associação; a importância do pluralismo informativo, que dá sustento a essas liberdades, e o princípio da transparência, da visibilidade no exercício democrático do poder, no seu como governar, pois o que é do interesse de todos deve ser do conhecimento de todos. Daí deflui o direito à informação, antídoto aos abusos do poder, em especial a mentira e a corrupção, que minam a confiabilidade das instituições - tema importante do sistema político brasileiro atual, a partir do julgamento do mensalão.
Na correlação liberdade/igualdade e para atender às exigências da inclusão, destaco o papel dos direitos econômicos, sociais e culturais, que ensejam as condições materiais para que todos os indivíduos estejam em condição de ser livres. Esse processo foi reforçado pelos benefícios de estabilização econômica propiciada pelo governo do PSDB e por suas políticas sociais, patamar a partir do qual as gestões petistas vêm trabalhando, inclusive o Bolsa Família.
5) Nas eleições, assim como nas decisões coletivas, deve prevalecer a regra da maioria.
Daí o papel do segundo turno e a importância da lisura no processo eleitoral, pelo qual zela a Justiça Eleitoral.
6) Nenhuma decisão tomada pela regra da maioria deve limitar os direitos da minoria e, muito especialmente, o direito de se tornar maioria em igualdade de condições.
É por essa razão que a China, ainda que aberta para o potencial de liberdade do mercado, não é uma democracia.
Aos valores da igualdade e liberdade inerentes a essas regras se acrescentam valores a elas implícitos que justificam por que a democracia é um regime político preferível aos demais. O primeiro é o ideal da não violência, da civilidade pacífica na solução dos conflitos sociais. Por isso a ação direta, o terrorismo e a conduta de black blocs e assemelhados são práticas antidemocráticas que, pela violência, destroem o poder, mas não criam poder.
O segundo é a convicção de que o caminho de renovação da sociedade se faz por meio do livre debate das ideias, da mudança de mentalidades. O Brasil é um país melhor e mais justo depois da redemocratização e da Constituição de 1988. Este é um fato reconhecido pelas candidaturas de Aécio e de Marina, mas denegado pelos governos do PT, que se autoproclamam o marco zero da História brasileira.
O terceiro é a tolerância em relação aos Outros, o reconhecimento e a aceitação do diverso e do diferente no pluralismo de uma sociedade complexa como a brasileira.
Observo, concluindo, que é o valor da tolerância que faz da democracia um regime no qual, na arena política, existem adversários, e não inimigos a serem destruídos. Esse é um valor que não faz parte do DNA do PT, que, no seu modo de governar e nas suas campanhas, resvala com frequência na antidemocrática intolerância da desqualificação, por todos os meios, dos seus opositores.
Uma eleição diferente
As eleições são um grande momento da vida democrática. Decidem pela regra da maioria quem vai governar. A democracia é um regime político que delibera quem vai governar contando cabeças, e não cortando cabeças, para lembrar uma fórmula de Bobbio. As eleições, no entanto, por si sós não definem a democracia, que se diferencia de uma autocracia eletiva, como a de Putin na Rússia ou a implantada por Chávez na Venezuela, por ter notas identificadoras do como se governa e de como são conduzidas as eleições. A política na democracia não é um jogo de soma zero no qual "quem ganha fica com tudo"; tem regras, que são a expressão de valores. Daí a importância de relembrá-las na antevéspera das eleições, o que farei inspirado na lição de Bobbio e pensando na realidade brasileira.
1) Todos os cidadãos devem usufruir os direitos políticos, ou seja, o direito de exprimir a sua opinião e escolher quem a expresse.
2) Os votos de todos os cidadãos devem ter peso igual.
Essas duas regras corporificam, com o reconhecimento da igual dignidade política de todos os indivíduos, o valor da igualdade. Daí o tema da inclusão política, da extensão do voto e da ampliação da cidadania.
3) Todos devem ter a liberdade de votar segundo sua própria opinião e esta deve ser a mais livre possível; essa liberdade passa pela existência de grupos políticos organizados que atuam numa concorrência pluralista.
Assim, regimes de partido único, como o de Cuba, não são democráticos.
4) Os cidadãos devem ser livres também no sentido de que podem escolher entre soluções diversas, vale dizer, os partidos políticos que disputam a eleição devem ter programas diversos e alternativos.
No Brasil, as eleições estão sendo substantivamente disputadas por três propostas diversas: uma de continuidade do atual governo e duas de oposição a ele.
A de Marina Silva, em sintonia com a visão de Eduardo Campos, é a expressão de significativa dissidência do arco de apoio ao PT e parte de uma avaliação do esgotamento do modelo petista.
A de Aécio Neves tem a consistência oposicionista do PSDB ao modo de governar do PT e aos seus desmandos, o compromisso histórico do PSDB com a estabilidade, o desenvolvimento econômico do País e a inclusão social, além de contar com a credibilidade dos seus quadros técnicos. A isso acrescento, na perspectiva de quem endossa a candidatura do PSDB, que os valores da democracia, relacionados com a afirmação dos direitos humanos, são constitutivos do DNA do PSDB. É o que corporifica Aécio na sua trajetória de parlamentar e governador de Minas Gerais, em sintonia com o legado político de Tancredo Neves e em convergência com a herança bendita do governo Fernando Henrique Cardoso.
As regras 3 e 4 afirmam o valor da liberdade como autonomia, a capacidade de cada um de definir suas próprias opiniões e escolhas políticas. Daí, para a sua efetivação, o papel da liberdade pessoal, de opinião, de reunião e de associação; a importância do pluralismo informativo, que dá sustento a essas liberdades, e o princípio da transparência, da visibilidade no exercício democrático do poder, no seu como governar, pois o que é do interesse de todos deve ser do conhecimento de todos. Daí deflui o direito à informação, antídoto aos abusos do poder, em especial a mentira e a corrupção, que minam a confiabilidade das instituições - tema importante do sistema político brasileiro atual, a partir do julgamento do mensalão.
Na correlação liberdade/igualdade e para atender às exigências da inclusão, destaco o papel dos direitos econômicos, sociais e culturais, que ensejam as condições materiais para que todos os indivíduos estejam em condição de ser livres. Esse processo foi reforçado pelos benefícios de estabilização econômica propiciada pelo governo do PSDB e por suas políticas sociais, patamar a partir do qual as gestões petistas vêm trabalhando, inclusive o Bolsa Família.
5) Nas eleições, assim como nas decisões coletivas, deve prevalecer a regra da maioria.
Daí o papel do segundo turno e a importância da lisura no processo eleitoral, pelo qual zela a Justiça Eleitoral.
6) Nenhuma decisão tomada pela regra da maioria deve limitar os direitos da minoria e, muito especialmente, o direito de se tornar maioria em igualdade de condições.
É por essa razão que a China, ainda que aberta para o potencial de liberdade do mercado, não é uma democracia.
Aos valores da igualdade e liberdade inerentes a essas regras se acrescentam valores a elas implícitos que justificam por que a democracia é um regime político preferível aos demais. O primeiro é o ideal da não violência, da civilidade pacífica na solução dos conflitos sociais. Por isso a ação direta, o terrorismo e a conduta de black blocs e assemelhados são práticas antidemocráticas que, pela violência, destroem o poder, mas não criam poder.
O segundo é a convicção de que o caminho de renovação da sociedade se faz por meio do livre debate das ideias, da mudança de mentalidades. O Brasil é um país melhor e mais justo depois da redemocratização e da Constituição de 1988. Este é um fato reconhecido pelas candidaturas de Aécio e de Marina, mas denegado pelos governos do PT, que se autoproclamam o marco zero da História brasileira.
O terceiro é a tolerância em relação aos Outros, o reconhecimento e a aceitação do diverso e do diferente no pluralismo de uma sociedade complexa como a brasileira.
Observo, concluindo, que é o valor da tolerância que faz da democracia um regime no qual, na arena política, existem adversários, e não inimigos a serem destruídos. Esse é um valor que não faz parte do DNA do PT, que, no seu modo de governar e nas suas campanhas, resvala com frequência na antidemocrática intolerância da desqualificação, por todos os meios, dos seus opositores.
24 de setembro de 2014
Celso Lafer, O Estado de São Paulo
Uma eleição diferente
EU VOTO AÉCIO 45
Ao contrário da eleição anterior, em que sua votação era fundamental para determinar se haveria um segundo turno em que ela não concorreria, a hoje candidata do PSB Marina Silva está com um pé no segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff, mas vê nos últimos 15 dias de campanha o candidato do PSDB Aécio Neves aproximar-se.
Na eleição de 2010, a votação de quase 20% de Marina foi fundamental para que o tucano José Serra fosse para o segundo turno. Hoje, quem tem cerca de 20% é o candidato do PSDB, mas não há dúvidas de que haverá segundo turno, porque a presidente Dilma está com uma votação abaixo da média do PT nas eleições anteriores.
Diferentemente de outras eleições, hoje existem dois candidatos de oposição disputando vaga do segundo turno, que, juntos, são majoritários. Em 2002 e 2006, a maioria dos adversários de Lula no primeiro turno aderiu à sua candidatura: em 2002, Garotinho, do PSB, teve 17,8% dos votos e Ciro, do PPS, 11,9%; em 2006, foi a vez de Cristovam Buarque, do PDT (2,6%), e Heloisa Helena, do PSOL (6,8%).
Em 2010, Marina, pelo PV, se absteve de apoiar alguém no segundo turno, mas hoje dependerá do apoio do PSDB para vencer a eleição, se for para o segundo turno contra Dilma. Não que os eleitores tucanos não estejam propensos, em sua maioria, a votar nela para derrotar o PT, mas ela precisará de mais que os votos.
Vai ter que negociar um apoio programático para dar segurança ao eleitorado de que terá condições de governar o país. Um acordo em grande estilo com partidos que hoje estão na oposição poderá representar para Marina, num provável segundo turno, o que a Carta aos Brasileiros representou para Lula em 2002.
Antes, porém, precisa chegar na frente de Aécio, e não é à toa que os dois dizem a mesma coisa a esta altura da campanha: não há mais tempo para ser sutil, é preciso ser explícito para que o eleitor entenda logo a mensagem. Por isso, a campanha de Marina decidiu, a partir deste fim de semana, denunciar o que chama de mentiras da campanha de Dilma Rousseff.
E Aécio parte para convencer o eleitor de que votar em Marina é o mesmo que votar no PT. Ao mesmo tempo, dedica-se a Minas, jogando para o eleitor mineiro a responsabilidade de levá-lo à presidência. Acredita que se crescer em Minas, ultrapassando Dilma, aumentará as chances de eleger Pimenta da Veiga governador, e ir para o segundo turno.
Em tese, ele tem também espaço para crescer em São Paulo, onde Marina abriu uma liderança im-plausível e Dilma se mantém bem votada, apesar de o PT estar mal no estado. Na pesquisa recente do Datafolha, a diferença de 20 pontos para Marina reduziu-se para 13; no Ibope, essa distância era de 16 pontos e caiu para 11.
O comando da campanha de Aécio quer chegar a 25% das intenções de votos na última semana da campanha, um crescimento de seis a oito pontos, o que significaria que Marina sairia da casa dos 30% para ficar em empate técnico com o tucano.
Se isso acontecer, segundo o diretor do Datafolha Mauro Paulino, Aécio teria crescido além de seu limite máximo, que hoje é de 21%, e Marina teria caído abaixo de seu piso, que é de 27% segundo o instituto. Assessores de Aécio argumentam que esses limites são móveis, e mudam de acordo com a votação dos candidatos. Portanto, a evolução da campanha é que os dita.
Uma análise da votação por regiões do Datafolha mais recente mostra mudanças significativas na campanha. Na região com o maior número de eleitores, o Sudeste, Dilma conserva os 28% de pesquisas anteriores. Já Marina teve queda de 37% para 33%. Parte dessa queda foi para Aécio, que subiu de 18% para 20%.
No Sul, enquanto Dilma se mantém em 35%, Aécio subiu de 16% para 22%, aumentando mais do que a queda de Marina, que foi de 5 pontos, de 30% para 25%. No Nordeste, a candidata do PT garante grande votação, na casa dos 50%, e Marina continua em segundo com 32%. Aécio cresceu de 5% para 8%.
A Região Norte, com o menor eleitorado, registrou as maiores mudanças nos últimos 15 dias: Dilma subiu de 38% para 49%; Marina caiu de 32% para 28%, e Aécio caiu de 14% para 9%. Norte e Nordeste, onde o tucano tem sua pior performance, continuam a ser os bastiões da candidatura Dilma. E Marina segue à frente de Aécio em todas as regiões, mesmo onde está em queda.
24 de setembro de 2014
Merval Pereira, O Globo
Na eleição de 2010, a votação de quase 20% de Marina foi fundamental para que o tucano José Serra fosse para o segundo turno. Hoje, quem tem cerca de 20% é o candidato do PSDB, mas não há dúvidas de que haverá segundo turno, porque a presidente Dilma está com uma votação abaixo da média do PT nas eleições anteriores.
Diferentemente de outras eleições, hoje existem dois candidatos de oposição disputando vaga do segundo turno, que, juntos, são majoritários. Em 2002 e 2006, a maioria dos adversários de Lula no primeiro turno aderiu à sua candidatura: em 2002, Garotinho, do PSB, teve 17,8% dos votos e Ciro, do PPS, 11,9%; em 2006, foi a vez de Cristovam Buarque, do PDT (2,6%), e Heloisa Helena, do PSOL (6,8%).
Em 2010, Marina, pelo PV, se absteve de apoiar alguém no segundo turno, mas hoje dependerá do apoio do PSDB para vencer a eleição, se for para o segundo turno contra Dilma. Não que os eleitores tucanos não estejam propensos, em sua maioria, a votar nela para derrotar o PT, mas ela precisará de mais que os votos.
Vai ter que negociar um apoio programático para dar segurança ao eleitorado de que terá condições de governar o país. Um acordo em grande estilo com partidos que hoje estão na oposição poderá representar para Marina, num provável segundo turno, o que a Carta aos Brasileiros representou para Lula em 2002.
Antes, porém, precisa chegar na frente de Aécio, e não é à toa que os dois dizem a mesma coisa a esta altura da campanha: não há mais tempo para ser sutil, é preciso ser explícito para que o eleitor entenda logo a mensagem. Por isso, a campanha de Marina decidiu, a partir deste fim de semana, denunciar o que chama de mentiras da campanha de Dilma Rousseff.
E Aécio parte para convencer o eleitor de que votar em Marina é o mesmo que votar no PT. Ao mesmo tempo, dedica-se a Minas, jogando para o eleitor mineiro a responsabilidade de levá-lo à presidência. Acredita que se crescer em Minas, ultrapassando Dilma, aumentará as chances de eleger Pimenta da Veiga governador, e ir para o segundo turno.
Em tese, ele tem também espaço para crescer em São Paulo, onde Marina abriu uma liderança im-plausível e Dilma se mantém bem votada, apesar de o PT estar mal no estado. Na pesquisa recente do Datafolha, a diferença de 20 pontos para Marina reduziu-se para 13; no Ibope, essa distância era de 16 pontos e caiu para 11.
O comando da campanha de Aécio quer chegar a 25% das intenções de votos na última semana da campanha, um crescimento de seis a oito pontos, o que significaria que Marina sairia da casa dos 30% para ficar em empate técnico com o tucano.
Se isso acontecer, segundo o diretor do Datafolha Mauro Paulino, Aécio teria crescido além de seu limite máximo, que hoje é de 21%, e Marina teria caído abaixo de seu piso, que é de 27% segundo o instituto. Assessores de Aécio argumentam que esses limites são móveis, e mudam de acordo com a votação dos candidatos. Portanto, a evolução da campanha é que os dita.
Uma análise da votação por regiões do Datafolha mais recente mostra mudanças significativas na campanha. Na região com o maior número de eleitores, o Sudeste, Dilma conserva os 28% de pesquisas anteriores. Já Marina teve queda de 37% para 33%. Parte dessa queda foi para Aécio, que subiu de 18% para 20%.
No Sul, enquanto Dilma se mantém em 35%, Aécio subiu de 16% para 22%, aumentando mais do que a queda de Marina, que foi de 5 pontos, de 30% para 25%. No Nordeste, a candidata do PT garante grande votação, na casa dos 50%, e Marina continua em segundo com 32%. Aécio cresceu de 5% para 8%.
A Região Norte, com o menor eleitorado, registrou as maiores mudanças nos últimos 15 dias: Dilma subiu de 38% para 49%; Marina caiu de 32% para 28%, e Aécio caiu de 14% para 9%. Norte e Nordeste, onde o tucano tem sua pior performance, continuam a ser os bastiões da candidatura Dilma. E Marina segue à frente de Aécio em todas as regiões, mesmo onde está em queda.
24 de setembro de 2014
Merval Pereira, O Globo
EU VOTO AÉCIO 45
SÃO PAULO - A Justiça mandou recolher exemplares da revista "Vogue Kids" que trazia fotos de modelos adolescentes em poses que interpretou como sensuais. Segundo o Ministério Público do Trabalho, que propôs a ação cautelar, a publicação das imagens viola o princípio da proteção integral à criança.
Temos aí várias questões. A determinação judicial não constitui uma forma de censura? Ainda que se admita que as imagens sejam sensuais, isso configura um caso em que o Estado deve ser acionado para passar por cima da autonomia das jovens modelos e de seus pais que autorizaram sua participação na campanha?
Penso que a liminar viola, sim, o princípio da liberdade de expressão e que, mesmo que julguemos que a exposição das meninas em cenas insinuantes seja algo a evitar, o tipo de prejuízo psicológico com o qual estaríamos lidando aqui só é magnificado pela judicialização do caso.
Por que, então, tanta gente apoia as investidas de promotores contra tudo o que aproxime crianças de sexo? Como explica Jean-Claude Guillebaud em "A Tirania do Prazer", nossa época vive uma verdadeira histeria da pedofilia. Para o autor, depois de "O prazer sem limites"; "É proibido proibir"; "Quanto mais faço amor, mais tenho vontade de fazer a revolução" e outras palavras de ordem populares nos libertários anos 60, era natural que as vozes antes caladas da "maioria moral" e dos "valores familiares" ressurgissem. Isso, ao lado do discurso de proteção à infância, que ganhou corpo nos anos 80, resultou na presente era de "pedofilofobia".
Os processos por crimes sexuais envolvendo menores aumentaram tanto na França, relata Guillebaud, que os próprios juízes vieram a público alertar contra a caça às bruxas.
É claro que há crimes reais que têm de ser combatidos, mas, sempre que as estatísticas dão grandes pulos, precisamos nos perguntar se o problema não está em nossas sensibilidades superaguçadas.
SÃO PAULO - A Justiça mandou recolher exemplares da revista "Vogue Kids" que trazia fotos de modelos adolescentes em poses que interpretou como sensuais. Segundo o Ministério Público do Trabalho, que propôs a ação cautelar, a publicação das imagens viola o princípio da proteção integral à criança.
Temos aí várias questões. A determinação judicial não constitui uma forma de censura? Ainda que se admita que as imagens sejam sensuais, isso configura um caso em que o Estado deve ser acionado para passar por cima da autonomia das jovens modelos e de seus pais que autorizaram sua participação na campanha?
Penso que a liminar viola, sim, o princípio da liberdade de expressão e que, mesmo que julguemos que a exposição das meninas em cenas insinuantes seja algo a evitar, o tipo de prejuízo psicológico com o qual estaríamos lidando aqui só é magnificado pela judicialização do caso.
Por que, então, tanta gente apoia as investidas de promotores contra tudo o que aproxime crianças de sexo? Como explica Jean-Claude Guillebaud em "A Tirania do Prazer", nossa época vive uma verdadeira histeria da pedofilia. Para o autor, depois de "O prazer sem limites"; "É proibido proibir"; "Quanto mais faço amor, mais tenho vontade de fazer a revolução" e outras palavras de ordem populares nos libertários anos 60, era natural que as vozes antes caladas da "maioria moral" e dos "valores familiares" ressurgissem. Isso, ao lado do discurso de proteção à infância, que ganhou corpo nos anos 80, resultou na presente era de "pedofilofobia".
Os processos por crimes sexuais envolvendo menores aumentaram tanto na França, relata Guillebaud, que os próprios juízes vieram a público alertar contra a caça às bruxas.
É claro que há crimes reais que têm de ser combatidos, mas, sempre que as estatísticas dão grandes pulos, precisamos nos perguntar se o problema não está em nossas sensibilidades superaguçadas.
24 de setembro de 2014
Hélio Schwartsman, Folha de SP
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