EU VOTO AÉCIO 45
As eleições são um grande momento da vida democrática. Decidem pela regra da maioria quem vai governar. A democracia é um regime político que delibera quem vai governar contando cabeças, e não cortando cabeças, para lembrar uma fórmula de Bobbio. As eleições, no entanto, por si sós não definem a democracia, que se diferencia de uma autocracia eletiva, como a de Putin na Rússia ou a implantada por Chávez na Venezuela, por ter notas identificadoras do como se governa e de como são conduzidas as eleições. A política na democracia não é um jogo de soma zero no qual "quem ganha fica com tudo"; tem regras, que são a expressão de valores. Daí a importância de relembrá-las na antevéspera das eleições, o que farei inspirado na lição de Bobbio e pensando na realidade brasileira.
1) Todos os cidadãos devem usufruir os direitos políticos, ou seja, o direito de exprimir a sua opinião e escolher quem a expresse.
2) Os votos de todos os cidadãos devem ter peso igual.
Essas duas regras corporificam, com o reconhecimento da igual dignidade política de todos os indivíduos, o valor da igualdade. Daí o tema da inclusão política, da extensão do voto e da ampliação da cidadania.
3) Todos devem ter a liberdade de votar segundo sua própria opinião e esta deve ser a mais livre possível; essa liberdade passa pela existência de grupos políticos organizados que atuam numa concorrência pluralista.
Assim, regimes de partido único, como o de Cuba, não são democráticos.
4) Os cidadãos devem ser livres também no sentido de que podem escolher entre soluções diversas, vale dizer, os partidos políticos que disputam a eleição devem ter programas diversos e alternativos.
No Brasil, as eleições estão sendo substantivamente disputadas por três propostas diversas: uma de continuidade do atual governo e duas de oposição a ele.
A de Marina Silva, em sintonia com a visão de Eduardo Campos, é a expressão de significativa dissidência do arco de apoio ao PT e parte de uma avaliação do esgotamento do modelo petista.
A de Aécio Neves tem a consistência oposicionista do PSDB ao modo de governar do PT e aos seus desmandos, o compromisso histórico do PSDB com a estabilidade, o desenvolvimento econômico do País e a inclusão social, além de contar com a credibilidade dos seus quadros técnicos. A isso acrescento, na perspectiva de quem endossa a candidatura do PSDB, que os valores da democracia, relacionados com a afirmação dos direitos humanos, são constitutivos do DNA do PSDB. É o que corporifica Aécio na sua trajetória de parlamentar e governador de Minas Gerais, em sintonia com o legado político de Tancredo Neves e em convergência com a herança bendita do governo Fernando Henrique Cardoso.
As regras 3 e 4 afirmam o valor da liberdade como autonomia, a capacidade de cada um de definir suas próprias opiniões e escolhas políticas. Daí, para a sua efetivação, o papel da liberdade pessoal, de opinião, de reunião e de associação; a importância do pluralismo informativo, que dá sustento a essas liberdades, e o princípio da transparência, da visibilidade no exercício democrático do poder, no seu como governar, pois o que é do interesse de todos deve ser do conhecimento de todos. Daí deflui o direito à informação, antídoto aos abusos do poder, em especial a mentira e a corrupção, que minam a confiabilidade das instituições - tema importante do sistema político brasileiro atual, a partir do julgamento do mensalão.
Na correlação liberdade/igualdade e para atender às exigências da inclusão, destaco o papel dos direitos econômicos, sociais e culturais, que ensejam as condições materiais para que todos os indivíduos estejam em condição de ser livres. Esse processo foi reforçado pelos benefícios de estabilização econômica propiciada pelo governo do PSDB e por suas políticas sociais, patamar a partir do qual as gestões petistas vêm trabalhando, inclusive o Bolsa Família.
5) Nas eleições, assim como nas decisões coletivas, deve prevalecer a regra da maioria.
Daí o papel do segundo turno e a importância da lisura no processo eleitoral, pelo qual zela a Justiça Eleitoral.
6) Nenhuma decisão tomada pela regra da maioria deve limitar os direitos da minoria e, muito especialmente, o direito de se tornar maioria em igualdade de condições.
É por essa razão que a China, ainda que aberta para o potencial de liberdade do mercado, não é uma democracia.
Aos valores da igualdade e liberdade inerentes a essas regras se acrescentam valores a elas implícitos que justificam por que a democracia é um regime político preferível aos demais. O primeiro é o ideal da não violência, da civilidade pacífica na solução dos conflitos sociais. Por isso a ação direta, o terrorismo e a conduta de black blocs e assemelhados são práticas antidemocráticas que, pela violência, destroem o poder, mas não criam poder.
O segundo é a convicção de que o caminho de renovação da sociedade se faz por meio do livre debate das ideias, da mudança de mentalidades. O Brasil é um país melhor e mais justo depois da redemocratização e da Constituição de 1988. Este é um fato reconhecido pelas candidaturas de Aécio e de Marina, mas denegado pelos governos do PT, que se autoproclamam o marco zero da História brasileira.
O terceiro é a tolerância em relação aos Outros, o reconhecimento e a aceitação do diverso e do diferente no pluralismo de uma sociedade complexa como a brasileira.
Observo, concluindo, que é o valor da tolerância que faz da democracia um regime no qual, na arena política, existem adversários, e não inimigos a serem destruídos. Esse é um valor que não faz parte do DNA do PT, que, no seu modo de governar e nas suas campanhas, resvala com frequência na antidemocrática intolerância da desqualificação, por todos os meios, dos seus opositores.
As eleições são um grande momento da vida democrática. Decidem pela regra da maioria quem vai governar. A democracia é um regime político que delibera quem vai governar contando cabeças, e não cortando cabeças, para lembrar uma fórmula de Bobbio. As eleições, no entanto, por si sós não definem a democracia, que se diferencia de uma autocracia eletiva, como a de Putin na Rússia ou a implantada por Chávez na Venezuela, por ter notas identificadoras do como se governa e de como são conduzidas as eleições. A política na democracia não é um jogo de soma zero no qual "quem ganha fica com tudo"; tem regras, que são a expressão de valores. Daí a importância de relembrá-las na antevéspera das eleições, o que farei inspirado na lição de Bobbio e pensando na realidade brasileira.
1) Todos os cidadãos devem usufruir os direitos políticos, ou seja, o direito de exprimir a sua opinião e escolher quem a expresse.
2) Os votos de todos os cidadãos devem ter peso igual.
Essas duas regras corporificam, com o reconhecimento da igual dignidade política de todos os indivíduos, o valor da igualdade. Daí o tema da inclusão política, da extensão do voto e da ampliação da cidadania.
3) Todos devem ter a liberdade de votar segundo sua própria opinião e esta deve ser a mais livre possível; essa liberdade passa pela existência de grupos políticos organizados que atuam numa concorrência pluralista.
Assim, regimes de partido único, como o de Cuba, não são democráticos.
4) Os cidadãos devem ser livres também no sentido de que podem escolher entre soluções diversas, vale dizer, os partidos políticos que disputam a eleição devem ter programas diversos e alternativos.
No Brasil, as eleições estão sendo substantivamente disputadas por três propostas diversas: uma de continuidade do atual governo e duas de oposição a ele.
A de Marina Silva, em sintonia com a visão de Eduardo Campos, é a expressão de significativa dissidência do arco de apoio ao PT e parte de uma avaliação do esgotamento do modelo petista.
A de Aécio Neves tem a consistência oposicionista do PSDB ao modo de governar do PT e aos seus desmandos, o compromisso histórico do PSDB com a estabilidade, o desenvolvimento econômico do País e a inclusão social, além de contar com a credibilidade dos seus quadros técnicos. A isso acrescento, na perspectiva de quem endossa a candidatura do PSDB, que os valores da democracia, relacionados com a afirmação dos direitos humanos, são constitutivos do DNA do PSDB. É o que corporifica Aécio na sua trajetória de parlamentar e governador de Minas Gerais, em sintonia com o legado político de Tancredo Neves e em convergência com a herança bendita do governo Fernando Henrique Cardoso.
As regras 3 e 4 afirmam o valor da liberdade como autonomia, a capacidade de cada um de definir suas próprias opiniões e escolhas políticas. Daí, para a sua efetivação, o papel da liberdade pessoal, de opinião, de reunião e de associação; a importância do pluralismo informativo, que dá sustento a essas liberdades, e o princípio da transparência, da visibilidade no exercício democrático do poder, no seu como governar, pois o que é do interesse de todos deve ser do conhecimento de todos. Daí deflui o direito à informação, antídoto aos abusos do poder, em especial a mentira e a corrupção, que minam a confiabilidade das instituições - tema importante do sistema político brasileiro atual, a partir do julgamento do mensalão.
Na correlação liberdade/igualdade e para atender às exigências da inclusão, destaco o papel dos direitos econômicos, sociais e culturais, que ensejam as condições materiais para que todos os indivíduos estejam em condição de ser livres. Esse processo foi reforçado pelos benefícios de estabilização econômica propiciada pelo governo do PSDB e por suas políticas sociais, patamar a partir do qual as gestões petistas vêm trabalhando, inclusive o Bolsa Família.
5) Nas eleições, assim como nas decisões coletivas, deve prevalecer a regra da maioria.
Daí o papel do segundo turno e a importância da lisura no processo eleitoral, pelo qual zela a Justiça Eleitoral.
6) Nenhuma decisão tomada pela regra da maioria deve limitar os direitos da minoria e, muito especialmente, o direito de se tornar maioria em igualdade de condições.
É por essa razão que a China, ainda que aberta para o potencial de liberdade do mercado, não é uma democracia.
Aos valores da igualdade e liberdade inerentes a essas regras se acrescentam valores a elas implícitos que justificam por que a democracia é um regime político preferível aos demais. O primeiro é o ideal da não violência, da civilidade pacífica na solução dos conflitos sociais. Por isso a ação direta, o terrorismo e a conduta de black blocs e assemelhados são práticas antidemocráticas que, pela violência, destroem o poder, mas não criam poder.
O segundo é a convicção de que o caminho de renovação da sociedade se faz por meio do livre debate das ideias, da mudança de mentalidades. O Brasil é um país melhor e mais justo depois da redemocratização e da Constituição de 1988. Este é um fato reconhecido pelas candidaturas de Aécio e de Marina, mas denegado pelos governos do PT, que se autoproclamam o marco zero da História brasileira.
O terceiro é a tolerância em relação aos Outros, o reconhecimento e a aceitação do diverso e do diferente no pluralismo de uma sociedade complexa como a brasileira.
Observo, concluindo, que é o valor da tolerância que faz da democracia um regime no qual, na arena política, existem adversários, e não inimigos a serem destruídos. Esse é um valor que não faz parte do DNA do PT, que, no seu modo de governar e nas suas campanhas, resvala com frequência na antidemocrática intolerância da desqualificação, por todos os meios, dos seus opositores.
24 de setembro de 2014
Celso Lafer, O Estado de São Paulo
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