EU VOTO AÉCIO 45
Chama a atenção dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgado pelo IBGE na semana passada. Trata-se do aumento da matrícula na educação infantil. Nada menos de 80% das crianças de 4 e 5 anos estão matriculadas na escola. A cifra representa incremento de 3,1% de 2012 para 2013 - o maior salto nos grupos etários analisados.
À primeira vista, o número enseja aplauso. Mas análise menos superficial levanta questões que pedem resposta séria e focada. Entre elas, sobressai a exigência de qualidade. A quantidade anda de mãos dadas com a excelência? Ou a oferta se restringe a depósito de crianças?
O Brasil despertou para a educação infantil por vias transversas. Não se interessou por creches e escolinhas maternais pela importância da etapa para a formação do cidadão. Em vez de medida proativa, teve resposta reativa. O crescente ingresso de mães no mercado de trabalho levou à abertura de vagas no ensino infantil.
Mas, como ocorreu na década de 1970, quando se universalizou o acesso à escola a partir dos 7 anos, a improvisação falou alto mais uma vez. País que apela com desenvoltura para o jeitinho negligencia o planejamento. Com a educação infantil não foi diferente - aviou a receita sem levar em conta as peculiaridades da clientela.
Recebeu levas de crianças sem preocupar-se com a infraestrutura e os recursos materiais e humanos necessários para fazer frente aos desafios da nova etapa. Entre eles, definir currículo e avaliação; qualificar professores e auxiliares; equipar salas de aula; adequar banheiros, cozinhas e refeitórios; preparar espaços de lazer e repouso.
São exigências que demandam tempo, técnica e profissionalismo. Em bom português: não se compram em supermercado. Seminário nacional sobre avaliação da educação infantil realizado semana passada em São Paulo mostrou realidade preocupante. O país tem muito a caminhar em direção à melhoria da qualidade do atendimento até assegurar os direitos da criança.
Apesar da urgência, os candidatos a cargos executivos que disputam o voto dos brasileiros parecem não levar a sério o problema. Promessas genéricas figuram em peças de ficção que mostram um país maravilha em vez do país desigual e injusto onde vivem os milhões de crianças que engrossam as estatísticas.
Sem enfrentar o problema, o Brasil mantém o jogo do faz de conta. A escola entrega à sociedade cidadãos incapazes de ler textos simples, escrever redações legíveis, fazer as quatro operações. Analfabetos funcionais, são pessoas traídas por governos que teimam em deixar para amanhã o que deveria ter sido feito décadas atrás. É hora de convocar as inteligências nacionais e abraçar a causa como projeto de Estado, não de governo.
24 de setembro de 2014
Editorial Correio Braziliense
À primeira vista, o número enseja aplauso. Mas análise menos superficial levanta questões que pedem resposta séria e focada. Entre elas, sobressai a exigência de qualidade. A quantidade anda de mãos dadas com a excelência? Ou a oferta se restringe a depósito de crianças?
O Brasil despertou para a educação infantil por vias transversas. Não se interessou por creches e escolinhas maternais pela importância da etapa para a formação do cidadão. Em vez de medida proativa, teve resposta reativa. O crescente ingresso de mães no mercado de trabalho levou à abertura de vagas no ensino infantil.
Mas, como ocorreu na década de 1970, quando se universalizou o acesso à escola a partir dos 7 anos, a improvisação falou alto mais uma vez. País que apela com desenvoltura para o jeitinho negligencia o planejamento. Com a educação infantil não foi diferente - aviou a receita sem levar em conta as peculiaridades da clientela.
Recebeu levas de crianças sem preocupar-se com a infraestrutura e os recursos materiais e humanos necessários para fazer frente aos desafios da nova etapa. Entre eles, definir currículo e avaliação; qualificar professores e auxiliares; equipar salas de aula; adequar banheiros, cozinhas e refeitórios; preparar espaços de lazer e repouso.
São exigências que demandam tempo, técnica e profissionalismo. Em bom português: não se compram em supermercado. Seminário nacional sobre avaliação da educação infantil realizado semana passada em São Paulo mostrou realidade preocupante. O país tem muito a caminhar em direção à melhoria da qualidade do atendimento até assegurar os direitos da criança.
Apesar da urgência, os candidatos a cargos executivos que disputam o voto dos brasileiros parecem não levar a sério o problema. Promessas genéricas figuram em peças de ficção que mostram um país maravilha em vez do país desigual e injusto onde vivem os milhões de crianças que engrossam as estatísticas.
Sem enfrentar o problema, o Brasil mantém o jogo do faz de conta. A escola entrega à sociedade cidadãos incapazes de ler textos simples, escrever redações legíveis, fazer as quatro operações. Analfabetos funcionais, são pessoas traídas por governos que teimam em deixar para amanhã o que deveria ter sido feito décadas atrás. É hora de convocar as inteligências nacionais e abraçar a causa como projeto de Estado, não de governo.
24 de setembro de 2014
Editorial Correio Braziliense
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