SÃO PAULO - É legítimo torcer contra o Brasil na Copa? Ainda que eu não tenha abraçado essa posição, minha resposta é um sonoro "sim".
Para que, afinal, serve o jogo? Evidências zoológicas sugerem que a brincadeira desempenha um papel fundamental no desenvolvimento dos mamíferos. É jogando, isto é, simulando lutas, caçadas e fugas, que os filhotes aprendem e, divertindo-se, se preparam para a vida adulta.
Isso vale ainda mais para o homem do que para outros animais. O historiador holandês Johan Huizinga (1872-1945), autor do clássico "Homo Ludens", sustenta que a ideia de jogo é central para a civilização.
Para ele, praticamente todas as atividades humanas, incluindo filosofia, guerra, arte, leis e política, podem ser vistas como o resultado de um jogo.
O que é um julgamento senão uma espécie de combate fingido no qual as partes substituem o enfrentamento total por um ditado por regras arbitrárias como as de um jogo, mas aceitas de comum acordo por ambos os lados?
O ar de espetáculo, outra característica de jogos, aparece como fóssil nas togas e perucas usadas até hoje por alguns juízes, que, segundo Huizinga, têm função semelhante à das máscaras de xamãs, "transformando-os" em seres distintos.
Observamos algo parecido na política. Em vez de diferentes facções guerrearem até a morte para definir quem manda, elas se batem em eleições que seguem uma coreografia predefinida. O prêmio, isto é, o poder, é conquistado por um período fixo, ao cabo do qual o jogo se reinicia.
Se essa chave interpretativa é correta, nada mais apropriado do que nos dividirmos em grupos que torcem contra e a favor do Brasil.
Se o jogo tem mesmo o caráter civilizatório que Huizinga lhe atribui, este é um momento privilegiado para nos exercitarmos em lidar com diferenças. Paradoxalmente, é porque é só uma brincadeira, ou seja, algo sem tanta importância, que o jogo se tornou tão central para nossa espécie.
Para que, afinal, serve o jogo? Evidências zoológicas sugerem que a brincadeira desempenha um papel fundamental no desenvolvimento dos mamíferos. É jogando, isto é, simulando lutas, caçadas e fugas, que os filhotes aprendem e, divertindo-se, se preparam para a vida adulta.
Isso vale ainda mais para o homem do que para outros animais. O historiador holandês Johan Huizinga (1872-1945), autor do clássico "Homo Ludens", sustenta que a ideia de jogo é central para a civilização.
Para ele, praticamente todas as atividades humanas, incluindo filosofia, guerra, arte, leis e política, podem ser vistas como o resultado de um jogo.
O que é um julgamento senão uma espécie de combate fingido no qual as partes substituem o enfrentamento total por um ditado por regras arbitrárias como as de um jogo, mas aceitas de comum acordo por ambos os lados?
O ar de espetáculo, outra característica de jogos, aparece como fóssil nas togas e perucas usadas até hoje por alguns juízes, que, segundo Huizinga, têm função semelhante à das máscaras de xamãs, "transformando-os" em seres distintos.
Observamos algo parecido na política. Em vez de diferentes facções guerrearem até a morte para definir quem manda, elas se batem em eleições que seguem uma coreografia predefinida. O prêmio, isto é, o poder, é conquistado por um período fixo, ao cabo do qual o jogo se reinicia.
Se essa chave interpretativa é correta, nada mais apropriado do que nos dividirmos em grupos que torcem contra e a favor do Brasil.
Se o jogo tem mesmo o caráter civilizatório que Huizinga lhe atribui, este é um momento privilegiado para nos exercitarmos em lidar com diferenças. Paradoxalmente, é porque é só uma brincadeira, ou seja, algo sem tanta importância, que o jogo se tornou tão central para nossa espécie.
13 de junho de 2014
Hélio Schwartsman, Folha de SP
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