"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

O MELHOR DO PT

 

Vem sendo constante, de dois meses para cá, a queda da presidente Dilma nas pesquisas a respeito da sucessão presidencial. De uma tranquila vitória no primeiro turno, deixando os adversários lá em baixo, ela vê diminuírem seus percentuais a ponto não apenas de precisar enfrentar uma segunda votação, mas, continuando as coisas como vão, de disputar a eleição com Aécio Neves.
O que parecia inadmissível configura-se como hipótese viável, vale repetir, se a tendência não for revertida.
 
Para os detentores do poder, do PT a aliados que resistem em abandonar o barco, seria um desastre. Por isso volta a crescer a proposta de substituição de Dilma pelo Lula, mas mesmo os defensores dessa troca inusitada começam a raciocinar: e se o ex-presidente feito candidato também sofresse o impacto da reviravolta e se encontrasse diante da perspectiva de derrota? Não seria melhor poupá-lo e aguardar 2018? Afinal, para um partido que nasceu e cresceu na oposição, mesmo traumática a perda do poder não seria mortal. Poderia, até, estimular a renovação de seus quadros, afastando companheiros que quando tornados governo perderam a garra de tempos anteriores, trocando a proposta de mudar o Brasil pelas benesses e facilidades do usufruto do governo.
 
Dizia o saudoso dr. Ulysses que pior do que o atual Congresso, só o próximo. Mesmo assim, no PT, começa a germinar o raciocínio de que junto com os esforços para manter a presidência da República, em outubro, é preciso jogar todas as fichas na preservação e até no crescimento de suas bancadas no Congresso. Para isso, no entanto, torna-se necessário o partido reciclar-se. Se não refundar-se, ao menos recuperar o tempo perdido desde a posse do Lula e avançar propostas hoje esmaecidas e até abandonadas.
 
Em vez de continuarem acoplados ao neoliberalismo herdado de Fernando Henrique e seus tucanos, por que não voltar ao período de luta por conquistas sociais caracterizadas por mudanças fundamentais nas instituições vigentes? Que tal pregar a revisão nas privatizações endossadas por Lula e Dilma, fazendo retornar ao patrimônio público a Vale do Rio Doce, a Companhia Siderúrgica Nacional, o sistema ferroviário, as rodovias e os portos entregues à iniciativa privada? Ou limitar a hoje escancarada política de remessa de lucros das multinacionais para suas matrizes, obrigando a reinvestirem no Brasil o que ganharam aqui?
No mínimo duplicar o salário mínimo e restabelecer o salário família em níveis compatíveis com as necessidades dos menos favorecidos? E quanto a libertar a indústria nacional das tenazes internacionais que nos fizeram retornar aos tempos da exclusiva exportação de matéria-prima e da importação de manufaturados? Participação dos empregados no lucro das empresas, cogestão, volta à estabilidade no emprego, proibição de demissões imotivadas.
 
Existem outras necessidades ditadas pelo avanço da tecnologia e da ciência: produção estatal de medicamentos populares a preços módicos, transportes públicos gratuitos, punição aos abusos dos planos de saúde, transformação de estádios de futebol em universidades durante a semana, obrigação de as montadoras produzirem caminhões, ônibus e tratores na proporção em que produzem veículos de passeio, incentivo às pesquisas e quanta coisa a mais, que as elites logo rotularão de anacrônicas e ultrapassadas, mas tão necessárias quanto a roda, depois de tantos milênios de sua invenção?

13 de junho de 2014
Carlos Chagas

Nenhum comentário:

Postar um comentário