Torcida faz a sua parte e, mesmo com algum grau de desencanto com o legado da Copa, incentiva a seleção. Equívocos do poder público são lições para eventos futuros
A bola, enfim, começa a rolar hoje, no Itaquerão, para uma Copa do Mundo que se inicia já com marcas dignas de registro. Até o dia 13 de julho, quando será disputada a final no Rio de Janeiro, a competição terá sido a competição de futebol mais vista do planeta.
Em razão do ritmo alucinante de multiplicação dos meios individuais de comunicação (smartphones e outros dispositivos), que se juntam às transmissões oficiais das redes de TV, estima-se que 3,6 bilhões de pessoas em todo o mundo acompanharão os jogos, aumento significativo de audiência em relação a 2010, quando 3,2 bilhões assistiram às partidas na África do Sul. É uma plateia de mais da metade da população da Terra.
Outra peculiaridade é que o Maracanã se tornará, ao lado do Estádio Azteca, no México, o segundo estádio a receber duas finais do Mundial de seleções. O Brasil esperou 64 anos para voltar a sediar o evento, e o fará, é o que se espera, à altura de sua magnitude. Vista apenas pelos viés esportivo, a Copa tem tudo para ser o palco de uma grande conquista da seleção brasileira, que busca o hexa com apoio crescente da torcida. A ver. Mesmo fora de campo, o direito de sediar a competição trouxe benefícios para as cidades-sede. Ampliaram-se ou construíram-se estádios, houve avanços por conta de investimentos em infraestrutura e, não menos importante, o país consolidou-se como opção real para abrigar grandes eventos internacionais. Mas foi também fora das quatro linhas que se acumularam maus passos — que, se não inviabilizaram, são responsáveis por um certo, e impensável, desencanto do país do futebol com a sua Copa. Nesse sentido, independentemente de a seleção vir a colher bons ou maus resultados, e a despeito da inegável grandeza dos números resultantes da Copa, seu legado terá sido marcado também por nódoas. A começar pelo voluntarismo e pela megalomania lulopetistas, ainda nos primeiros momentos de organização do evento, quando idealizou uma competição com inchadas 14 cidades-sede (número depois reduzido para 12, ainda assim inflado), indisfarçável tentativa de ampliar os palanques para a candidata Dilma desfilar.
Também fica espetada na fatura dos maus serviços a incompetência gerencial de diversas instâncias do poder público (federal, estadual e municipal), que não deram conta de cumprir com o cronograma de intervenções urbanísticas, uma falha grave, da qual a ampliação/modernização da mobilidade urbana inconclusa é a imagem mais visível. Por fim, perpassando tais equívocos, e os potencializando, a densa burocracia que atravancou investimentos e deu espaços à corrupção.
Mas, jogo jogado, a Copa está aí, e é com alegria e confiança que a torcida aguarda o pontapé inicial de logo mais. No entanto, lições ficaram. O poder público tem o dever de terminar as obras inacabadas e, não menos importante, no caso do Rio, aprender com os erros e se redimir a tempo de evitá-los daqui até 2016, nas Olimpíadas.
A bola, enfim, começa a rolar hoje, no Itaquerão, para uma Copa do Mundo que se inicia já com marcas dignas de registro. Até o dia 13 de julho, quando será disputada a final no Rio de Janeiro, a competição terá sido a competição de futebol mais vista do planeta.
Em razão do ritmo alucinante de multiplicação dos meios individuais de comunicação (smartphones e outros dispositivos), que se juntam às transmissões oficiais das redes de TV, estima-se que 3,6 bilhões de pessoas em todo o mundo acompanharão os jogos, aumento significativo de audiência em relação a 2010, quando 3,2 bilhões assistiram às partidas na África do Sul. É uma plateia de mais da metade da população da Terra.
Outra peculiaridade é que o Maracanã se tornará, ao lado do Estádio Azteca, no México, o segundo estádio a receber duas finais do Mundial de seleções. O Brasil esperou 64 anos para voltar a sediar o evento, e o fará, é o que se espera, à altura de sua magnitude. Vista apenas pelos viés esportivo, a Copa tem tudo para ser o palco de uma grande conquista da seleção brasileira, que busca o hexa com apoio crescente da torcida. A ver. Mesmo fora de campo, o direito de sediar a competição trouxe benefícios para as cidades-sede. Ampliaram-se ou construíram-se estádios, houve avanços por conta de investimentos em infraestrutura e, não menos importante, o país consolidou-se como opção real para abrigar grandes eventos internacionais. Mas foi também fora das quatro linhas que se acumularam maus passos — que, se não inviabilizaram, são responsáveis por um certo, e impensável, desencanto do país do futebol com a sua Copa. Nesse sentido, independentemente de a seleção vir a colher bons ou maus resultados, e a despeito da inegável grandeza dos números resultantes da Copa, seu legado terá sido marcado também por nódoas. A começar pelo voluntarismo e pela megalomania lulopetistas, ainda nos primeiros momentos de organização do evento, quando idealizou uma competição com inchadas 14 cidades-sede (número depois reduzido para 12, ainda assim inflado), indisfarçável tentativa de ampliar os palanques para a candidata Dilma desfilar.
Também fica espetada na fatura dos maus serviços a incompetência gerencial de diversas instâncias do poder público (federal, estadual e municipal), que não deram conta de cumprir com o cronograma de intervenções urbanísticas, uma falha grave, da qual a ampliação/modernização da mobilidade urbana inconclusa é a imagem mais visível. Por fim, perpassando tais equívocos, e os potencializando, a densa burocracia que atravancou investimentos e deu espaços à corrupção.
Mas, jogo jogado, a Copa está aí, e é com alegria e confiança que a torcida aguarda o pontapé inicial de logo mais. No entanto, lições ficaram. O poder público tem o dever de terminar as obras inacabadas e, não menos importante, no caso do Rio, aprender com os erros e se redimir a tempo de evitá-los daqui até 2016, nas Olimpíadas.
13 de junho de 2014
Editorial O Globo
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