Ampliam-se os indícios de que a Petrobras deve ser investigada logo, sem manobras protelatórias, por uma CPI do Senado.
Nem bem o país sepultou um grande escândalo de corrupção, com a condenação e prisão de políticos envolvidos no mensalão, e já surge outro de proporções igualmente alarmantes. Documentos aprendidos pela Polícia Federal na casa do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa registram um esquema de financiamento de campanhas eleitorais detalhado, que beneficiou predominantemente partidos da base aliada do governo. As doações de empresas que tinham e têm contratos com a Petrobras, conforme as planilhas apreendidas, iam para políticos e partidos contemplados no aparelhamento da estatal, fechando-se um ciclo de benefícios mútuos com recursos que pertencem aos contribuintes e acionistas.
Costa era arrecadador de comissões, como dono de uma empresa de consultoria, desde 2012, quando deixou a direção de Abastecimento e Refino da estatal. Claramente sustentava os contatos e os negócios suspeitos no histórico de influências que teve e ainda deve ter na empresa em que atuou por oito anos. Se o tráfico de influência, com danos para uma empresa controlada pelo governo, não é motivo para a instalação de uma CPI, o que deve ser decidido nesta terça-feira, nada mais é.
O problema é que muitos dos parlamentares envolvidos na decisão de criar ou não a comissão têm vínculo direto com os partidos beneficiados e com o próprio governo. Basta observar, por exemplo, que um dos maiores beneficiários das doações suspeitas, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), foi quem convocou a presidente da Petrobras, Graça Foster, para depor no Senado nesta terça, com o propósito claro de barrar a CPI. Graça Foster vai à Comissão de Assuntos Econômicos com a missão, determinada pelo Planalto, de dizer que tudo que se passa na estatal está dentro da normalidade.
Teria sido normal a controversa compra da refinaria de Pasadena, que custou mais de US$ 1 bilhão, sem garantia de retorno do investimento. Também é encarado normalmente o envolvimento do já citado Costa com a mesma negociação e com um doleiro que está preso. E não haveria nada de estranho no fato de que, com sérios problemas de gestão, a empresa perdeu, nos últimos quatro anos, metade do valor de mercado.
Há na Petrobras uma combinação de gestão temerária com indícios de delitos graves. O esforço de todos deve ser pela preservação de um patrimônio do país. Nesse sentido, tem razão a presidente Dilma Rousseff, quando afirmou ontem que a estatal não pode ter sua imagem arranhada. Mas há um reparo a fazer.
A presidente entende que o prestígio da Petrobras está sendo ameaçado pelas denúncias feitas sobre sua situação econômica e financeira. Na verdade, a administração errática, e não os que apontam tal situação, é a responsável pelo desalento de acionistas e cidadãos em geral. O esclarecimento da situação da empresa passa pelas investigações já em andamento, pelas sindicâncias que o Senado tem o direito de realizar e pelo fim das manobras protelatórias e diversionistas articuladas pelo governo.
16 de abril de 2014
Editorial Zero Hora
Nem bem o país sepultou um grande escândalo de corrupção, com a condenação e prisão de políticos envolvidos no mensalão, e já surge outro de proporções igualmente alarmantes. Documentos aprendidos pela Polícia Federal na casa do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa registram um esquema de financiamento de campanhas eleitorais detalhado, que beneficiou predominantemente partidos da base aliada do governo. As doações de empresas que tinham e têm contratos com a Petrobras, conforme as planilhas apreendidas, iam para políticos e partidos contemplados no aparelhamento da estatal, fechando-se um ciclo de benefícios mútuos com recursos que pertencem aos contribuintes e acionistas.
Costa era arrecadador de comissões, como dono de uma empresa de consultoria, desde 2012, quando deixou a direção de Abastecimento e Refino da estatal. Claramente sustentava os contatos e os negócios suspeitos no histórico de influências que teve e ainda deve ter na empresa em que atuou por oito anos. Se o tráfico de influência, com danos para uma empresa controlada pelo governo, não é motivo para a instalação de uma CPI, o que deve ser decidido nesta terça-feira, nada mais é.
O problema é que muitos dos parlamentares envolvidos na decisão de criar ou não a comissão têm vínculo direto com os partidos beneficiados e com o próprio governo. Basta observar, por exemplo, que um dos maiores beneficiários das doações suspeitas, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), foi quem convocou a presidente da Petrobras, Graça Foster, para depor no Senado nesta terça, com o propósito claro de barrar a CPI. Graça Foster vai à Comissão de Assuntos Econômicos com a missão, determinada pelo Planalto, de dizer que tudo que se passa na estatal está dentro da normalidade.
Teria sido normal a controversa compra da refinaria de Pasadena, que custou mais de US$ 1 bilhão, sem garantia de retorno do investimento. Também é encarado normalmente o envolvimento do já citado Costa com a mesma negociação e com um doleiro que está preso. E não haveria nada de estranho no fato de que, com sérios problemas de gestão, a empresa perdeu, nos últimos quatro anos, metade do valor de mercado.
Há na Petrobras uma combinação de gestão temerária com indícios de delitos graves. O esforço de todos deve ser pela preservação de um patrimônio do país. Nesse sentido, tem razão a presidente Dilma Rousseff, quando afirmou ontem que a estatal não pode ter sua imagem arranhada. Mas há um reparo a fazer.
A presidente entende que o prestígio da Petrobras está sendo ameaçado pelas denúncias feitas sobre sua situação econômica e financeira. Na verdade, a administração errática, e não os que apontam tal situação, é a responsável pelo desalento de acionistas e cidadãos em geral. O esclarecimento da situação da empresa passa pelas investigações já em andamento, pelas sindicâncias que o Senado tem o direito de realizar e pelo fim das manobras protelatórias e diversionistas articuladas pelo governo.
16 de abril de 2014
Editorial Zero Hora
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